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Literando: Médico e o Monstro | Análise literária

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Literando Médico e o Monstro análise literária

Feito o resumo de O Médico e o Monstro, nos resta agora fazer uma análise literária digna de uma obra desse tamanho.

Não se esqueça de conferir o resumo, e as influências culturais de O Médico e o Monstro.

Entre o gótico e a ficção científica

Primeiramente publicado em 1886. A pequena novela chegaria muito tarde para fazer parte do gótico, movimento literário iniciado pelo “Castelo de Otranto” de Horance Walpole, publicado em 1764, e que teve uma sobrevida com várias obras durante o século 19.

Assim como parece um tanto descolado do seus contemporâneos pertencentes a grande febre da ficção científica, como Julio Verne (Vinte mil léguas submarinas- 1870, A Guerra dos Mundos – 1898) e H. G. Wells (A Guerra dos Mundos – 1898, A Máquina do Tempo – 1895).

Ainda que, como o grande clássico Frankenstein (1823) de Mary Shelley, publicado quase sessenta anos antes. A obra saberia misturar elementos clássicos do gótico com a ficção científica de forma perfeita.

O Cientista Louco e a ambição do racionalismo

Nas duas obras, é possível ver com primazia essa figura que se repetiria através de diversas mídias de terror e scifi. O cientista louco é aquela figura reclusa, completamente devota a ciência. Usando-a como meio para atividades mais fantásticas e impossíveis da humanidade.

Dessa forma, a obra reflete no dualismo entre o racionalismo positivista do século XIX com o romantismo por vezes conservador e naturalista do mesmo período. Assim como o limite que a ciência poderia alcançar e o quais as consciências disso era um debate proeminente durante o período.

Uma obra vitoriana

Como resultado da sua questão moralizante, o Médico e o Monstro não se deixa esquecer que se trata de uma obra vitoriana (período da história inglesa entre 1837 e 1901).

Há uma clara distinção de classes e estruturas sociais, os crimes de Hyde só escalam após um assassinato de um nobre. É a vergonha social que impele Jekyll a fazer sua persona maligna enquanto tem sua própria imagem preservada.

As festas e jantares sociais que o protagonista dá é uma prova de que tudo está bem na sua vida, e o final delas que anuncia sua derrocada. Essa valorização da imagem pública é um símbolo do moralismo vitoriano.

As bases filosóficas da repartição da alma

Foi Platão quem primeiro ficou famoso por formular uma separação da psique humana. No que é chamado de Teoria tripartite da alma, Platão separa a alma em:

Logistikon: Que valoriza a verdade, a virtude a razão
Thymoeides: Ligado ao lado emocional da alma e sua força de vontade.
Epithymetikon: Seu lado mais animalesco, ligado a desejos carnais e ambição material.

Para o idealismo de Platão, que despreza o mundo físico em detrimento da perfeição do mundo das ideias. Na alma humana nobre, o lado lógico prevalece sobre os desejos carnais, e consegue administrar a força de vontade e emoções para conquistas que engrandecer o saber.

Já Nietzsche, um contemporâneo do autor Robert Louis Stevenson, dividia as pulsões da alma em formas apolíneas (respondendo a racionalidade) e dionisíacas (expressão da potência e vontade). Sendo essa última, para o filósofo, a forma mais sublime de alma.

A obra e sua psicologia

Ainda que o livro parece beber dessas fontes, a abordagem de Stevenson aborda essa divisão de uma forma muito mais maniqueísta.

Separando a alma não por grandezas ou sublimes, mas por embates morais, onde o lado “animalesco” é naturalmente malvado. Enquanto o lado racional é configurado no esforço da bondade.

Esse maniqueísmo que dialoga muito bem com a moralidade vitoriana, é muito melhor explorado na psicologia Freudiana de Id, Ego e Superego publicano no livro “O Eu e o Id” em 1923.

Um elemento primordial dessa comparação é como a figura de Hyde é atrofiada e pequena (diferente das suas versões adaptadas) por ser uma parte do subconsciente de Jekyll que pouco foi exercitada.

Eugenia, Higienismo Social e Cesare Lombroso

Nem tudo é influência positiva nesse icônico trabalho de Stevenson. Há também uma dose de conceito bastante racista que era amplamente divulgado no século XIX, e que culminaria nas experiências de limpeza étnica nazista.

Apoiado principalmente pelos estudos pseudocientíficos de criminologia de Cesare Lombroso e no resgate da frenologia, uma pseudociência determinava em associar o tamanho do crânio a capacidade do ser humano em cometer crimes. Aqui no Brasil esses temas repercutiram no estudo de Nina Rodrigues.

Esse tipo de narrativa está no subtexto da obra toda vez que o autor descreve a aparência de Hyde como “deformada” ou “deficiente” e naturalmente repulsiva. Além de dizer como o corpo de Hyde se contorce e retorna há uma forma troglodita, primitiva.

Esse tipo de narrativa também se encontra na releitura de Frankenstein para o cinema (1931). Onde os comportamentos violentos do monstro ocorrem por que o Doutor Frankenstein usou a cabeça de um criminoso para a criatura.

Um história sobre sua relevância cultural e adaptações cinematográficas

Mais uma vez vejo o texto se alongar mais que o permitido e me pego novamente tendo de adiar mais uma parte da análise desse livro para um próximo capítulo. Onde falo exclusivamente sobre as adaptações cinematográficas, animadas e sua relevância na cultura pop.

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