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Teoria da Internet Morta: Esquizofrenia e Nostalgia

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Teoria da Internet Morta Esquizofrenia e Nostalgia

Em uma das muitas vezes que fiquei vagando perdidamente pelos lados obscuros da internet. Procurando algo bizarro para me fascinar e ficar obcecado. Esbarrei em algo que me chamou a atenção logo no título: “Dead Internet Theory” (Teoria da Internet Morta).

Pelo título, minha mente habituada com narrativas de ficção científica e terror já começaram a percorrer pelas inúmeras possibilidades do que poderia a ser isso. Uma creppypasta sobre um futuro distópico? Uma releitura do episódio San Junipero do Black Mirror?

Mal pude conter minha animação ao clicar no vídeo do youtube e perceber que estava a embarcar novamente num “rabbit hole” (toca de coelho, na tradução literal) que iria novamente mexer com a minha cabeça.

Resumindo a teoria da internet morta

Para você que não tem mais de uma hora para perder em um vídeo em inglês sem legendas. Vou tentar resumir em alguns parágrafos sobre o que é essa teoria. Caso você tenha, o vídeo está logo abaixo

Basicamente a ideia é de que a internet que nós usamos está morta, há pelo menos uma década. Tudo o que interagimos hoje é fabricado, otimizado e controlado por algoritmos, e programas automatizados de interação com usuários (bots).

Seja as pessoas que você discute em fóruns e redes sociais, ou os comentários preconceituosos e ofensivos nos comentários do youtube e portais de notícias. Ainda pior, todo o conteúdo que você consome: Seja música, séries, filmes e literatura. Tudo é otimizado e automatizado por programas de computador, nada mais é real.

Ao fazer o caminho INVERSO (e menos traumatizante) que eu fiz, irei primeiro descrever os problemas com essa teoria, de como algumas das preocupações são exageradas. Porém, no final, irei falar um pouco de como elas são, de alguma forma, válidas.

Como saber se somos a única pessoa que pensa?

Talvez a primeira falha que primeiro salta os olhos quando você realmente para pra pensar no assunto. Que tipo de mente egocêntrica pode criar a ideia de que é a única pessoa real num mundo digital.

Esse conceito já foi explorado na filosofia desde Aristóteles e Descartes, e foi melhor explorada sob os nomes de Ludwig Wittgenstein e Thomas Nagel. O termo é conhecido como “o problema das outras mentes” que se resume principalmente em: Como podemos ter certeza de que existe qualquer racionalidade além de nossa própria mente?

Infelizmente a pergunta não tem uma resposta definitiva, e a discussão sobre esse tema está muito além das minhas capacidades e conhecimentos básicos de filosofia, por isso os convido para lerem os artigos “O PROBLEMA DAS OUTRAS MENTES E AS CONSEQUÊNCIAS DE UM SOLIPSISMO E UM CETICISMO” e “UMA POSSÍVEL SOLUÇÃO AO PROBLEMA DAS OUTRAS MENTES“.

De qualquer forma a ideia de que você individualmente é a única pessoa “real” na internet é uma evolução desse problema milenar filosófico com um agravante: Em fóruns da internet, nem sempre temos um vídeo, imagem e as vezes nem mesmo um nome para atribuir a pessoa com qual estamos interagindo.

Toda essa interatividade digital leva a alimentar um sentimento muito único de paranoia e artificialidade, o que me leva justamente ao próximo ponto.

Esquizofrenia

Eu, e nem mesmo a comunidade psiquiátrica, tem respostas definitivas sobre a esquizofrenia, seus sintomas e o que a causa. Mas não é necessário um trabalho extenso de campo para perceber como os fóruns de teoria da conspiração são ambientes frutíferos para pessoas que demonstram os sintomas de psicoses e outras neuro divergências.

Eu não sei se o formato de fóruns de discussões é a mídia do qual as pessoas que sofrem desse mal se sentem melhor para divulgar seus pensamentos, ou se a bolha social de paranoia e perseguição constante alimenta essa sensação nociva a mente.

De qualquer forma, ao lidarmos com esse tipo de questionamento, que por vezes podem nos levar a uma espiral de auto sabotagem e auto questionamento, é sempre importante colocarmos as coisas sob perspectiva. Colocar os pés na realidade novamente.

Nem sempre a resposta mais simples é: O mundo todo é uma grande conspiração pronta para nos pegar. É algo importante de ter na mente quando nos afundamos nesse tipo de mentalidade.

Portanto, vamos ao próximo passo:

Nostalgia

De fato, não há duvidas que a internet hoje, é muito diferente do que fora há uma década atrás. Aliás, era ainda mais diferente do que a década anterior.

Portanto, há um fator claro de nostalgia nas linhas escritas onde essa teoria fora primeiramente desenvolvida e divulgada. Há um sentimento de saudade de uma interação digital quase idealizada de um passado distante onde as pessoas agiam diferente e tudo era mais dinâmico.

Antes de mais nada, é importante falar que o fórum principal onde essa ideia foi divulgada fora o Agora Road’s Macintosh Cafe. A saber, um fórum todo em estética retro vaporwave que privilegia uma política de liberdade de expressão contra o politicamente correto.

A ideia de romantizar o passado é um conceito natural da psicologia humana, que tende a reter as melhores memórias de uma situação no passado. Enquanto omite as sensações ordinárias e comuns do dia a dia. Assim como memórias ruins e traumáticas são apagadas pela mente, como forma de auto defesa intelectual.

Dessa forma, para um melhor desenvolvimento dessas duas ideias, recomendo demais esse vídeo falando sobre nostalgia e o problema de outras mentes:

Teoria da Internet Morta: O que há de verdade sobre isso?

Ainda que considerando essas hipóteses, devo dizer que algumas coisas na teoria da internet morta realmente me incomodam.

Por isso, irei separar um novo texto para explicar por que a Internet, algo que era um conceito de liberdade e fluxo de criatividade e diversidade. Por outro lado, foi perdida em nome de grandes corporações e algoritmos atualizados.

Aliás, o motivo que me desmotivou de criar conteúdo para o blog foi justamente este. Esse sentimento que o mundo hoje não permite uma única pessoa vivendo do seu processo criativo.

Que “produção de conteúdo” (uma palavra conceito que se explica sozinho) deve ser otimizado para agradar algoritmos. Não para se expressar de forma natural e genuína. Sobre isso, nos vemos no próximo artigo.

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