Um elementos que comumente vejo associado em diversas culturas culturas é o de divindades femininas associadas com a lua, nosso satélite natural.
Um histórico de Divindades femininas associadas com a Lua
Inspiração para artistas e poetas, a frieza da Lua e a escuridão da noite (ambas no artigo feminino no idioma português) contrastam com o calor do sol e o brilho do dia.
Nas mitologias através do mundo, é possível ver elementos que se repetem mesmo em culturas que não tiveram algum contato uma com a outra, ou até casos de sincretismo religioso onde uma região adota os costumes e tradições de outra cultura como respeito ou assimilação. Seria esse o caso?
Venha conhecer um pouco sobre as diversas divindades femininas associadas com a Lua.
Jaci (Tupi-Guarani)
Jaci representa na mitologia tupi, a entidade responsável pela luz da lua durante as noites escuras, pela colheita e reprodução, do amor dos amantes apaixonados e por despertar a saudades no coração dos caçadores e guerreiros de modo a voltarem à sua tribo.
Assim como diversas figuras mitológicas das mais diferentes culturas, há um grande número de mitos de criação de Jaci. A maioria desses relatos conflitantes contam diferentes versões para a origem da representação da Lua na cultura Tupi. Em comum, as histórias circulam ao redor de duas figuras da mitologia tupi. Tupã, o Deus Supremo, e Guaraci, a representação tupi do Deus Sol.
Uma constante nos mitos é a impossibilidade do amor de Jaci por uma das divindades. Em Guaraci, é ressaltado que o amor entre as duas figuras é tão intenso que o sol brilhou de forma a chamuscar a terra. Jaci, por sua vez, derramou lágrimas de felicidade que inundaram a mata. Por isso Jaci é destinada a brilhar apenas quando Guaraci se retira para dormir. Impossibilitando esse amor eterno. As lágrimas de Jaci criaram o Rio Amazonas.
O mito da Vitória Régia
Uma fábula um tanto curiosa, visto que nela é trocado o sexo da divindade lunar, conta que Jaci (nesse caso, um homem) descia ocasionalmente ao plano terreno para buscar uma virgem e transformá-la em uma estrela. Uma índia chamada Naiá ao saber disso, corre toda noite em direção a lua de forma a acompanhá-la e convencê-la a ser levada para o espaço e ficar ao seu lado por toda a eternidade.
Em um desses dias a moça tropeça, cai em um barranco, e desmaia. Ao se levantar, ainda um pouco desacordada, vê o reflexo da lua em um rio e mergulha atrás do contato com a divindade, morrendo afogada. Ao saber do ocorrido, a divindade celebra o sacrifício da moça, a transformando na planta Vitória Régia. Onde poderia ficar ao lado do reflexo da lua por todas as noites pela eternidade.
Duas coisas me chama a atenção nesse mito, primeiro é a imagem de uma divindade indo colher moças virgens no plano mortal, muito semelhante a diversas histórias de Zeus. A outra semelhança é com o mito de Narciso, trocando o amor da índia pela lua por Narciso pela sua própria imagem.
Awilix/Ixchel (Maia)
Ao decorrer dos séculos da civilização maia, houveram diversas divindades diferentes adoradas como deusas da Lua através do Império Maia. Awilix foi uma entidade adorada na região onde hoje é o país Guatemala. Algumas fontes dizem que Awilix é na verdade uma entidade masculina, ou que é uma representação etérea de Xbalanque, sua versão corpórea. Ela era considerada a deusa da noite e associada com o submundo, a morte e a doença.
Outra versão mais popular da divindade da Lua na mitologia maia é Ixchel, adorada na península do Yucatã e deusa da medicina, do parto, do trabalho têxtil e, é claro, da lua. Companheira de Itzamna, deus primordial maia, o casal teria treze filhos que criariam o céu e a terra. As diversas fases da lua representavam para os maias, as diversas fases da vida de uma mulher.
Selene/Luna (Grego-romana)
Na mitologia grego-romana, vemos uma enorme profusão de divindades femininas relacionadas com a Lua.
Primeiramente começamos por Selene, que é a personificação da Lua na mitologia grega. Nascida dos titãs Hipérion e Teia, Selene navega em sua forma lunar através do céu noturno com sua biga de dupla montaria, da mesma forma que seu irmão Hélio, que representa o sol, faz com uma quadriga, ao percorrer o céu durante o dia. A versão romana da deusa é chamada de Luna.
