Brasil Lofi é um ritmo que brotou na internet nos últimos anos misturando as maiores brasilidades da música popular com remix propositalmente amadores e cenas de anime. Conheça um pouco desse obscuro movimento musical.
Lo-Fi?
Antes de mais nada é necessário definir o que é Lofi. Lo-fi (low fidelity) pode ser traduzido diretamente para baixa fidelidade, se refere a um movimento musical de remixagem e gravação com equipamento de baixa qualidade. Geralmente devido a falta de investimento por conta do mixador/artista. É considerado um “braço” do movimento independente e da música de garagem.
Contudo o que conhecemos como Lo-fi em sua vertente mais famosa, é o “lo-fi hip-hop”, uma vertente do downtempo e chillwave, dois gêneros modernos de música eletrônica mais “tranquila”, que consiste em regravações com efeitos que simulam um equipamento rústico de propósito.
Muito do estilo e cultura do Lo-fi se reflete no vaporwave, caso você esteja perdido, recomendo meu artigo sobre a combinação perfeita entre Simpsons e Vaporwave.
Música para Millenials e Gen Z ansiosos
É difícil descrever a sensação de percorrer algumas das playlists de lo-fi hip hop. Usadas principalmente sob o pretexto de estudar, ler, se concentrar e até mesmo acalmar em tempos de crise de ansiedade e depressão. O estilo é predominantemente tranquilo e relaxante. Com tunes devagar e geralmente repetitivos, quase uma canção de ninar para adultos.
Uma rápida pesquisa sobre lo-fi no youtube irá te apresentar uma vasta sequência de playlists intermináveis com desenhos, geralmente em traçados de anime, de pessoas lendo, estudando ou apenas relaxando calmamente tomando uma bebida quente.
Numa explicação quase freudiana pelo apreço de millennials por esse estilo de música. O DJ Ryan Celsius teorizou se esse tipo de apreço por músicas tranquilas com batidas suaves misturados a cenas de anime, veio dos comerciais de Adult Swin e Toonami. Febre durante a década de 2000. Porém no Brasil, apenas o Adult Swin teve sua fama, por isso temos uma problemática aqui. O que nos leva…
Lo-fi brasileiro
A primeira vez que tive contato com lofi brasileiro foi em um vídeo que viralizou no facebook. Onde vi uma imagem de uma taça de drink com uma cereja boiando, presumidamente de um anime, tocando Alcione remixada.
No momento pensei: Como seria legal se mais versões de músicas brasileiras fossem remixadas no estilo lofi. E assim que me joguei no sistema de pesquisas do youtube que acabei numa espiral infinita de conhecimento, otakice e brazilidades.
Um breve histórico
Assim como foi no mundo todo, Lo-fi fez um baita sucesso para o público nacional. Porém o que foi de surpreender é que DJs brasileiros começaram a adaptar músicas nacionais para o tema, e o resultado foi simplesmente incrível!
Apesar de não ser exatamente um vídeo de lofi, este vídeo de 25 de março de 2018 do canal Ogeid traz a música de Cartola com cenas do anime Cowboy Bebob. Anime que tem diversas referências ao Jazz e a cultura americana. Essa mistura de anime e música nacional será o grande motor para todo esse movimento cultural.
Lizzergia
Porém o primeiro vídeo com mixagens de músicas nacionais que encontrei foi do artista Lizzergia, mas seu estilo parece mais aproximado a um vaporwave, onde a reedição das músicas apresenta um efeito de slow que eu, pessoalmente, não achei muito interessante.
GabrielMzero
Já em GabrielMzero, finalmente vi um tipo de som que simplesmente me apaixonei. Iniciado aparentemente como um canal genérico de gameplay (segundo um dos seus mais antigos vídeos parece denunciar), o rapaz já fazia experimentos com lofi de forma tímida, mas foi com o vídeo com Tom Jobim de 7 de outubro de 2018 que a coisa iria engrenar.
Ainda sob a sombra da estética popular do vaporwave, levaria um tempo até o rapaz abraçar a estética de animes em seus vídeos de lofi brasileiro. Começaria com Ligia de Tom Jobin em 24 de outubro de 2018 e viraria padrão nos próximos vídeos. Geralmente com imagens que combinam com a mensagem da música.
Sorrir pra Não Chorar e o anime brasileiro
Em sorrir pra não chorar, temos na tela cenas refletidas do anime Michiko e Hatchin que se passa no fictício país chamado Diamandra. Onde a própria criadora Sayo Yamamoto e seus diretores assumiram a inspiração brasileira, após viajar para as cidades de Olinda, Rio de Janeiro e Recife. Ambiente perfeito para a poesia de Cartola.
Por último, como exemplo final da genialidade do artista, deixo esse remix da música “Falador Passa Mal” dos Originais do Samba com cenas de O Castelo de Cagliostro, onde vemos Lupin e seu parceiro no crime fugindo com uma enorme quantidade de dinheiro que, mais tarde na trampa, Lupin descobriria ser falsificado.
Além do canal no Youtube, Gabriel também tem suas músicas postadas no Deezer e Spotify. Vale a conferida!
Jdutra
Da mesma forma, outro artista que me chamou a atenção foi Jdutra. Escolher um único vídeo que possa representar todo seu trabalho é uma tarefa árdua, mas tenho um ponto fraco com Tim Maia (até mesmo recomendei sua música durante o mês da cultura brasileira lá na página do facebook. Então deixo essa brilhante versão de Réu Confesso. (Música que, modéstia a parte, este escritor arrasa quando vai no karaokê).
Em conclusão, não poderia encerrar esse artigo sem mencionar que as músicas de Lofi Brasil tiveram suas próprias playslits em paródia com a “menina que estuda sem parar”. Essa versão, claro, tem diversas referências únicas a cultura brasileira na imagem, e apresentam várias músicas de artistas mencionados nesse artigo. Divirtam-se: