Início Reviews e Guias Body horror e horror cósmico em DyE – Fantasy

Body horror e horror cósmico em DyE – Fantasy

4254
0
COMPARTILHAR
Body horror e horror cósmico em DyE - Fantasy

Body horror e horror cósmico em DyE – Fantasy

Lançado em 2011, o clipe Fantasy do artista DyE fez um grande barulho na internet da época pela sua estética bizarra e seu conteúdo explícito. Um dos meus vídeos bizarros favoritos para mostrar aos meus convidados em festas que dava em casa, o clipe trabalha conceitos bizarros como body horror, sexualidade, horror cósmico e violência num clipe de uma música tão calma e tranquilizante.

Antes de ler minha opinião sobre o clipe, recomendo fortemente que veja com seus próprios olhos e tente montar o significado por conta própria antes de ler a minha opinião. Vale lembrar que o clipe é NSFW, com material impróprio para ver com a família ou no trabalho.

Ficha técnica do clipe

DyE é o nome artístico de Juan de Guillebon, músico francês que navega entre os estilos eletropop, chillwave e esses estilos eletrônicos calmos com sintetizador que eu juro que não consigo definir o que é o que. O artista conta com três álbuns de estúdio sendo Taki 183, o que contém a música Fantasy, seu álbum de estreia.

O Clipe é dirigido pelo também francês Jérémie Périn, que tem a série The Lastman em seu nome, além do filme Mars Express que ainda não tem data para ser lançado. No trabalho de Périn é possível ver em seus traços uma clara influência de animações japonesas em um traçado suave e delicado.

Conheça o Body Horror

O tema que mais salta aos olhos ao contemplar o clipe. Body horror é uma subdivisão dentro do gênero terror que trabalha sobre os limites do corpo humano, sua fragilidade e principalmente, sua mutação e transformação, quase sempre sem o controle da

Ainda que muito de seus conceitos já tenham sido explorados na literatura, o gênero só conseguiria alcançar a fama em narrativas visuais. É muito comum em filmes que misturam terror com ficção científica, como os filmes do diretor David Cronenberg, (A Mosca, Scanners, Videodrome, etc.) e o The Thing de 1982.

A temática também é presente em filmes de terror sobrenatural, como na franquia Hellraiser de Clive Baker e até mesmo usado em filmes “torture porn” como Centopéia Humana.

Qual o objetivo do Body Horror?

O uso do body horror varia de filme para filme. Na franquia de ficção científica Alien, o medo é explorado como uma alusão à violência sexual e a gravidez indesejada, o que também pode afirmar acontecer no filme “Bebê de Rosemary”. Já no clássico cyberpunk “Akira”, a transformação monstruosa no corpo de Akira acontece quando o mesmo perde o controle dos seus poderes.

Mesmo em videogames o gênero foi bastante explorado. Nos clássicos do survival horror como Resident Evil e Parasite Eve para PS1 e até o menos conhecido “Deep Fear” para Sega Saturn, os monstros são formas de corpos distorcidos devido a experimentos científicos fracassados ou mutações biológicas despadronizadas.

Um pouco sobre Horror Cósmico

Frequentemente associado a literatura de H. P. Lovecraft, o horror cósmico é o medo do desconhecido, um medo sobre algo que está acima de nós em outra realidade, dimensão ou planeta e que encare a nossa existência com profundo desprezo. A cosmologia de Lovecraft está repleta de entidades que existem fora das leis do nosso universo, e que a mera concepção de sua forma, pode levar uma pessoa a loucura.

Ao contrário do body horror, o horror cósmico faz um grande sucesso na literatura e não tem um vasto material em mídias visuais. Dentre os filmes que assisti recomendo os bizarros “The Void” e “Event Horizon”.As narrativas do gênero geralmente envolvem uma grande dose de ansiedade e desespero perante a catástrofe inevitável, portanto não recomendo os filmes para quem tem problemas de ansiedade.

