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Porque Lisa é a melhor personagem de Simpsons

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Porque Lisa é a melhor personagem de Simpsons

Referências a filosofia de Schopenhauer? Homenagem a Sociedade dos Poetas Mortos? Lisa fora protagonista dos melhores episódios dos Simpsons e foi a que mais sofreu no decorrer da decadência da série onde todos os personagens foram perdendo suas características positivas.

 

Considerada a pior personagem da família devido a terríveis episódios como o  “Lisa Toca Gaga”, digo com propriedade que tal acontecimento não ocorre durante a época do Simpsons que vale, ou seja, da primeira até a nona temporada. O que veio depois é apenas um câncer que tomou controle do corpo necrosado da série e vive sob auxílio de máquinas.

A personagem era a melhor trabalhada e sem dúvida foi protagonista dos melhores episódios das primeiras temporadas. Conheça um pouco desses episódios nessa pequena lista com análises individuais de cada episódio.

 

Lisa é a melhor personagem dos Simpsons, e eu posso provar

 

Lisa tristonha (Moaning Lisa) – 1º Temporada

Muitos colocam a primeira temporada como algo fora da “época de ouro” dos Simpsons, pelo seu caráter ainda experimental na narrativa de seus personagens e os traçados confusos e mal feitos do desenho. Mas droga, pra mim é justamente esse aspecto caótico que me fez apaixonar por ela.

 

Neste episódio, temos a primeira demonstração de dinâmica entre a intelectualidade e complexidade de Lisa e o aspecto rústico e simplista de Homer, explorado com perfeição aqui e que se desenvolveria mais nas próximas temporadas, indo a decadência já da quarta temporada em diante.

 

Um pouco da história

Lisa começa o episódio encarando o espelho do banheiro, triste, mas sem “lágrimas no olhos”, ignorando a pressa de seu pai, atrasado para o trabalho. Durante o episódio é contrastado perfeitamente essa autoflagelação existencial da personagem frente a problemas mundanos que, para todos os outros, é de muito mais importância.

 

Após passar boa parte do episódio se lamentando sobre questões existenciais fora de seu alcance, é apenas ao conhecer o então estreante “Gengiva Sangrentas” e dividir sua paixão por blues e saxofone que é apresentado uma catarse para o sofrimento de Lisa, mas com a importância de lembrar que “o blues não é sobre se sentir melhor, é sobre fazer as pessoas se sentirem piores, e ganhar alguma grana com isso”.

Schopenhauer nos Simpsons?

Mais simbólico dessa cena é ver Homer brigando com Lisa uma cena anterior justamente por tocar seu saxofone em casa. Usado como justificativa para que Homer perca um jogo de videogame contra Bart (uma sub narrativa própria entre Homer aceitando a velhice, vendo Bart o superar em tudo). O conforto que ela não obteve em casa, conseguiu apoio de um desconhecido.

 

Porém é importante ressaltar a diferença do Homer da primeira temporada. Sendo falho e troglodita, porém compreensivo, contra o Homer pós décima temporada, que é um simples paspalhão ignorante. Ao ver que sua filha foi às lágrimas após a bronca, ele imediatamente se desculpas e opta pela resolução pacífica proposta por Lisa para a resolução do conflito.

 

Ao oferecer a música e arte como catarse do sofrimento existencial, Simpsons flerta com a filosofia de Schopenhauer onde a arte, especialmente a música, era a sublimação da estética humana frente ao sofrimento inerente da existência. Por ser um tema complexo, anexo aqui uma dissertação de mestrado sobre o tema. 

 

O professor substituto (Lisa’s substitute) – 2º Temporada

Neste capítulo começamos com uma versão miniatura de “Sociedade dos Poetas Mortos” e terminamos com um dos episódios mais emocionantes da série. Num tempo onde participações especiais de famosos significavam alguma coisa, Dustin Hoffman interpreta Senhor Bergstrom, professor substituto de Lisa enquanto sua professora está doente.

 

Assim como Keating de Robin Willians em Sociedade dos Poetas Mortos, o professor desafia a estrutura de ensino tradicional, ignorando a apostila e tentando se aproximar emocionalmente dos alunos com dinâmicas pedagógicas mais interativas, o que encanta Lisa pelo estímulo intelectual proporcionado.

 

Tempos diferentes, ou não

Em uma época mais simples de um início de década de 90, vemos uma aluna do 4º ano se apaixonar por seu professor. Que tem sua admiração pelo mestre sendo comparada pelo amor de Marge ao seu marido, sem a malícia que tal afeição pode acarretar. Tudo é tratado apenas como uma paixonite infantil sem a malícia de algo sério, mostrando como a sociedade se transformou nessas três décadas.

 

Aqui vemos novamente a dinâmica entre Homer e Lisa ser explorada. Tendo novamente uma figura adulta externa competindo pela representação figura paterna da garota pelo estímulo agora intelectual, não mais artístico. Com esse conflito chegando ao epicentro na visita ao museu.

 

O capítulo ainda tem um sub enredo interessante. Com Bart competindo politicamente pela liderança de classe contra Martin, dialogando muito com a crise de representatividade passada pelas democracias liberais da atualidade. Onde pessoas que mais apelam ao populismo prevalecem sobre pessoas mais capacitadas, porém mais distanciadas da população (independente do espectro esquerda ou direita).

 

Os problemas da família Simpsons

Mais uma vez vemos um Homer que lida com os conflitos de casa com as armas que tem, usando da sua simplicidade e verdadeiro afeto por sua família para lidar com as crises de seus filhos ao invés de uma peça narrativa que cai do céu, ou pior, encerrar o episódio sem trabalhar esses problemas.

 

O Substituto de Lisa é um desses episódios emocionais que nos ensinam a confiar em nós mesmos e valorizar as pessoas que amamos. Sem esquecer do bilhete final dado por Bergstrom a Lisa que diz: “Você é Lisa Simpsons”.

 

Lisa Palpiteira (Lisa the Greek) – 3º Temporada

Dessa lista, este sem dúvida é o episódio mais engraçado. O que deixa a desejar com os outros dois episódios em situações emocionais que me levam a lágrimas sempre que assisto, sobre em piadas excelentes e bem escritas que até hoje uso de forma casual em uma conversa entre amigos. “Um pouco de cerveja apaga esse fogo”.

 

Dessa vez temos uma inversão do conflito natural entre Lisa e Homer. Onde é ela quem tem de descer ao denominador comum e buscar interesse em alguma atividade de seu pai. Para fortalecer o contato entre os dois, e não o contrário. A solução para esse problema é Lisa começar a palpitar nas apostas de Futebol Americano feitas pelo seu pai, é claro.

 

Pelo intelecto, inteligência emocional e até pesquisa estatística, Lisa consegue prever os resultados dos jogos com perfeição, fazendo com que Homer ganhe muito dinheiro com as apostas e os dois passem todos os domingos assistindo e torcendo juntos, uma solução perfeita, não é?

 

Como perdi minha filha na aposta

Porém com o tempo, a moralidade de envolver crianças em jogos de aposta e o claro egoísmo de Homer em apenas se aproveitar do talento de sua filha vão se pronunciando. Até que Lisa perceba o ocorrido e se ressinta do tempo que passou o seu pai, justamente uma semana antes do Super Bowl, evento máximo do ano para o esporte.

 

Ao ser pressionada para dar um último resultado, Lisa fornece um vencedor, porém com a possibilidade de que ela tenha dado inconscientemente o resultado invertido de propósito para ver seu pai falhar por pura raiva. Transformando o jogo final em uma disputa entre “Lisa ainda ama seu pai” x “Lisa nunca irá perdoar Homer”.

 

— Ei, o que você apostou nesse jogo?

— A minha filha!

— Uau, isso que é apostador.

 

A lista começou a ficar um pouco grande, por isso decidi separar essa lista em duas partes. Pretendo postar o resto ainda essa semana, então assine o nosso newsletter e siga o Historiador Geek nas redes sociais para saber quando irei postar a segunda parte.

Gosta de Simpsons? Confira a lista que fiz sobre episódios dos Simpsons que homenageiam filmes clássicos!
https://historiadorgeek.com.br/index.php/2016/08/10/episodios-dos-simpsons-que-homenageiam-filmes-classicos/

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