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Uma singela homenagem as trilhas de Ennio Morricone

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Uma singela homenagem as trilhas de Ennio Morricone

Devido a morte do grande compositor e maestro Ennio Morricone no dia dez de junho de 2020, fiz uma série de homenagens diárias nas minhas redes sociais (instagram), (twitter) e (facebook) com recomendações sobre os filmes que ele participou. Pois bem, venho apenas formalizar e deixar no registro do blog essas recomendações, espero que gostem!

Ennio Morricone trilha

Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso) – 1988 

Minha primeira recomendação de filmes com trilha de Ennio Morricone de hoje é Nuovo Cinema Paradiso. Filme que estreou a grande  parceria entre o diretor também italiano Giuseppe Tornatore e Ennio Morricone. 

O longa é uma carta de amor ao cinema como mídia, mostrando a infância de Salvatore, um aclamado diretor italiano (que até muito mais tempo do que eu podia me orgulhar, pensava ser o Felini), com o seu primeiro contato com o cinema e a longa amizade que desenvolveu com Alfredo, o projetista de um pequeno cinema da cidade natal.

A amizade dos dois interfere diretamente na paixão de Salvatore (conhecido como totó na infância) por filmes, e como seria a relação com a pequena cidade interiorana com o único cinema que lá estava disponível.

Essa comédia dramática não é apenas uma emocionante história de um pequeno artista apaixonado pelo cinema. Mostra todo o trajeto e desenvolvimento do garoto com a arte. Com um final emocionante, relacionado a um elemento fundamental da história, o filme também faz um registro social da história do cinema.

As doces notas introdutórias de piano, com o arranjo da orquestra em crescendo num suave ritmo, me levam diretamente para a cena final com Salvatore e seu presente especial de seu amigo de longa data, Alfredo.

Trilogia dos Dólares (Trilogia del dollaro) – 1964/1966

Esta recomendação não é exatamente de um único filme, mas de uma trilogia não oficial com os mesmos atores, mesmo diretor e com Morricone participando de todas suas composições.

Conhecida como “Trilogia dos Dólares” ou  “Trilogia do Homem Sem Nome” é composta por três filmes dirigidos por Sergio Leone e com um jovem Clint Eastwood como protagonista. Que na época era ainda uma pequena promessa americana que viajou à Itália para uma bem sucedida mudança de carreira.

Apesar da história entre os três filmes não ter exatamente uma conexão muito precisa. Pois elas circulam sobre narrativas com elementos semelhantes. Todas elas trazem uma releitura italiana dos westerns americanos. Ora esperançosos e guiados por um preciso código moral, agora trazendo uma visão muito mais cruel e pessimista do Velho Oeste pelos olhos italianos. Com protagonistas de moralidade ambígua e questionável.

Os filmes que compõem a trilogia são: Por um Punhado de Dólares (1964), Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966). Ou pelo seus nomes em inglês: A Fistful of Dollars (1964), For a Few Dollars More (1965) e The Good, the Bad and the Ugly (1966). Eu sei que é clichê, mas meu favorito é o último filme, que com certeza tem as melhores falas:

“When you have to shoot, shoot. Don’t talk”

Pense numa trilha sonora de um filme de velho oeste, aquela mais óbvia com longos assovios e uma guitarra aguda que te colocam presencialmente em um duelo ao por do sol na frente de um saloon, pensou? Essa é a música de Ennio Morricone. Duvida de mim? Pois então:

Era uma Vez na América (Once Upon a Time in America) – 1984

Se minha recomendação anterior de filmes com trilha de Ennio Morricone era uma tentativa de Sergio Leone de dar uma visão mais cruel e desromantizada dos velhos faroestes americanos. Em “Era uma Vez na América” vemos Leone repetir a fórmula com os filmes de gângsters americanos.

Com um elenco pesadíssimo que envolve nomes como Robert de Niro, James Woods e Joe Pesci, o filme narra a história de jovens imigrantes judeus que iniciam uma lenta caminhada na máfia com crimes cada vez mais violentos e traiçoeiros.

De forma compatível com o longa, temos um tema sombrio e assombroso pelas hábeis mãos de Morricone, numa flauta aguda e precisa, mas que com o tempo torna-se um hino esperançoso, como a esperança de se construir em num novo país cheio de oportunidades.

Os Intocáveis (The Untouchables) – 1987

Mantendo a vibe mafiosa da última recomendação. Desta vez estamos do lados da lei durante os duros anos da Lei Seca nos EUA em Os Intocáveis, dirigido por Brian De Palma.

Acompanhamos uma trajetória do agente do tesouro americano Eliot Ness, neste filme interpretado por Kevin Costner. Responsável pela prisão do grande mafioso Al Capone, brilhantemente interpretado por Robert de Niro.

O filme traz uma versão bastante idealizada e romantizada dos acontecimentos que realmente ocorreram na prisão de Al Capone. Mas um filme de máfia com de Niro que ele interpreta o Scarface (apelido do qual o gângster ficou famoso) sem dúvida merece espaço na minha lista.

O filme ainda conta com a participação de Sean Connery (o melhor 007, aceitem) que levou pra casa um Oscar de melhor ator coadjuvante. Sua cena mais enigmática, com o carrinho de bebê descendo as escadarias, foi inspirado em O Encouraçado Potemkin.

Também estando de acordo com o longa, o tema de Ennio Morricone para “Os Intocáveis” é também cheio de esperança e emoção numa orchestra épica e heróica.

