Batman realmente matou o Coringa no final da Piada Mortal? Será que o cavaleiro das trevas, sempre vigilante à sua única lei pessoal de nunca assassinar alguém, fraquejou contra seu arqui-inimigo? Descubra com a gente!
Batman realmente matou o Coringa no final da Piada Mortal?
Piada Mortal é uma história onde o Coringa testa o Batman até o limite de seus nervos para provar um ponto. Mas, no final da história, mata ou não o coringa? Que tal… as duas coisas!
Consagrada como uma das melhores histórias do Morcego, Piada Mortal foi criada em 1988 por Alan Moore. A história é um “one shoot” (história de uma edição, separada da continuidade) que mostra um plano do Coringa focado em provar ao Batman que qualquer pessoa pode ser levada a loucura, caso seja testado ao extremo da sua sanidade, tendo um verdadeiro “dia ruim”. Exatamente como aparentemente aconteceu com ele tempos antes.
Para isso, Coringa sequestra Gordon, aleija sua filha, tira fotos dela nua e o tortura psicologicamente em um parque abandonado. Isso é claro até o Batman aparecer, acabar com os planos de Coringa e resgatar Gordon ainda são. Batman consegue alcançar o coringa, oferece ajuda a ele e permanece com ele até a chegada da polícia, final da história? Talvez não…
Um detalhe que por 25 anos passou despercebido pela maioria dos fãs. Grant Morrison nos alertou que no final da história, o som da risada dos dois personagens são abafadas pelas sirenes e os últimos quadros acabam como os primeiros, em silêncio. Também considera o Batman tentando dizer que a rivalidade dos dois ia acabar matando um dos dois, e bem, o nome da história é Piada Mortal, não? Porém nem tudo pode ser tão simples.
Em “A Obra Aberta”, Umberto Eco defende que a interpretação poética de uma obra de arte, não só na literatura como em músicas e pinturas, deve ser aberta ao entendimento do leitor. Ele ainda diz que na modernidade, alguns autores utilizam recursos de narrativas ambíguos justamente para que fique aberta a interpretação do leitor.
Na literatura, Eco dá o exemplo de Ulisses e Finnegans Wake, ambos escritos por James Joyce. Temos também exemplos de imagens e signos livres para a interpretação em filmes do cineasta David Lynch, famoso pela série Twin Peaks e o filme Eraserhead. Donnie Darko, de Richard Kelly também é um exemplo. Com a liberdade de interpretação, a obra ganha um caráter sempre atual e reflete um pouco da mente do próprio espectador e sua mentalidade na obra.
Apesar das observações de Morrison, ela não é a única forma de interpretarmos a história. Há detalhes importantes na trama que devem ser considerados como que Batman está desde o começo da história tentando conciliar com o Coringa, fazer ele entender que tipo de jogo estão fazendo. Ele se lamenta na batcaverna sobre o porquê há tanto ódio entre pessoas que sequer se conhecem.
Quando ele encontra Gordon após toda a tortura, ele pede ao Batman apenas uma coisa: “quero que o prenda pela lei”. Essa parte é importante porque representa toda a ligação de Gordon com Batman. O senso de justiça que o mantém na linha e o separa de um vigilante cruel. Batman persegue o Coringa, entra em mais uma das brigas que já vimos inúmeras vezes e consegue enfim render o Coringa.
O palhaço do crime então pergunta “Porque não me manda pro inferno de uma vez por todas e espera uma ovação da galera”, Batman responde que está lá para cumprir a lei e então, pela primeira vez se abre realmente com o vilão. Diz que já esteve nesse limiar da sanidade (no caso do Batman, a morte dos pais) e que sobreviveu, e se oferece como ajuda na recuperação. Coringa fica relutante e assim conta a piada final sobre os loucos no hospício.
Ao final então, Batman sorri pela primeira vez na frente do Coringa, coloca sua mão no ombro dele enquanto ambos gargalham. No fundo os policiais chegam em cena e a história termina exatamente como começou, com um quadro focando em gotas de chuva no chão silencioso. Nessa interpretação, o que seria a “Piada Mortal” que dá nome ao título é justamente a experiência da vida que é “uma grande piada”.
O que então, caro leitor, pode ter acontecido nesse final? Será que Batman decide optar pela empatia para auxiliar na recuperação de uma pessoa que perdeu sua sanidade quando outros foram fortes o suficiente para resistir? Ou que Batman se entregou e realmente matou o Coringa? O assassinando à sangue frio, cruzando então uma linha que ele nunca mais conseguirá voltar? Só tome cuidado, pois essa resposta pode mostrar mais sobre você do que a obra em si.