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Viagens no Tempo e a responsabilidade das escolhas

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Viagens no Tempo e a responsabilidade das escolhas

Seja no jogo Life is Strange da Dontnod, a HQ Seconds de Brian O’Malley, e o filme Efeito Borboleta. Diversas mídias com diversas histórias propuseram uma simples pergunta: “O que você faria se pudesse voltar no tempo e reverter algumas das escolhas que fez?”. Não responda agora, pois talvez você possa piorar tudo mais do que arrumar.

Todos os exemplos citados adaptam uma ideia fundamental da teoria do caos chamado de efeito borboleta que diz que pequenas variações em uma cadeia de sistemas dependentes entre si, podem levar a alterações drásticas e imprevisíveis, ou geralmente como é resumido, que o bater de asas de uma borboleta pode causar uma tempestade do outro lado do mundo.

Essa teoria é aplicada a diversos campos do conhecimento humano e é uma crítica direta ao determinismo, ou seja, a ideia de que tudo no universo é determinado por causas e efeitos já estabelecidos. Como defendido pelo personagem Ian Malcolm no primeiro Jurassic Park, a improbabilidade de controle da teoria do caos impede de que tenhamos ordem e controle completo sobre qualquer coisa, isso incluindo nossas próprias vidas.

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A vida… uh… encontra um jeito.

Em Life is Strange, os poderes de voltar no tempo de Max Caulfield são despertados após a protagonista presenciar um assassinato e, apesar do desenvolvimento de diversas subtramas bem variadas durante o jogo, há uma grande atenção em manter viva a personagem Chloe Prince, que depois descobre ser uma grande amiga de infância de Maxine.

Viagens no Tempo e a responsabilidade das escolhas

Em Seconds, uma protagonista frustrada com sua vida profissional e amorosa deseja o poder de voltar no passado e poder organizar sua vida de um modo diferente, revertendo ações decisivas que a trouxeram até o presente momento. Katie então esbara no sobrenatural ao conhecer um espírito com uma cumbuca de cogumelos e um caderno onde pode, literalmente, reescrever suas escolhas passadas e alterar o rumo de sua própria história após mastigar um de seus cogumelos.

Ambas histórias esbarram em preceitos simples e explorados nas mais diversas mídias. Que todos nós cometemos erros que nos arrependemos profundamente e tudo o que desejamos é esse controle absoluto em nossa própria existência. Às vezes para nos tornar uma pessoa melhor ou até para salvar e proteger pessoas que amamos. Só que a realidade de ter esses poderes divinos de alterar a nossa história, e a de todos ao nosso redor, pode trazer consequências assustadoras.

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Em Life is Strange, cada mudança estrutural que Max faz na história, mais próxima de uma catástrofe climática fica sua cidade natal, chegando ao ponto alto do jogo onde um grande tornado invade a cidade de Arcadia Bay causando sofrimento e morte por onde passa.

Em Seconds, uma visão menos catastrófica, Katie altera tanto a realidade que vive que em certo ponto, já é tão diferente do que ela era que ela mesma não se reconhece mais e torna-se praticamente outra pessoa. Todos os relacionamentos que ela manteve com as outras pessoas aparentam falsos e superficiais e sua personalidade foi sucateada.Seconds by Bryan Lee O'Malley Viagens no Tempo e a responsabilidade das escolhas

Parte da ideia central de Life is Strange é tornar Max em uma heroína do dia-a-dia e com seus poderes, poder ajudar e socializar com o maior numero de pessoas possível, porém há uma cena no último capítulo que: (spoilers) todas as pessoas que tivemos interação durante o jogo aparecem no café e falam o que pensam para nós quando nos aproximamos. Não importa quantas pessoas vocês tentaram ajudar, o numero de pessoas ingratas será maior que o de satisfeitas, e todas essas escolhas que levaram ao fim infeliz desse personagem estarão sobre os seus ombros. (/spoilers).

Em Efeito Borboleta, não importa o quanto o personagem de Ashton Kutcher volte no tempo para criar um futuro perfeito onde ele e a pessoa que ama vivam bem, o resultado sempre acaba sendo catastrófico para um dos dois, ou para ambos.

A mensagem de todas essas histórias é clara. “Deixe ser”. Há coisas na nossa vida que não podemos e nunca teremos controle. Seja a morte de alguém próximo, seja as escolhas que fizemos no passado e nos arrependemos hoje. Parte do que somos é isso, sentimentos e afetos que cultivamos durante nossa vida e que hoje fazem parte da nossa personalidade e construção de caráter como ser humano e social, basta saber com que maturidade nós lidamos com os pontos baixos de nossa vida e como não importa quão duro seja a queda, qual foi nossa vontade de levantar e continuar seguindo.

Portando a recomendação que fica é “carpe diem” ou, “cultive o dia”. Seja a pessoa melhor que você quer ser hoje. Se relacione e se afete com o que e quem você acha que o irá enriquecer emocionalmente agora. Não seja escravo do seu passado nem temente ao seu futuro. Assuma controle no que é possível viver e aprenda a aceitar o que não pode ser controlado. Por final quero deixar esse conto adaptado e traduzido desse quadrinho do Existencial Comics, o quadrinho está em inglês e você pode acessar a arte original se quiser clicando aqui.

Perante a velha arvore, dois filhos nasceram
Ambos amados e livres eles cresceram

Eles viajaram pelos campos, eles percorreram o morro
Eles atravessaram o rio, exploraram o moinho

Lutaram contra dragões e gigantes
Bravos guerreiros – sempre elegantes

Ao final de cada dia, seguros a noite dormiam
Um amoroso pai carinhosamente os acolhiam

O pai envelheceu e então morreu
O mais novo chorou e o mais velho sofreu

O terreno é claro, será cuidado sozinho
Assim o mais novo saiu, para achar seu caminho.

Eles se olharam nos olhos mais um instante
Embaixo da velha árvore, para seguirem adiante.

Embaixo de sol o mais velho trabalhou
Com seu suor e trabalho, o terreno vingou

Uma esposa logo veio ao seu quente e seguro lar
Ele fora pra sempre amado, mas nunca pode viajar

Cada dia ele sonhava com a liberdade do irmão
Sempre arrependido da escolha que fez em vão

Os anos se passaram e eles puderam se encontrar
Embaixo da velha árvore, dois homens a se encarar

Ele conta a seu irmão sobre a vida no campo
Sem aventuras – apenas trabalho, sem encanto

Oh, como ele sonhou com a bela liberdade
E como ele se sentiu preso em sua propriedade

O mais novo conta do rumo que ele tomou
Da longa e cansativa estrada, ele falou:

Em meio a noites de chuva e isolamento
Sua sanidade dependia de um só pensamento:

Que meu irmão em casa estava, salvo e seguro
Uma amável casa, longe da tempestade e do escuro

Trabalho duro eu pude aguentar, mas disso eu podia jurar
Esses dias solitários eram muitos para poder lidar

Seu coração cresceu triste e deixou sua cabeça a lamentar
E para seu irmão, se pôs a falar

Que história trágica então para nós se sucedeu
De que não tive você no meu lugar, e eu no seu

Seu irmão suspirou e depois sorriu largamente
Pensou por um momento e disse alegremente

Você perdeu o sentido de toda nossa história
Por isso te direi irmão, em toda sua glória.

Seja qual de nós ficasse, ou fora fosse se entreter
Por ambas escolhas, iríamos nos arrepender

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