Pouco se sabe da representação divina de Selene e boa parte de seu culto foi associado posteriormente com a deusa Ártemis (Diana, em roma) que, além de se tornar a divindade da Lua, era também a deusa da caça, do parto e da virgindade. Seu irmão também fora absorvido no culto de Apolo, que também é irmão de Artemis.
Outra divindade grega também associada a Lua seria Hécate (Trivia para os romanos), deusa da magia, encruzilhadas, partos e ervas medicinais. A divindade teve origem na região da Anatólia (hoje território grego) mas depois naturalizada na Grécia micênica. Chegando a representar uma das fases da lua junto com suas contrapartes mitológicas.
Isis (Egito)
Deusa da medicina, mãe de Hórus e esposa de Osíris, do qual ajudou a ressuscitar após o ter sido assassinado por Set. Deusa adorada desde o Império Antigo, foi no Egito ptolomaico e na conquista romana da região que a deusa ganharia maior fama, tendo inclusive seu culto absorvido pela religião romana.
O Egito Antigo reorganizava seu panteão conforme a mudança de poder e dinastias do reino. Por isso ocorreram de ter ainda outras três divindades associadas com a Lua (Thoth, Iah e Khonsu) porém todas as representações são masculinas.
Chang’e (chinesa)
Dentre as representações de divindades lunares na antiga mitologia chinesa, temos Changxi. Que seria uma representante mais literal da Lua da mesma forma como Selene que, possivelmente devido a proximidade do nome, é mãe de Chang’e.
Chang’e, conhecida originalmente como Hang-e, tem sua história de origem com diversas versões conflituosas.. Em uma delas, conta-se que Chang-e fora expulsa do palácio real do Imperador de Jade por quebrar uma porcelana, sendo condenada a viver entre os mortais.
Foi no plano mortal que Chang’e conheceria o herói arqueiro Houyi, do qual tomaria como esposo. Houyi fora convocado para abater com suas flechas, nove dos dez sóis que existiam no planeta. Por esse feito, ele fora recompensado com um elixir da imortalidade, do qual dividiria com sua esposa para que ambos vivessem juntos pela eternidade.
Porém, o aprendiz de Houyi desejava roubar a poção para si mesmo e, de forma a evitar o furto, Chang’e toma a poção para si e ascende ao céus, escolhendo a Lua como sua morada, acompanhada por seu coelho de estimação Tu’er Ye. Houyi, como forma de manter contato com sua amada, envia doces e comidas favoritas como oferendas a Lua.
A China nomeou três satélites lunares em homenagem a Chang’e.
Hina/Lona (Polinésia)
Uma das deidades associadas com a Lua na mitologia polinésia é Hina, que era uma exímia produtora de tecidos à base de fibras, como faziam as populações da polinésia. Portanto, era bastante requisitada por seus serviços. Um dia, cansada do longo trabalho e da preguiça de seu marido, decide ir embora em direção ao Sol para ter alguma tranquilidade.
Incomodada com o constante calor, decide se mudar para Lua onde finalmente encontra um ambiente calmo e tranquilo do qual faz o seu lar. O nome havaiano para Lua é Mahina, em sua homenagem.
Não há muita informação acerca da deusa Lona, o que pude descobrir era que ela se apaixonou por um mortal chamado Aikanaka, que em algumas tradições polinésias também fora consorte de Hina. Levantando a hipótese que se trate de um nome diferente para a mesma divindade.
Por que existem tantas divindades femininas conectadas com a Lua?
Não existe um estudo sério que comprove a existência de uma divindade primordial lunar feminina. De modo que todas as outras divindades, de culturas tão distantes uma das outras, possam ter se apropriado dela. Justificando todas as coincidências que envolvem mulheres e suas representações lunares.
Hoje sabemos que a Lua influencia as marés (outra força natural frequentemente associada a figuras mitológicas femininas) e há os que dizem que o as fases da Lua influenciam o ciclo menstrual (que tem uma duração muito semelhante de dias). Também há de notar que juntamente com a lua, as representações de magia e fertilidade também estão intimamente ligadas a figura feminina.
De qualquer forma, algo de místico alimenta a imaginação da humanidade. Para que durante todos esses séculos, ao olharmos o céu noturno com todos os seus mistérios escondidos na escuridão, e ao observar a luz do luar. Podemos ver nela, uma forma feminina.
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