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É possível uma fantasia fora de Tolkien?

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É possível uma fantasia fora de Tolkien

É possível uma fantasia fora de Tolkien? Ou será que o mundo da fantasia na escrita criativa contemporânea foi contaminado de tal forma, que qualquer outra possibilidade é descartada?

Texto originalmente publicado no blog da Editora Cyberus e no prefácio da antologia Espada e Feitiçaria da mesma editora. Antologia essa que eu selecionei os contos participantes e ajudei na organização.

É possível uma fantasia fora de Tolkien?

Quando hoje falamos do gênero fantasia, as primeiras imagens que brotam no imaginário popular parecem ser de dragões, elfos e distantes reinos mágicos. Ao falarmos de fantasia na literatura, aí então que a pesada sombra da alta fantasia se projeta com ainda mais vigor.

Não raro imaginar um denso prólogo detalhando extensas famílias reais que duram a muitas eras. De complexas criações de mundo envolvendo detalhes minuciosos sobre elementos completamente irrelevantes para a trama central.

Tudo é uma armadilha criada a maneira tolkieniana. Onde “cada ramo de árvore tem a sua história” e acaba arrastando diversos escritores iniciantes a acreditarem que tem o mesmo talento de Tolkien. Ainda que, na opinião desse amargo organizador, mesmo em Tolkien esses elementos são saturados, cansativos e… francamente? Demasiadamente chatos.

Por isso que não titubeei em aceitar organizar essa antologia de Espada e Feitiçaria junto a Editora Cyberus. Pois vejo no gênero elementos muito mais promissores e empolgantes, dos que são encontrados na alta fantasia.

Não irei me alongar sobre a história do espada e feitiçaria, pois tais palavras já foram gastas no prefácio escrito por Igor Moraes neste mesmo livro. Porém, vale destacar como os principais elementos do gênero (ainda que sob outro nome) antecedem Tolkien, além de como suas principais dinâmicas podem ser vistas no berço da literatura ocidental.

Há muito de Espada e Fantasia nas artimanhas de Odisseu em escapar das vinganças dos Deuses e monstros mitológicos na Odisseia, construído após o fim da Era Micênica, antes da Grécia Clássica. Antes disso, na forma ardilosa em que Gilgamesh e Enquidu sabotam e assassinam Humbaba, no épico escrito na Idade do Bronze suméria.

Ambas narrativas antecedem as aspirações folclóricas tolkienianas que, se pretendem imemoriais, mas são fruto de uma literatura cristalizada na medievalidade europeia.

O vírus tolkiano é tão peçonhento que mesmo em uma antologia de Espada e Feitiçaria, alguns escritores não resistiram em mandar contos com longos prelúdios sobre reinos e famílias reais. Alguns até se assemelhavam estruturalmente à contos de fadas. Todos eles, claro, foram rechaçados imediatamente.

Ficaram apenas aqueles que entregam as dinâmicas do gênero que queremos. Aventuras emocionantes, criaturas intrigantes e protagonistas engenhosos de moralidade cinza. Capazes de resolverem seus problemas com astúcia e alguma dose de malandragem, ou ao menos uma boa carga de violência.

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