A Missão (The Mission) – 1986

A Missão é um filme produzido pelo cineasta franco-britânico Roland Joffé. Retratando os conflitos das coroas Portuguesa e Espanhola, contra a população nativa das Américas e os Jesuítas durante a América Colonial. O filme não se acanha de retratar todos os interesses econômicos por trás da escravidão indígena, além da disputa política entre diversas instituições que colocou fim às Missões Jesuíticas no século XVIII.

Talvez podendo ser acusado de romantizar o trabalho dos evangelizadores na região durante o período, o filme ainda é um trágico retrato da realidade e de nossa história. A narrativa acompanha um padre e líder da missão Padre Gabriel interpretado por um jovem Jeremy Irons. Que rivaliza com um não tão jovem Robert de Niro (ele de novo) atuando como Rodrigo Mendoza, um mercenário negociante de escravos.

Porém, arrependido por ter matado seu meu irmão em um duelo, após pegá-lo com sua noiva em sua cama. Mendoza se junta a missão como modo de limpar sua alma, colocando-o de frente com aqueles pra quem um dia trabalhou.

Neste tema, vemos um Ennio Morricone sem medo de misturar hinos cristãos com elementos culturais da cultura Guarani, refletindo perfeitamente o conflito antagônico no longa.

O Enigma de Outro Mundo (The Thing) – 1982

Quem me acompanha nas redes sociais (me segue por lá, pufavô) já deve ter visto mais de uma vez que o filme “O Enigma de Outro Mundo” (The Thing) de 1982 ´é um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Então é óbvio que eu irei falar sobre ele novamente toda vez que tiver uma oportunidade.

Uma expedição científica americana no ártico é surpreendida por um helicóptero de uma expedição norueguesa vizinha disparando e caçando um cachorro. O helicóptero colide e explode logo em sequência. Ao dar abrigo para o pobre cachorríneo. A equipe entra em contato com uma forma de vida alienígena e misteriosa que assume a forma de qualquer ser vivo que ela entre em contato.

A história é baseada no livro “Who Goes There?” de John W. Campbell Jr e tem uma relação conflituosa que mistura remake, sequência e homenagem ao filme “The Thing From Outer Space” (traduzido como O Monstro do Ártico) de 1951.

O filme é famoso pelos seus efeitos práticos que, num mundo que mergulhou de cabeça nos efeitos especiais que envelhecem rapidamente, se mantém atual e encantadoramente bizarro ainda nos dias de hoje. Existe também uma exploração do horror cósmico em sua narrativa (conceito que já expliquei melhor aqui). Além da ótima atuação dos então jovens Kurt Russell e Keith David.

Ennio Morricone não é famoso por criar composições de terror (ainda que tenha feito algumas), e ainda tinha o adicional de estar compondo para um filme dirigido por John Carpenter. Famoso por criar as próprias trilhas com muito esmero. Parece que, pensando nisso, Morricone faz uma mimetização perfeita de seu estilo, e o resultado está aí.

Os Oitos Odiados (The Hateful Eight) – 2015

Não à toa que deixei Os Oito Odiados como recomendação logo após de The Thing. Ambos os filmes dividem muitas semelhanças, além da bela trilha de Ennio Morricone. Os dois longas tratam de um grupo seleto e disfuncional. Isolados pela neve num pequeno alojamento sem a possibilidade de sair, com a paranoia e a desconfiança crescendo a cada momento.

Dirigido por Quentin Tarantino, o elenco conta com Kurt Russell (adicionando mais uma camada de relação com o The Thing), SamuelLJackson, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth e até mesmo ChanningTatum (poisé). Este é meu filme favorito de Tarantino, e não há nada que você possa me dizer que prove o contrário.

Como misturar velho oeste, terror e suspense em uma só trilha? Se você acha que esse trabalho seria difícil para Ennio Morricone, você não está prestando atenção neste texto. 

Guerreiros de Fogo (Red Sonja) – 1985 *BONUS TRACK*

Okay, talvez não seja A OBRA PRIMA do cinema. De fato muitos consideram um dos filmes que contribuiram para a “maldição” dos filmes de aventura com protagonistas mulheres. E que era um filme do Conan tão secundário que, mesmo tendo Arnold Schwarzenegger no elenco, ele atua com outro nome. 

Sandahl Bergman que também atuou em Conan o Bárbaro retorna para Red Sonja, mas como vilã. Ernie Reyes, Jr. que faria fama em Tartarugas Ninjas e Surf Ninjas também faz um pequeno papel. A própria Sonja é interpretada pela modelo dinamarquesa Brigitte Nielsen, que atuaria em clássicos como Stallone Cobra, Um Tira da Pesada e Rocky IV.

Com um elenco de peso, uma trilha sonora de respeito e um vasto material original escrito por Roy Thomas inspirado no universo de Robert E. Howard, é esperado que o filme seria um completo sucesso. Mas problemas de roteiro e produção arruinariam o filme.

Mas devo confessar que, pelo menos em minha parte, o longa me divertiu bastante! Principalmente se você desconsiderar a cafonice e não se preocupar em levá-lo a sério. Afinal o filme tem a bondade de não se levar a sério também.

Certamente a trilha sonora do filme é outro acerto incontestável de Ennio Morricone. Que nos brinda com um perfeito casamento entre um velho oeste com o gênero de fantasia “espada e feitiçaria”. Lembrando que o próprio Robert Howard confessou que era inspirado em histórias de velho oeste quando escrevia sobre o gênero.

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