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Expressionismo Alemão, uma breve história

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Expressionismo Alemão
Expressionismo Alemão

Dia 26 de fevereiro foi comemorado o centenário do filme “O Gabinete do Doutor Caligari.” Filme responsável por popularizar o Expressionismo Alemão, primeiro movimento cinematográfico que aspiraria o cinema ao seu lugar como expressão artística. Venha conhecer um pouco sobre esse movimento que revolucionou a forma de se fazer cinema. Com direito a links para assistir os filmes online!

 

Um movimento cinematográfico no berço do cinema

Antes, é necessário pincelar um pouco sobre a história do cinema e o Expressionismo Alemão nesse contexto. O cinema ainda engatinhava como mídia narrativa, seus conceitos mais básicos foram definidos cinco anos antes com “O Nascimento de uma Nação”.

Não havia uma década desde que filmes passassem a serem feitos em longa metragem, em detrimento dos curtas metragens, famosos no início do século. Como por exemplo os curtas do cineasta francês Georges Méliès e os criados pela indústria cinematográfica de Thomas Edison nos EUA.

 

O Expressionismo Alemão nas artes

Antes de ser refletido no cinema, o expressionismo já dominava as principais formas artísticas da Europa Central desde o começo do século, tendo como influências o impressionismo e a arte africana. Foi fundado pelos os grupos Die Brücke e Der Blaue Reiter (o segundo, formado por imigrantes russos na Alemanha que foram rejeitados pelo primeiro grupo). 

Uma das principais características da arte expressionista era o mergulho no subconsciente do artista e a prevalência do subjetivo frente ao objetivo. Uma resposta energética ao realismo do século XIX e bastante influenciado pelo estudo do inconsciente de Sigmund Freud e da subjetividade de Nietzsche.

expressionismo alemãoExpressionismo Alemão no Cinema

É em uma Alemanha arruinada pelo pós guerra que estilo cinematográfico iria nascer. Com influências do movimento artístico de mesmo nome, o expressionismo alemão também valorizaria o subjetivo e o onírico, a saber, o irreal e o imaginário, frente ao realismo de filmes semi documentários ou históricos que prevaleciam na Europa.

Para entender os seus principais elementos narrativos e estéticos, irei fazer uma pequena análise dos principais filmes desse movimento cultural.

Um Estudante em Praga (1913)

O primeiro sucesso do movimento artístico seria “O Estudante de Praga”, narrando a história de um estudante apaixonado por uma condessa que, devido a sua classe social, decide fazer um acordo financeiro com um poderoso feiticeiro por dinheiro, em troca de “qualquer coisa que o feiticeiro possa encontrar em seu quarto”. Sabendo do seu estado de pobreza, o jovem decide aceitar o acordo por saber que não tinha nada de valor em sua posse.

Porém o feiticeiro rouba o reflexo do jovem, criando assim um doppelgänger, monstro da mitologia germânica que tem a mesma forma de outra pessoa, que assombra a existência do estudante no decorrer da história. O filme tem grande influência da também folclórica figura germânica de Fausto, famoso por diversas interpretações em variadas mídias, como a poesia épica de Goethe e a sátira cômica em Chapolim.

Der Golem (1914, 1917, 1920)

Uma complexa trilogia onde dois dos seus filmes se consideram perdidos. Dirigida e atuada por Paul Wegener, figura importante na cinematografia expressionista alemã. Considerando que ele havia estrelado também no longa “Estudante de Praga”.

Todas as histórias giram em torno da mitológica figura de tradição judaica do Golem, um ser de barro criado por um rabino para proteger a comunidade judaica do antissemitismo. Uma história emblemática considerando a ascensão do nazismo na Alemanha que ocorreria nas décadas de 20 e 30, e culminaram na segunda guerra mundial.

O Gabinete do Doutor Caligari (1920)

Obra que está completando um centenário em fevereiro. O filme começa sua narrativa através de um longo flashback do protagonista, onde ele se recorda da visita de um hipnólogo em sua cidade chamado Doutor Caligari e de Cesare, um sonâmbulo que pode prever o futuro, prevendo a morte de pessoas que mais tarde amanheceram mortas. 

