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Debate entre Segurança nacional e liberdades civis em Replica

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Um dos motivos principais de ter criado essa página é para provar que jogos digitais (e demais obras da cultura geek) podiam trazer um debate aprofundado sobre questões complexas, e esse jogo é um exemplo disso.

O jogo que mais gostei de ter experienciado na exposição do BIG, Replica traz uma dura crítica aos limites cruzados por agências de segurança do governo em limitar a liberdade das pessoas, policiar seu pensamento, uso de tortura como forma de investigação e levanta o questionamento se devemos abrir mão de nossa liberdade em nome da segurança nacional. Tudo isso numa graphic novel minimalista de poucos minutos.

 

O Gameplay de Replica

Minimalismo é certamente a palavra certa aqui. A jogabilidade de Replica é basicamente reduzida a interação do personagem principal com o celular de um jovem que está sendo investigado por terrorismo. O gráfico tem referência pixelada a colorização dos Full Motion Videos do começo dos anos 90 onde, apesar de parecerem reais, tem um aspecto de tecnologia velha.

 

A curva de aprendizado é talvez um pouco acentuada, visto que o primeiro objetivo do jogador é desbloquear o celular com pouquíssima informação em tela, após isso não é difícil entender a mecânica simplista do jogo.

 

O objetivo do jogador é destravar todo o conteúdo do celular para auxiliar a investigação do governo e dessa forma, livrar sua própria família, que é formada por refugiados do oriente médio, de uma acusação de terrorismo.

 

E qual exatamente o problema?

Conforme damos andamento na investigação, percebemos que a intenção da agência não é conduzir a investigação seriamente. Logo percebemos que o investigador do caso busca apenas justificativas e má interpretações de acontecimentos para culpar o acusado injustamente.

 

Em alguns minutos do jogo nos vemos fuçando na vida mais pessoal e privada do acusado e dando apoio a atitudes cruéis e julgamentos arbitrários contra um inocente. A simplicidade do jogo trás uma experiência imersiva narrativa única que nos coloca de frente a uma situação recorrente no mundo.

 

Mas espera… não é apenas um jogo?

O próprio desenvolvedor disse que teve a inspiração para o jogo quando acompanhou o caso do atentado de San Bernadino, onde o FBI entrou em disputa com a Apple obrigando a empresa a desbloquear o celular de um dos suspeitos, que acabou cancelando o pedido quando conseguiu, secretamente, o apoio de uma empresa para desbloquear o aparelho sem a ajuda da Apple.

 

O caso em si não reflete apenas se o FBI tem o direito ou não de desbloquear o celular de um suspeito de terrorismo, mas todo o procedimento geralmente autorizado pelo governo em atropelar a privacidade e as liberdades e direitos civis em nome da segurança nacional.

 

Conclusão

Replica é um visual novel sul koreano curto porém inovador que traz um grande experimento narrativo que pode influenciar toda a indústria a tratar de modo criativo, assuntos e temas complexos e polêmicos de forma imersiva.

 

O jogo tem doze finais diferentes (eu em aproximadamente uma hora de gameplay consegui desbloquear apenas três) que terminam de forma variada conforme você reage com o desenvolvimento da história, porém apenas uma coisa é constante nesses finais. A citação irônica e perturbadora do ditador fascista italiano Benito Mussolini em idioma original que nos faz pensar sobre a atitude do Estado e como ele lida com sua manutenção do poder.

 

“Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato”

(Tudo no Estado, nada fora do Estado e nada contra o Estado)

Site oficial do jogo
https://somigames.com/replica/

 

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