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A triste história dos filmes perdidos

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A triste história dos filmes perdidos

Conheça um pouco sobre a triste história do filmes perdidos. De como grandes clássicos da nascente história do cinema podem estar perdidos para sempre.

Ou apenas esperando empoeiradas no porão de um colecionador para serem redescobertas e restauradas para o mundo.

Uma história sobre os filmes perdidos

Hoje tido como uma das mídias mais lucrativas de entretenimento e um marco cultural e histórico da cultura pop. O cinema em seu nascimento era mais uma aposta cega numa nova tecnologia para se contar pequenas histórias.

Por isso, diversos estúdios e cineastas independentes correram para fazer todo tipo de pequenos truques e narrativas. Para eles, tal mídia era algo descartável. Algo para ser assistido na semana e ser esquecida por outra novidade.

A falta de preservação dos primeiros filmes perdidos

Alguns dos primeiros rolos de filmes eram feitos a base de prata. Posto que sua matéria prima era de alto valor, e com possibilidade de reciclagem, antigos rolos foram derretidos, vendidos e reutilizados.

Por outro lado, outros rolos eram produzidos a base de nitrato de celulose, material altamente inflamável, proporcionando riscos para amazenação e vítimas fáceis de mofo, bolor e outras formas de deteriorização.

Dessa forma, é considerado que por volta de 80 a 90% dos filmes mudos das primeiras décadas do cinema estão perdidas para sempre. Não só muitos filmes simplistas e descartáveis, pode ser. Mas também grandes obras, clássicos e atuações perdidas de atores posteriormente consagrados.

James Rolfe (Angry Videogame Nerd) do canal Cinemassacre e o canal Dark Cornes Review fizeram uma seleção impressionante dos principais filmes da época que foram perdidos. Quem estiver com o inglês em dia eu recomendo fortemente ambos os vídeos.

Para os que tiverem dificuldade com o idioma, deixo algumas recomendações:

Lon Chaney

Conhecido como “O homem das mil faces” devido as suas habilidades de atuação e maquiagem de formas bizarras e grotescas. Lon Chaney fez história no cinema ao interpretar Quasimodo na versão de 1923 de “O Corcunda de Notre Dame” e o fantasma de “O Fantasma da Ópera” (1925).

Porém, a maior parte do seu trabalho se encontra perdida. Os destaques vão para “London After Midnight”, um filme que hoje só sobreviveu algumas fotos de Chaney com a maquiagem. E a versão com som de O Fantasma da Opera, onde a versão atual é um compilado de diversas cenas e regravações perdidas.

A Trilogia Golem

Baseado num mito judaico de uma criatura de terra que é nascida após escreverem palavras sagradas em sua fronte, de forma a proteger a pequena comunidade judaica do antissemitismo. Golem teve três filmes feitos em sua homenagem, do qual apenas o último ainda sobrevive.

O primeiro, que temos hoje alguns minutos de filme resgatados, narra a criatura, criada na Idade Média, sendo ressuscitada séculos depois na modernidade. O segundo, completamente perdido, parecia ser uma sátira do filme original.

Já o terceiro, que é o que temos disponível para assistir, é uma pré-sequencia, mostrando a criação da criatura na Idade Média. Os três filmes foram dirigidos e atuados pela mesma pessoa, Paul Wegener. Pioneiro do cinema expressionista alemão.

Os primeiros filmes de Alfred Hitchcock 

Hoje um diretor aclamado por suas sequências de sufocante suspense, e dramas cheios de conflitos e drama. Hitchcock teve um começo difícil como cineasta na Inglaterra e Alemanha das décadas de 20 e 30.

Talvez por isso que tantos filmes do diretor desse período estão hoje perdidos, existe essa lista (em inglês) sobre alguns dos filmes perdidos. Mas o que parece buscar mais curiosidade dos fãs é o filme “The Mountain Eagle” (a águia da montanha em tradução literal) de 1926.

O filme foi um melodrama romântico sobre uma família caipira americana (apesar de ser gravado nos alpes por um elenco austríaco) que sofreu com vários problemas de produção. Com desastres, nevascas e Hitchcock enfrentando medo de altitudes.

Georges Méliès

Famoso pelos curtas “Uma Viagem a Lua” e “A Mansão do Diabo” (um dos primeiros filmes de ficção científica e terror respectivamente). Georges Méliès foi um ilusionista francês e prolífico diretor no nascimento do cinema.

Aproximadamente, apenas 200 dos seus 500 filmes produzidos se mantêm salvos do esquecimento. Com gêneros que variam da comédia, fantasia, documentários e até filmes eróticos que não puderam ser preservados. Deixando o cinema orfão de um dos seus primeiros criadores.

F. W. Murnau

O diretor é conhecido principalmente por Nosferatu (1922) no expressionismo alemão e Sunrise (1927) em seu trabalho hollywoodiano. Porém há um sem número de filmes diferentes com a assinatura de Murnau, muito deles perdidos.

Um deles, “O Busto de Janus” foi uma adaptação disfarçada de O Médico e o Monstro (como já comentei nesse artigo) da mesma forma que Nosferatu é de Drácula.

Os seus seis primeiros filmes também estão perdidos, mas o destaque vai para “4 Devils” (4 diabos), seu segundo filme americano após o estrondoso sucesso de Sunrise.

Sua história fala de 4 órfãos que vivem no circo, criados por um velho palhaço e foi um absoluto sucesso de crítica.

Os Monstros da Universal

A Múmia (1932) e Frankenstein (1931) com Boris Karloff, O Drácula (1931) com Bela Lugosi e o Lobisomem (1941) com Lon Chaney Jr. foram imortalizados no que hoje chamamos de Universo de Monstros dos Estúdios Universal. Ainda assim, cada um deles tiveram aparições anteriores no cinema mudo, hoje perdidas.

A Múmia (1911) e a A Vingança do Egito (1912), O Lobisomem  de 1913, Life Without a Soul (vida sem alma em tradução literal)  de 1915, sendo uma versão levemente baseada em Frankstein (que teria um filme em 1910 que fora reencontrado) e A Morte de Drácula em 1921.

Uma história perdida

Navegar sobre a história dos filmes perdidos na pele de um historiador devoto a analisar e revisar obras do entretenimento e cultura pop é se sentir privado da História.

Saber que uma parte desses registros de grandes obras e trabalhos extraordinários da criatividade e intelecto humano podem estar para sempre perdidos, é de cortar o coração.

Por isso fica o meu desejo para que estes filmes sejam reencontrados, tais quais outros filmes antes perdidos na história o foram. E que possamos entrar em contato com esse passado tão fértil do nascimento do cinema.

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