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O problema das reviews e críticos especializados

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O problema das reviews e críticos especializados

Como explicar a diferença gritante entre notas de reviews em sites de crítica? Qual o papel dos críticos? São essas perguntas que busco responder.

Batman V. Superman com nota 40 no Metacritic mas com 7.1 por usuários. Quarta temporada de Arrow com 100% no Rotten Tomatoes enquanto a segunda de Demolidor ficou apenas nos 75%. Após a polêmica personagem trans em Baldurs Gate a DLC chega a uma nota abaixo dos 40 pelos usuários do Metacritic. Mas mantém “ligeiramente positivas” para os usuários de Steam. O que diabos está acontecendo?

Alguns acusam que a mídia foi comprada pelas grandes empresas, outros apontam favoritismo e há quem acusa as empresas de simples amadorismo. A verdade é que é necessário entender como funcionam os sites de notas e reviews para então, podermos tecer críticas concretas e talvez entender essas divergências nas notas.

Rotten tomatoes

Irei começar pelo site que é mais criticado. Rotten Tomatoes (tomates podres) é um site especializado em capturar reviews diversos espalhados na internet e agregá-los em seu medidor oficial. O site existe desde 1998 e atualmente faz parte do conglomerado da Warner Bros.

Para definir a nota, os editores do site coletam críticas de sites famosos (para um crítico ser considerado, ele tem de ter um numero específico de likes) e agregam a nota do crítico a medição de duas hipóteses do site:

Notas acima de 60 ganham o rótulo de fresh (fresco, novo).
Notas inferiores ganham o rótulo de rotten (estragado, podre).

Se o crítico não der uma nota, o editor do site faz um rótulo baseado na descrição do crítico. Usuários tem uma nota própria e basta você se cadastrar no site para poder dar suas notas na sessão “Audience Score”.

Possíveis defeitos

Basicamente tudo se dilui a um “sim” ou “não”. A porcentagem de aceitação do filme que faz a nota final da obra. Isso funciona bem com obras aclamadas e obras majoritariamente ruins… Mas é extremamente agressivo com filmes “medianos”.

Por colocar o limite do voto negativo em 60%, se as notas ficarem entre 5 e 7, há uma grande chance do filme alcançar números bastante inferiores. Foi o caso de Batman v. Superman e X-Men Apocalipse que ganharam notas calamitosas de 20 a 30%, mesmo sendo apenas filmes medianos com alguns defeitos visíveis, que estariam numa média entre 5 e 6.

Metacritic

Site especializado em manter placares de diversas formas de entretenimento, não só filmes e séries. Hoje controlada pelo grupo CNET, que controla também sites como o GameFAQs e Game Spot.

O Metascore é baseado também na conjunção de várias críticas famosas e a conta final do produto é dada ponderando a especialidade e aclamação de cada crítico com sua mídia. As críticas indexadas são também postadas com um breve resumo e link, caso o usuário esteja interessado em vê-la por completo. O site trabalha com uma representação numérica de 0 a 100.

Possíveis defeitos

Não sei exatamente o parâmetro que eles usam para dar mais peso a um crítico que outro. Então talvez pode acontecer um favoritismo.

Assim como o Rotten Tomatoes, o site permite que usuários possam fazer sua própria nota. Porém ficam abertos a ataques de floods com motivações políticas e moralistas. Como o caso de Baldurs Gate, onde diversos jogadores boicotaram o jogo sem nem ao menos jogarem. Baixando a nota drasticamente.

Steam

Um programa criado pela Valve para comprar e jogar diversos jogos para computador. Como forma de ajudar os jogadores a escolherem melhor os jogos a comprar, o aplicativo criou um sistema de nota e comentário guiado por usuários e que permite também o cadastramento de curadores especialistas para fazer resenha dos jogos.

Para dar uma nota a um jogo da Steam, você deve primeiro possuir o jogo. Parece apenas uma regra besta, mas é uma boa proteção a ataques e floods em jogos motivados por polêmicas. Por isso Baldurs Gate continua com uma nota aceitável.

Possíveis defeitos

Assim como o Rotten Tomatoes, tudo acaba se resumindo a um “sim” ou “não” o que prejudica alguns jogos legitimamente bons, mas que sofrem de algum defeito.

Um exemplo recente pra mim foi Tree of Savior, considerado sequência espiritual de Ragnarok. O jogo é legitimamente divertido e bonito, com um complexo sistema de classes, mas atualmente se encontra com críticas “neutras”, pelo jogo conter alguns bugs de lançamento. E não é incomum ver jogadores que gostaram do jogo mas dando notas negativas por causa desses pequenos problemas, fazendo com que o jogo pareça ruim.

O problema dos críticos contra o público em massa

Batman V. Superman tem uma votação de 22% no rotten tomatoes entre os críticos e de 66% (três vezes mais) entre o público em massa. A quarta temporada de Arrow tem 100% de aceitação entre críticos no mesmo site e apenas 49% entre o público… quem está errado ou certo nessa conta?

Falando de um modo geral, críticos não são os supremos porta vozes da verdade, e isso é um pouco estranho porque eu mesmo me considero um crítico e faço resenhas aqui. Mas a questão é, críticos nem sempre acertam.

Eles são também suscetíveis a erros e a embarcarem num hype (positivo ou negativo) em cima de uma obra. Quando o review de um jogo ou filme acaba se tornando obrigação e não mais uma paixão, o senso de julgamento também é prejudicado.

Inundados por diversos jogos e filmes semelhantes, as vezes uma obra que fuja do padrão da indústria pode chamar a atenção positiva de um crítico. Enquanto uma obra que faça “mais do mesmo” (ainda que com excelência) pode ganhar o escárnio desse mesmo crítico.

Críticos e reviews podem ser comprados?

Infelizmente sim, alguns críticos estão sujeitos a serem comprados. A exemplo temos o escândalo do Gamergate que iniciou após a comprovação que a game designer Zoe Quinn mantinha relacionamentos com jornalistas críticos de games e que supostamente dariam notas positivas a ela por isso. O caso logo evoluiu para uma questão de ética jornalística e sexismo na comunidade de videogames.

Outro episódio que mancharia a questão de ética jornalística em jogos digitais foi o envolvimento da Machinima UK com o Youtube para que youtubers fizessem reviews positivos do Xbox One.

Porém alguns casos isolados não podem virar questão de regra. Não é incomum usuários acusarem sites grandes da cultura nerd como Omelete de terem sido comprados após uma review polêmica. E sem nenhuma prova ou justificativa além do achismo.

Então… qual a função das reviews e dos críticos?

Num sentido geral, a obrigação do crítico não é ser o termômetro ideal de uma obra, dar o veredito se um filme ou jogo é bom ou ruim. Seu objetivo é buscar o diferencial dela, realçar ideias inovadoras e estruturas narrativas surpreendentes… ou criticar a obra por não oferecer nada de novo.

É por isso que nesse site eu me esforço para associar as obras (livros, HQs, filmes, séries e games) com algo das ciências humanas, de preferência de História. Para mostrar como que uma obra da cultura geek ou popular, que geralmente é considerada inferior por muitas pessoas, tem um potência estética própria que nos dá acesso as mais diversas possibilidades narrativas e nos faz aprender sobre a mais variada gama de assuntos.

Portanto, não tome a palavra de um crítico como o ponto final por uma obra, busque para extrair o melhor da obra em si, para entender um ponto da narrativa que parecia perdido, ou para confirmar um mal uso da mídia em questão para o objetivo desejado. Mas, acima de tudo, experiencie a obra por conta própria e tire o que você achar melhor dela.

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