A história avança conforme Francis coloca a cidade contra o doutor e seu sonâmbulo, causando o sequestro de sua noiva por Cesare, que seria morto pela turba popular. É após uma perseguição de Francis contra Caligari que os levaria para um hospício, onde descobrimos que toda a história se passa na mente adoecida de Francis, internado num hospício por seus delírios.

É este o filme que mais densamente mergulha nos elementos que tornaram o expressionismo alemão no fenômeno cinematográfico. O filme oferece uma narrativa completa e distorcida através do olhar de uma mente insana, onde as formas e paisagens cenográficas distorcidas e pontiagudas representam o desgaste mental e a falta de credibilidade do louco narrador.

Diversos elementos narrativos do longa foram considerados revolucionários e usados até os dias de hoje. Podendo se enumerar elementos como a história através de um flashback do protagonista, um flashback dentro de outro flashback, o monstro que se apaixona pela mocinha (elemento já usado no livro Fantasma da Ópera de 1910, mas não no cinema) e do narrador não confiável.

Nosferatu (1922)

Criado originalmente para ser uma adaptação do romance Drácula de Bram Stoker. Entretanto, o filme teve de sofrer mudanças em sua narrativa e personagens para evitar um processo pelos familiares do escritor. 

F. W. Murnau já havia feito algo do tipo em sua pseudo adaptação de “O Médico e o Monstro” de Louis Stevenson chamado “A Cabeça de Janus.” Hoje considerado perdido, o filme aborda a troca de personalidade do personagem não devido uma poção química misteriosa, mas ao busto de Jano, deus romano das mudanças e transições.

Assim como sua contraparte literária, Nosferatu faz um paralelo interessante com a xenofobia e o antissemitismo. Em especial ao tratar de uma obra no período entre-guerras da Alemanha.

Metrópolis (1927)

O último grande filme do gênero, Metrópolis trata de uma distopia futurista e tecnológica com uma abismal diferença de classes. Mergulhado densamente em influências da pintura cubista, design Balhaus e da arquitetura gótica. Em contraste com os filmes anteriores do expressionismo alemão, Metrópolis se distancia do ambiente de terror para se aproximar da ficção científica. Sendo um dos primeiros longa metragens do gênero.

Incontáveis obras seriam influenciadas pelo filme no futuro. Um exemplo disso seriam filmes que variam de Charlie Chaplin, Star Wars e Batman (1989) e até mesmo um clipe da banda Caravan Palace, como já comentei nesse texto.

Ainda sim, o filme foi duramente criticado em parte por sua mensagem socialista de guerra de classes e por sua suposta simplicidade narrativa. Dentre seus seus críticos, estavam o aclamado escritor de ficção científica H. G Wells. Entretanto, hoje Metrópolis é considerado um dos grandes filmes da história do cinema e matéria obrigatória para todas as pessoas que estudam sobre cinema. 

 

O fim do Expressionismo Alemão e suas influências

Com a queda da República de Weimar e a Ascensão da Alemanha Nazista, o cinema alemão teve uma grande fuga de mentes para o cinema americano. Por essa razão seus temas foram vigorosamente censurados pelo novo regime.

Porém a influência cinematográfica do movimento artístico foi notável no cinema americano. A temática nefasta e assustadora, bem como elementos de monstros clássicos da literatura, iriam influenciar diretamente o universos de monstros de terror dos estúdios Universal. Como por exemplo o Fantasma da Ópera (1925), Drácula (1931), Frankstein (1931), A Múmia (1932) e até mesmo parte do terror nacional, como em Zé do Caixão, como disse aqui.

Simultaneamente, outro movimento americano que muito tomaria emprestado do expressionismo alemão seria o film noir. Por razão de sua cinematografia de alto contraste, moralidade ambígua e narradores não confiáveis.

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