Início Cinema e Séries O horror existencial em Tusk (2014) de Kevin Smith

O horror existencial em Tusk (2014) de Kevin Smith

6032
0
COMPARTILHAR
O horror existencial em Tusk (2014) de Kevin Smith

Criado como quase como uma piada no podcast de Kevin Smith, Tusk nos trás um horror existencial com uma dose carregada de humor negro. Ainda que o filme tenha fracassado em bilheteria e boa parte da crítica, ainda acho que o filme mereça atenção. Veja por quê!

Kevin Smith para uma nova geração

É até estranho ter de fazer um parágrafo apresentando Kevin Smith nesse post. O famoso roteirista e cineasta já foi o maior símbolo da juventude, ao dirigir de forma independe (e atuar) em filmes como Clerks e Mallrats e tudo que envolve o “View Askewniverse”.

Smith também teve sucesso ao roteirizar diversas histórias em quadrinhos, sendo o arco “O Diabo da Guarda” do Demolidor, um dos meus favoritos.

De fato, muita coisa que hoje é sagrada na cultura nerd é um eco no trabalho de Smith, como a devoção a Star Wars e as participações cinematográficas de Stan Lee. Talvez eu faça um post só sobre ele.

Nascido de uma piada

Em seu podcast nomeado “SModcast“, Smith discutiu com seu amigo e produtor Scott Mosier sobre a história de um anúncio, onde o dono da casa alugaria um quarto de graça se o hóspede aceitasse ficar o tempo todo com uma fantasia de uma morsa.

Após quase uma hora de especulação numa conversa cheio de risadas, Smith sugeriu para que seus fãs subissem hashtags no twitter para decidir se o filme deveria sair ou não. Com uma rápida adesão ao conceito.

Uma vez o projeto alcançando alguma fama, foi descoberto que o anúncio era uma pegadinha do poeta Chris Parkinson que aceitou participar do projeto como produtor associado do longa.

Um resumo de Tusk

Dois amigos comandam um podcast chamado “Not-See Party” (traduzido para “festa não vista”, mas que serve como um trocadilho para “partido nazista”) onde eles encontram e resenham vídeo virais de pessoas em situações humilhantes.

O último sucesso do programa, um garoto que cortou a perna tentando homenagear o filme Kill Bill, aceita dar uma entrevista para um dos apresentadores. Porém, após um dos apresentadores decidir ir até o Canadá para visitá-lo, pouco depois de chegar na cidade, o garoto decide tirar a sua própria vida.

Decidido a não perder a viagem, o protagonista procura por algum estranhão na região que faça a visita valer a pena. Felizmente, observa no anúncio do banheiro de um bar um marinheiro aposentado que oferece estadia gratuita para aqueles que escutarem suas histórias do mar.

Uma completa comédia de terror

Considero, ao menos por mim, como gêneros completamente opostos. È muito difícil encontrar um balanço entre os dois gêneros.

Por vezes encontramos filmes de comédia com temáticas de terror (Gremlins, Todo Mundo em Pânico) ou filmes de terror com algum aspecto exagerado de violência que beiram o ridículo, como Evil Dead 2/Army of the Darkness e Shawn of the Dead.

Em Tusk, consegui ver esse elemento bastante equilibrado, com o começo do filme bastante focado na comédia adolescente (arte que Smith passou décadas aprimorando) com uma metade final puxada ao horror psicológico e corpóreo, com o humor servindo quase como uma pitada sarcástica a trágica situação do protagonista.

Esse balanço entre terror existencial e comédia foi muito bem utilizada em “Corra!” (lançado 3 anos após de Tusk) e, me processem, muito melhor executado do que em Nós, também dirigido por Jordan Peele.

A desumanização do ser humano

Sem incorrer muito a spoilers, o que mais me perturbou no longa foi a descida a desumanização do protagonista enquanto seu corpo fora lentamente deformado.

Mesmo que feito com altas doses de humor negro e nonsence, a transformação que, pode se dizer, é quase uma paródia de “Pele que Habito”, trás um questionamento mais animalesco sobre o limite do ser humano e sua degradação moral e intelectual.

O final, onde o corpo transformado é obrigado a olhar de longe as pessoas que foram importantes na sua vida e estão fazendo o possível para continuar sem ele, é algo quase sufocante.

Um filme com falhas

Ainda que eu tenha gostado bastante do filme, é difícil negar que ele tem falhas notáveis. A mais descarada certamente é o personagem de Johnny Deep, que praticamente arrasta o filme toda vez que ele está em cena, falando com seus maneirismos irritantes. Narrativamente, tudo que ele trouxe a história poderia ser desenvolvido ou pela namorada de Wallace ou por Teddy.

Outro defeito seja talvez seja pra preservar o aspecto de “filme b”. Mas as vezes a maquiagem e roupa que Wallace usa faz movimentos estranhos que destroem o pouco que resta de suspensão de descrença.

Rechaçado pela crítica e bilheteria

Ainda sim, considero o filme uma baita experiência de horror corpóreo (body horror). Com uma perturbadora camada de horror psicológico. Bem temperada com o humor millenial que já é clássico nos filmes do Kevin Smith.

Porém continuo sem entender o fracasso de bilheteria que foi o filme e como boa parte da crítica também desprezou o longa. Talvez por esperarem um filme leve, divertido e satírico como é boa parte do trabalho de Smith.

Outra coisa que me surpreendeu foi o aspecto desconhecido desse filme, considerando o elenco presente no mesmo.

De qualquer forma, fica a minha recomendação para uma experiência bizarra de cinema que não tem a atenção merecida.

LEIA MAIS

Mortal Kombat (2021) diverte, mas não impressiona

A Bruxa (2016) e o horror psicológico

Religiosidade, ambientalismo e feminismo em Mother (2017)

Facebook Comments

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here