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Como Shazam aborda o abandono familiar

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Como Shazam aborda o abandono familiar

Mesmo sendo o filme mais leve e divertido da DC nos cinemas, Shazam usa da leveza para abordar um tema dramático, o abandono familiar.

Assisti recentemente Shazam no cinema e devo confessar, que filme maravilhoso! Estou muito contente que a DC finalmente encontrou o seu caminho no cinema e tenha enfim, abandonado a estética desconstrutivista de Zack Snyder para seu universo, pelo menos em um herói que deveria inspirar confiança e esperança como o Shazam.

Shazam e o Abandono Familiar

Acima de tudo, o filme sabe com muito mais praticidade como balançar o seu conteúdo mais cômico e irreverente, com sua abordagem mais dramática e pesada. Diferente de outros filmes onde o drama das cenas brotava sem contexto e o devido merecimento, o filme nos traz personagens do qual nos sentimos obrigados a compadecer.  E digo isso me referindo tanto ao protagonista, sua equipe de coadjuvantes e principalmente o vilão.

 

Abandono Afetivo, o caso do vilão

O filme começa sob o ponto de vista do antagonista onde podemos observar sua origem que, sim, é bastante diferente dos quadrinhos deixando talvez, uma meia dúzia de fãs da extinta Fawcett Comics furiosos. Circulando diretamente sobre o tema de abandono afetivo, vemos um jovem Doutor Silvana que, ainda que com a ausência de sua mãe, tem seu pai e um irmão mais velho como apoio familiar.

 

No entanto, através de um diálogo pesadamente expositivo, vemos como o jovem garoto é destratado pelos seus familiares. A situação parece mudar quando vemos o garoto ser recrutado para assumir os poderes do Ancião e se tornar o Shazam, apenas para ser rejeitado novamente e tratado como histérico e maluco por sua própria família.

 

É importante esse aspecto do filme para dar uma motivação sólida para o desenvolvimento do vilão. É a baixa autoestima criada pela dinâmica familiar falha que faz com que ele sempre busque se tornar o seu melhor, o mais poderoso e então se vingar daqueles que um dia o desprezaram.

 

Os acontecimentos acometidos ao Doutor Silvana representa uma forma de espelho trágico do destino que o próprio protagonista passaria no futuro, demonstrando como sua penosa trajetória poderia ter sido redentora se algumas atitudes de pessoas próximas pudessem ser diferentes.

 

Abandono paternal, o caso do protagonista

Há uma maior complexidade no caso de Billy Batson. Com o pai sem aparecer na história no começo e perdido de sua mãe que nunca o procurou após o desaparecimento, Billy cresce com uma personalidade rebelde e desapegada que está disposto a quebrar todas as leis para procurar sua progenitora e, quem sabe, conseguir se encontrar num lar novamente.

 

Parte de sua jornada como personagem é se encontrar e se aceitar como parte de uma família funcional novamente, por isso não tocarei nada além desse tema para não se caracterizar como spoiler. Mas entender essa dupla narrativa temática de abandono familiar é importante para o meu próximo ponto.

 

Abandono familiar, um caso global

Há um grande risco em se tratar do abandono familiar sem parecer um apologista da família nuclear tradicional, por tanto gostaria de deixar bastante claro que para mim, pouco importa de quantas pessoas, ou qual o gênero e orientação sexual dos responsáveis legais pelas crianças, importa sim que a criança tenha afeto, atenção e carinho durante seu desenvolvimento emocional.

 

Vivemos em uma geração onde a depressão, ansiedade e baixa autoestima se tornaram cada vez mais comuns e majoritária nos adolescentes e jovens adultos atuais, e grande parte disso se deve à responsáveis legais pouco cientes de suas obrigações e deveres. Não é preciso ser um especialista em psicologia infantil para entender da importância do apoio familiar no desenvolvimento infantil.

 

Estou muito contente que a Warner/DC finalmente acertou em abordar um tema tão sério e triste em um filme tão divertido e atrativo para todas as idades, deixando de lado a prepotência e presunção de filmes anteriores com sua falsa profundidade dramática e referências cristãs óbvias. Shazam aborda temas polêmicos de forma simples, direta e respeitando sua audiêcia.

 

Uma mensagem tão pesada, é atrapalhada pelo humor do filme?

Talvez essa seja uma pergunta na mente de diversas pessoas e eu sinceramente não tive nenhum problema com isso. Achei bastante agradável o humor do filme, por vezes me peguei rindo extasiadamente de cenas simples, e quando o filme tende a ser dramático e até mesmo aterrorizante, cumpre também seu papel com primazia.

 

O diretor David F. Sandberg, após a direção do brilhante e viral curta “Light’s Out” (que virou um longa metragem não tão brilhante assim) e do questionável “Annabelle: Creation” vem juntamente com James Wan de uma tradição do terror, portanto suas cenas mais pesadas são muito bem dirigidas. Mas de fato a surpresa aqui é a leveza nas partes de comédia, que dão uma legitimidade juvenil ao longa.

Entre ter seu filme arrastado pela dramaticidade e tristeza exagerada ou fazer uma comédia leve e entretida, ainda que lidando com seriedade com uma temática adulta e entristecedora, o filme escolhe pelo certo e busca um balanço muito desejável para esse tipo de cinema.

Enfim, muito feliz por esse novo passo da DC nos cinemas e bastante ansioso para uma equipe renovada da Liga da Justiça se encontrar novamente.

 

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