Como prometido, eis uma leitura sobre o Médico e o Monstro e suas adaptações e a relevância cultural. Não se esqueça de conferir meu resumo do livro e minha análise literária.
Me acompanhe nesse expandido mundo de adaptações de diversas mídias do clássico Médico e o Monstro.
Não deixe de conferir os outros posts sobre o resumo e a análise literária de O Médico e o Monstro.
Suas adaptações cinematográficas
Com o sucesso comercial da novela, logo várias adaptações para o teatro ficaram populares por toda a Europa. A versão de 1897 de Luella Forepaugh e George F. Fish, a mais famosa, colocaria na história um interesse romântico de Jekyll na filha de um pastor.
Esse novo elemento seria explorado nos filmes de 1908 (hoje infelizmente perdida), na versão de 1912 e na versão de 1920 (ambas disponíveis no Youtube). O interesse amoroso de Jekyll iria mudar, mas seria uma constante em todos os próximos filmes.
Em 1920 foi lançada uma versão não oficial da história chamada “O Busto de Janus” pelo diretor F. W. Murnau. Que mudou o nome dos personagens e história para evitar conflitos por direitos autorais.
Ao invés de uma poção, o doutor ganha um busto de Janus, deus romano das passagens de ano que teria duas cabeças opostas. Esse filme também se encontra perdido.
O diretor faria algo semelhante dois anos depois, ao lançar o Nosferatu (1922) com história baseada no Drácula e que já comentei na minha lista de filmes do expressionismo alemão.
Abuso doméstico e violência sexual
A versão de 1931, nomeada em três categorias do Oscar, vencedora na de melhor ator e considerada até hoje como a melhor versão da história. Explora uma espécie de triângulo amoroso com uma dançarina de cabaré (que também aparece na versão de 1920).
O diferencial é que o filme mergulha mais afundo numa relação de abuso, psicológico e sexual, com a dançarina. Que funciona como despertar da vontade animal de Jekyll, impulsionando seus experimentos.
Essa relação de abuso doméstico e violência sexual é ainda mais explorada no remake de 1941 da versão anterior de 1931, que contém no seu elenco a talentosíssima Ingrid Bergman.
Um mundo inteiro de adaptações
A posição na cultura pop da obra já estava fincada e teríamos diversas adaptações diferentes que valeriam um artigo inteiro unicamente para explicá-las.
Dentre elas, valem ser citadas as versões da Hammer Films, com atuações de Cristopher Lee e Peter Cushing. Uma versão em Blaxploitation em 1976 (Dr. Black and Mr. Hyde) e claro, a paródia do enredo em “O Professor Aloprado”.
Na versão original com Jerry Lewis em 1963, o filme brinca com a visão da sociedade de meio do século XX sobre o parâmetro de masculinidade. Já em seu remake em 1996 com Eddie Murphy, a atenção é voltada para a gordofobia na virada do milênio. Mostrando a universalidade dos temas da história.
Os Desenhos animados
Talvez seja a primeira vez que a maioria de nós entramos em contato com a narrativa de o Médico e o Monstro. Iniciado por Patolino em The Impatient Patient (1942), a história seria amplamente adaptada em várias versões diferentes.
Dr. Jekyll and Mr. Mouse de Tom e Jerry em 1947, e Motor Mania com Pateta em (1950) talvez sejam os mais abstratos. Fazendo apenas alusões breves a obra original onde no primeiro Jerry toma uma poção para ficar musculoso e no outro, Pateta se transforma num monstro ressentido ao assumir o volante de um carro.
Dr. Jerkyl’s Hide, com o Frajola em 1954, Hyde and Hare com Pernalonga em 1955 e Hyde and Go Tweet com Piu-Piu e Frajola em 1960 trabalham com a imagem mais conhecida. A poção agora não só dá razão a uma visão maligna, mas também deixa seu usuário maior e mais forte, na direção oposta que a do livro.
Mr. Hyde no universo dos Super Heróis
O primeiro personagem adaptado que mais tarde habitaria o grande universo dos Super Heróis é o vilão do Batman chamado Duas Caras.
Criado em 1942, seu criador Bob Kane confessou que foi inspirado pela versão de 1931 para criar o personagem. Onde a personalidade caótica domina o antes herói da justiça Harvey Dent. Outra inspiração do vilão seria o personagem da era pulp chamado “The Black Bat”, que também teve seu rosto queimado por ácido.
Já na relação Bruce Banner/Hulk, a influência é ainda mais explícita na troca de personalidades. Com o adicional que em forma de Hulk, o personagem se assemelha fisicamente ao Frankenstein de 1931.
Ironicamente, o vilão da Marvel Calvin Zabo é fanático pelo livro de Stevenson e criou ele próprio sua versão da fórmula. Se transformando ele próprio em Mr Hyde desse universo.
No universo da Liga Extraordinária da DC, há uma releitura de Dr. Jekyll e Hyde adaptada para a história.
Conclusão
A história de um lado oculto da mente humana que é instintivamente perversa e que pode aflorar até mesmo na mais respeitável figura pública é algo que sempre irá repercutir para todo o sempre.
Lidando com essa força animalesca e maligna que se esconde profundamente em nosso subconsciente, talvez sejamos para sempre seduzidos por essa narrativa misteriosa e encantadora.
Estando a décadas no domínio público, talvez a narrativa de O Médico e o Monstro nos traga ainda muitas adaptações dignas de sua obra original.