Crítica social, ideias inovadoras, narrativas intrincadas e surpreendentes (algo não fácil de fazer hoje em dia), Black Mirror representa para a nossa geração o que Twilight Zone representou para as gerações anteriores. Entenda o valor que essa série tem em representar os millennials.
O que são Millennials?
Talvez a maioria não conheça bem o significado dessa palavra. Millennials são as pessoas que nasceram entre a metade dos anos 80 até a virada do milênio (por isso o nome), assim como as definições de “baby boom” (45-60) e “geração x” (60 a 85), essa delimitação envolve um estilo de vida único dessas pessoas, ligados ao período em que cresceram e se desenvolveram.
Devido a grande explosão tecnológica de fim do século XX, os Millennials são conhecidos pela aptidão com novas tecnologias, bem como uma visão mais liberal dos costumes devido aos novos modelos de se enxergar a vida proporcionados pela velocidade da informação e a globalização (o título desse artigo tem apenas duas palavras em português não é a toa). Em contra parte é uma geração conhecida por ser narcisista e muito dependente da tecnologia e entretenimento.
Twilight Zone
Conhecida no Brasil como “Alem da Imaginação”, Twilight Zone foi uma série de ficção científica criada por Rod Serling como produtor, roteirista e narrador. Sua primeira edição foi de 1959 a 1964 e acompanhou a transição do conservadorismo americano dos anos 40 e 50 para a revolução cultural americana dos anos 60.
Ainda sofrendo pelos resquícios do macartismo, política que caçava pessoas de esquerda e que fomentavam crítica social, Sterling usava da má fama da ficção científica, que era tomada como gênero menos nobre e até infantil de narrativa, e o modelo de série pelo grande alcance televisivo que obtinha na época criando o Twilight Zone para fazer críticas sutis ao governo americano, ao temor nuclear e a potencialização da Guerra Fria. Cada episódio contava uma história em separado que podia conter elementos de fantasia, sci-fi e terror.
Baby Boomer e o Sci Fi
Baby Boomer tem esse nome por ser a geração que veio após a segunda guerra mundial e por isso, apresentar uma grande explosão populacional agora que seus pais não estavam separados pela guerra. As crianças desse período cresceram num mundo bastante polarizado e ainda marcado pela guerra. Com o medo constante que o mundo poderia acabar.
A ficção científica teve uma grande explosão no período. Filmes clássicos como O Homem do Planeta X, A Guerra dos Mundos, O Monstro do Ártico, O Dia em Que a Terra Parou (todos de 1951), as revistas pulp da Perry Rhodan (1961) e as renovações das editoras de quadrinhos DC (1955) e Marvel (1964) são do período. Com um apelo infanto juvenil e grande sucesso comercial, a ficção científica era frequentemente usada para comentários sociais mordazes pelos motivos já explicados no texto.
A atualidade do Black Mirror
Bem, paremos a enrolação e vamos logo ao assunto principal, qual o papel de Black Mirror em ser o simbolo dessa geração atual? Nós vivemos em tempos muito mais liberais do que as décadas de 50 e 60 e portanto as críticas sociais não precisam ser escondidas nas linhas narrativas. Ainda sim, uma certa sutilidade adiciona um charme artístico nas críticas sociais e a audácia da produção é o suficiente para chamar a atenção da série no século da informação.
Em uma série de três episódios por temporada, cada um com personagens, diretores e ambientações diferentes, Black Mirror usa do impossível e da ficção para fazer uma crítica social. Vamos analisar aqui em especial os três episódios da primeira temporada livre de spoilers.
Hino Nacional
Por muito tempo a série ficou conhecida como “aquela que fez o primeiro ministro da Inglaterra transar com uma porca”. O primeiro episódio não contém em si uma crítica social tão forte, apenas faz ressalvas sobre a questão do entretenimento e a desconstrução do limite em vida política e vida privada dos candidatos.
O episódio piloto tem o maior interesse de chocar mesmo, para se destacar no rio de informação e séries de fácil acesso a todos nós. E certamente faz seu papel muito bem mostrando também uma narrativa intrincada, com reviravoltas no enredo e um final brilhante.
1 Milhão de Méritos
Já no segundo episódio a crítica é bem mais escancarada. Criticando a divisão de classes numa sociedade do entretenimento, 15 Milhões de Méritos idealiza uma sociedade distópica mas não muito futurista, onde a indústria do entretenimento e a gamificação do papel social toma proporções assustadoras. Todos trabalham para consumir skins e emojis diferentes para seus avatares, que o representam em sociedade. A vida gira em torno da divisão do trabalho e entretenimento.
Mesmo a figura rebelde do protagonista é silenciada pela ilusão da ascensão social e seus protestos sinceros e emocionais são absorvidos pela indústria do entretenimento e devidamente plastificados e seriados em dose. O episódio quase beira a auto crítica, mas vale lembrar que a série tem apenas três episódios por temporada, o que consegue fazer uma crítica para a indústria do entretenimento e para deixar claro que tal manifestação artística não deve ser produzida em série.
Toda sua história
O primeiro episódio faz uma crítica ao jornalismo do escândalo e a conjuntura política, o segundo a organização social e a indústria do entretenimento. O terceiro é uma crítica direta aos millennials e sua obsessão com mídias e redes sociais. Ao adicionar ao corpo uma câmera que registra tudo a sua volta, quebrando o elo entre pessoa/máquina e reviver apenas de momentos previamente selecionados, Black Mirror acusa sobre toda a artificialidade do nosso meio de experienciar a tecnologia.
Essa obsessão pelos mínimos detalhes da memória leva o protagonista do episódio (e que serve como garoto propaganda da série) a suspeitar da fidelidade de sua esposa, levando uma grande escalada de ciúmes e nervosismo. O quanto essa obsessão da pode levar a verdade ou a ruína? É uma resposta que só é dada no final do episódio.
Esses são os reviews da primeira temporada da série. Fica aqui a minha recomendação para quem é da geração millennial para assistir e se identificar. Já assistiu? Tem alguma opinião sobre? Deixe seu comentário.