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Acertos e Erros nas adaptações de Silent Hill ao cinema

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Uma amálgama entre Silent Hill 1 e 2, Terror em Silent Hill é um filme que divide bastante a fã base entre os que o consideram a melhor adaptação dos games para o cinema e os que ficam enfurecidos com liberdades tomadas no material original e fraco enredo.

Nesse texto espero levantar os pontos favoráveis e negativos da obra e aproveitando o embalo comparando também ao segundo filme, Silent Hill Revelation que tenta adaptar Silent Hill 3.

Como já havia dito no texto sobre adaptações de jogos para cinema, a grande maioria dessas adaptações são obras muito ruins que pouco tem relação ao jogo original ou sequer se mantêm como um filme por si. Não há nenhum exemplo de filme que conseguiu alcançar um patamar louvável dentro da mídia cinematográfica.

Terror em Silent Hill é de fato uma das melhores adaptações de games para o cinema, disputando o posto com obras riquíssimas como… o primeiro filme do Mortal Kombat. Claramente ser a melhor adaptação não quer dizer muita coisa. Algumas escolhas de narrativa são sofríveis e emboladas e tudo fica ainda pior no segundo filme. Vamos então a dissecação das duas obras.

Pontos positivos

Como prova da minha bondade, iremos começar pelos acertos. Basicamente tudo que o filme adaptou com fidelidade ao jogo está realmente de parabéns. Se dependesse apenas desses elementos seria sem maiores problemas a melhor adaptação de jogos para o cinema.

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Visual e estética

Claramente o ponto forte do filme. Todo o cenário da cidade está muito semelhante ao retratados nos jogos. A cidade vazia, dominada pela neblina e com largas ruas que passam uma sensação de solidão. O visual de decadência, ferrugem e abandono em otherworld, que é sem dúvida algo difícil para se adaptar ao cinema está muito bem representado também.

Um elemento existente desde a primeira edição do jogo (quando Harry está em nova Silent Hill) a transição entre os mundos (fog world para otherworld) foi bem traduzida para a tela, cada parte do cenário que vai enferrujando e envelhecendo aos nossos próprios olhos nos trás uma sensação e impressão forte que se mantém legal até os dias de hoje.

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Akira Yamaoka – Não dá pra deixar de confiar num cara desse.

Sonoplastia

Outro elemento trazido diretamente dos jogos. A sonoplastia não está só bem adaptada, ela foi trazida diretamente dos jogos! Composta pelo Akira Yamaoka, cada som, cada faixa de música, é um mergulho direto no ambiente do jogo.

Trazendo mistério, inquietação e imersão a experiência do cinema, sem dúvida a composição sonora de Yamaoka merecia um texto só para ele. (E talvez um dia eu escreva).

Adaptações dos personagens

Os personagem estão com o figurino impecável. Sean Bean como Harry Mason (apesar de nome trocado) em ambos os filmes, convence sem esforço. Cybil Bennett está ainda mais imponente e deslumbrante em sua representação cinematográfica e Heather Mason parece ter saído diretamente do jogo com aparência impecável e até alguns lances de câmera são os mesmos do jogo.

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Porém… visual não é tudo, e apesar de visualmente parecidos com suas contra partes, o roteiro e diálogos deixam a desejar. Vamos então a segunda parte da review.

Pontos negativos

Claro, nem tudo são rosas… Os filmes tomam algumas liberdades ao material original e… talvez seja praga de fã mas… em tudo que tomou diferente dos jogos foi um completo desastre. Chegando ao ponto de comprometer diretamente a experiência do filme, principalmente na sequência.

Descaracterizações

O que alguns personagens estavam extremamente parecidos, outros saíram completamente de mão. A filha que se perde na cidade se chama Sharon, e tem uma relação confusa com Alessa, onde parece que Sharon é filha de Alessa, nascida de um estupro.

Alessa no filme é na verdade a vilã, trocando seu papel com Dahlia Gillespie que no filme torna-se a vítima da criança, revertendo o plot twist principal do primeiro jogo da franquia.

Cybil, apesar da imagem de policial durona, é a companheira de Harry no jogo, dando até uma arma para sua auto defesa. No filme ela algema a protagonista apenas para gerar um conflito artificial. Lisa Garland, que era a outra personagem suporte de Harry na trama, foi relegada a uma pequena ponta de fã service mal executado.

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No segundo filme o personagem Vincent passa de uma representação misteriosa e assustadora do jogo SH3 para um fraco interesse amoroso juvenil para a protagonista. Como se fosse obrigação uma protagonista feminina no cinema ter um par romântico. E o culto em si está completamente descaracterizado. Voltarei a ele mais tarde.

Simbolismo descartado

Vamos lá, qual é a grande marca da série? O que a faz diferente de todos os outros jogos de horror que tem sua assinatura impecável e garante ponto alto nos melhores jogos da série?

Responsável pelo horror psicológico do jogo e perfeitamente usado em Silent Hill 2, o simbolismo da franquia foi completamente descartado no filme.

Se você leu meus textos sobre Simbolismo e sexualidade em Silent Hill 2 sabe da importância de Piramid Head na trama. Um símbolo viril, portando uma enorme e fálica espada que representa o sentimento de punição pelo desejo sexual de James. No filme? Apenas mais um grande monstro visto em qualquer slasher mediano, responsável por dar sustos.

E se você leu o outro texto, Simbolismo e Literatura Infantil em SH1, sabe porque as enfermeiras são mais assustadoras no primeiro e mais sensuais no segundo. E, em ambos os filmes onde tem personagens femininas como protagonistas… adivinhem qual das duas enfermeiras usaram?

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Enfermeiras gostausas a caminho.

A narrativa no geral

Sinceramente quem bolou o roteiro não fazia a mínima ideia do que estava fazendo. A história principal de Silent Hill é justamente sobre o horror psicológico, mexer com a mente do protagonista e seus piores medos (Harry perder sua filha, James assumir responsabilidade por Mary, Heather descobrir sua conturbada origem).

No filme, o culto, que tem papel secundário como força invisível da narrativa, se torna a peça central da trama e sua raiz ligada ao ocultismo está mais ligado a uma seita cristã estranha que antagoniza com Alessa e coloca as protagonistas em meio ao fogo cruzado.

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Outro elemento trocado da série que me incomodou muito foi o significado da sirene. Em Silent Hill 1 o barulho representa a vida de Alessa no hospital após o desastre do culto em seu sacrifício. Tal elemento remete diretamente ao psicológico da antagonista.

No filme, é uma sirene de verdade que toca da igreja, apresentando um terror palpável e nada simbólico.

Tanto potencial, tanta beleza visual e sonora usada com tanta maestria… para o elemento principal da franquia ser completamente ignorado e com isso, perdemos uma história de horror psicológico para ganhar um filme bonito de enredo medíocre sobre terror de culto que temos aos milhares todos os anos.

Tem algum ponto positivo ou negativo nos dois filmes que eu deixei passar? Deixe seu comentário!

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