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Como a Marvel usa a trilha sonora na narrativa dos filmes

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Indiscutivelmente, o cinema é uma mídia narrativa. Mas, diferente da literatura, o cinema possui não só palavras para contar uma história. Imagem e som tem um papel fundamental que diferencia o cinema das outras mídias. Porém não são todas as obras que sabem fazer uso desses recursos.

Como a Marvel usa a trilha sonora na narrativa dos filmes

Não é difícil ver filmes que apenas colocam música para preencher o vazio, esconder o barulho. Blockbusters sem dúvidas são os que mais fazem isso, mas claro, alguns filmes sabem usar não só uma música que dialoga bem com a cena em tela, mas também para adicionar camadas narrativas ou de personalidade aos seus personagens, e é exatamente sobre isso que esse texto se trata.

 

Existem várias franquias que poderiam ser usadas de exemplo, mas nesse caso vou focar apenas no universo estendido Marvel e nas suas três obras que mais perfeitamente pegaram essa essência.

 

Homem de Ferro e o Rock n Roll (Homem de Ferro 1, 2 e Vingadores)

Visto o grande sucesso que é o Universo Marvel hoje em dia, é fácil desconsiderar a  peça fundamental na construção desse universo. Passando por diversas dificuldades e contando com uma produção semi independente, Homem de Ferro foi a pedra fundadora do que se tornaria o Universo Marvel dos cinemas, e o carisma do personagem de Robert Downey Jr. ajudou e muito a construir uma sólida base de fãs. E um grande traço de personalidade veio de seu gosto musical.

 

Não são poucas vezes que clássicos do rock tocam nos dois primeiros filmes do personagem. Seria muito fácil, quase preguiçoso, associar o personagem que se fundamenta basicamente na tecnologia a gostar de música eletrônica. Mas é esse conflito paradoxal de um personagem moderno com música “antiga” que adiciona algumas linhas de profundidade em sua tão carismática personalidade. Todo o ar canastrão do personagem é ressaltado com cada música do AC/DC tocada.

 

Por Vingadores ser um filme responsável por conectar pela primeira vez os heróis já estabelecidos em seus filmes solos, cada segundo dos personagens em tela era importante. Talvez uma de suas cenas mais marcantes é quando ele se apresenta a equipe durante a aparição de Loki em Berlim.

 

Enquanto a Viúva Negra estava sobrevoando o quinjet em volta de Loki,  ouvimos ao longe uma melodia e uma voz, logo após hackeando o sistema de comunicação da Shield e colocando Shoot to Thrill do AC/DC pra tocar. Como essa mesma música já foi atribuída ao personagem no segundo filme, temos então todo um momento próprio dele em tela e todo o tom da ação dele em equipe, como seu traço de personalidade, está muito bem definido.

 

Senhor das Estrelas e os anos 80 (Guardiões da Galaxia)

Talvez a primeira grande surpresa do Universo Marvel, Guardiões da Galáxia surpreendeu por colocar uma equipe desconhecida até para fãs razoáveis dos quadrinhos a um patamar que outras grandes equipes de heróis ainda lutam para alcançar (quarteto fantástico, eu estou olhando para você).

Além de uma ótima narrativa, o filme deu uma revitalizada com sua trilha sonora dos anos 80 que tem motivo narrativo para estar ali. Diferente de apenas adicionar ótimas músicas em momentos narrativos desconexos unicamente porque as músicas funcionariam bem sozinhas (Esquadrão Suicida, estamos de olho), as músicas dialogam com a personalidade do principal protagonista do filme, Peter Quill, o Senhor das Estrelas.

 

Antes de ser abduzido quando criança, Peter tinha acabado de presenciar a morte de sua mãe e tudo que conseguiu levar consigo da terra (além das roupas do corpo) foram memórias… e um walkman com uma coletânea de músicas do período!

 

Diferente de ser apenas mais um hipster futurista (como Her, o paraíso cyberhipster) o visual retrô de Quill é uma forma de manter viva a memória que o personagem tem de sua mãe, logo após sua morte. E suas músicas, um presente direto da mesma, é a forma de lidar com a morte de sua mãe. Muito freudiano essa projeção, senhor Quill.

 

Luke Cage e a black music (Luke Cage)

Luke Cage foi a série responsável em pegar o universo neo-noir da Marvel Netflix e trazê-lo para o Bronx, adicionando uma releitura de Blaxploitation no caminho (como disse nesse texto aqui). Para tal feito, sem dúvidas que o uso com maestria da música em sua obra não foi só fundamental, mas quase age como um personagem por si só (como apontou o texto do Judão).

 

Em algumas vezes, a música tem um papel de metalinguagem, como quando Raphael Saadiq canta “Good Man” (música que fala sobre um homem com dois empregos) na boate de Cottonmouth enquanto Luke está trabalhando no seu segundo emprego. Essa técnica é importante porque você reforça a narrativa da obra com todos os recursos que estão disponíveis (texto, imagem e som).

 

Outra participação importante é de Jidenna com a música “Long Live the Chief”, onde seu um clipe é uma representação de um velório que pode representar [spoiler] tanto o sinal da lenta decadência de Cottonmouth, ou o velório literal de Pop, no final do episódio. [/spoiler]

 

Todos os artistas que cantam no Harlem Paradise são consagrados músicos da black music. De Delfonics á Faith Evans (viúva de Notorious BIG, o cara com a coroa no quadro de Cottonmouth) cantando Mesmerize (enquanto a moça procura por Cage na barbershop do Pop) mas sem dúvida quem rouba a cena é Method Man (do grupo Wu Tang Clan). Compondo uma música original para a série que ficou tão massa que a Marvel já liberou o som no youtube.

 

 

O Hip-Hop é tão importante que o nome de todos os episódios são de músicas do grupo de hip hop  da costa leste Gang Starr. Cada som, cada música tocada e todo a contextualização do som faz a série uma experiência única.

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