Recentemente assisti esse curta produzido por Matt Sears que faz um belo resumo sobre a temática. Infelizmente ele não tem legendas nem a possibilidade de legendar, mas os diálogos são bastantes simples de entender.

 

 

O enredo do clipe Dye – Fantasy

Enfim, uma vez explicado e contextualizado os dois gêneros, me resta encaixar os temas dentro do clipe de Fantasy. A história começa com um grupo de quatro adolescentes na menoridade invadindo uma piscina pública a noite. O clipe não tem nenhum diálogo entre seus personagens, por isso podemos apenas especular o que está acontecendo na narrativa.

Um dos casais parece ter já alguma intimidade, enquanto a outra garota parece apenas estar lá para acompanhar a amiga e fazer companhia para o outro garoto. A garota não parece muito à vontade com a ideia de beber bebidas alcoólicas ou de trocar afagos com o outro garoto e, num momento de constrangimento, acaba pulando na piscina apenas para fugir de tudo isso.

body horror cósmico fantasy dye

E então as coisas começam a ficar estranhas

Primeiro ela sente algo perturbando o seu órgão sexual, sem entender ela sai da piscina e se curva em posição fetal. Ao ser confortada pelo rapaz que tinha interesse nela, ambos encaram abismados a forma contorcida que o outro casal assumiu. O rapaz deformado usa sua mão em forma de parasita para arrancar a outra do outro menino enquanto a garota o morde em sua região baixa. 

Por fim sozinha, a garota tenta fugir dos corpos que se transmutam com ainda mais intensidade. Acuada, decide mergulhar novamente na piscina. Porém o fundo dessa piscina agora parece um portal para uma outra dimensão. Ao levantar nesse novo lugar, a garota encara um grande monstro de forma distorcida que faz seus olhos explodirem, fazendo a garota tombar morta em frente a criatura misteriosa.

Uma alusão a pressão social sexual em adolescentes

As formas distorcidas dos corpos adolescente representam uma alusão a pressão social para que adolescentes façam sexo e usem entorpecentes cada vez mais cedo. Não à toa que a primeira transformação acontece no corpo da garota tímida, essa quase transformação pode sinalizar um sinal de puberdade.

Dessa forma, ao fazer a transição para a nova realidade, a garota encara uma figura totêmica que representa o amadurecimento sexual. Sua forma inocente é cegada e falecida para que uma nova identidade possa nascer no lugar.

Ainda assim, essa é uma interpretação pessoal, visto que o clipe deixa bastante coisa da narrativa em aberto. Em contrapartida se você acha que a letra da música poderia ajudar em alguma coisa a montar esse quebra cabeça narrativo, você está enganado. Já que a letra parece falar sobre alguém que abandonou seus sonhos e agora tem de lidar com as esperanças perdidas.

LETRA ORIGINAL

The walls so high and you, won’t feel
The moon is always spying on, your fears
I make it to the golden gate, and fail
So then you throw your fantasy away, to fade

Oh and I take, take it in vain
So I fake, fake it again

To Tokyo network stocks, I stream
All of my wasted dreams on, the screen

Could I, not take it in vain?
Oh, could I, not fake it again?
Can’t I, not take it in pain?
Oh,can’t I, not fake it again?

I’ve sent my heart away, like heroes in the rain


TRADUZIDO

As paredes tão altas e você, não sente
A lua sempre observa, nossos medos
Eu chego até o portão dourado, e falho
Então você joga sua fantasia fora, para desvanecer

E eu pego, pego em vão
Então eu finjo, finjo novamente.

Para a bolsa de valores de Tóquio, eu transmito.
Todos os sonhos desperdiçados, na tela.

Poderia, não ter pego em vão?
Poderia, não ter fingido novamente?
Não posso, não aguentar a dor?
Não posso, não fingir novamente?

Eu mandei meu coração embora, como heróis na chuva.

Considerando que a interpretação para o clipe é aberta, o que você acha caro leitor? Tem alguma visão diferente sobre o que aconteceu no clipe? Deixe seu comentário!

body horror cósmico fantasy dye

Facebook Comments