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Homem Aranha: Homecoming fez me sentir velho

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Finalmente temos a estreia do teioso com seu filme solo dentro do universo Marvel dos cinemas. O que tivemos dele em Guerra Civil se repete aqui, um jovem enérgico e brincalhão que dá o seu melhor para mostrar seu heroísmo ainda que se atrapalhe demais algumas vezes. Tudo parece maravilhoso, mas ainda sim não consigo tirar aquela sensação de que estou apenas ficando velho… entenda!

 

Voltando a época da escola, mais uma vez, novamente.

Vemos novamente Peter Parker em sua época escolar, porém com atores que genuinamente parecem pertencer a esse ambiente, diferente dos filmes anteriores que seguiam o padrão “Malhação” de adultos fazendo papel de crianças, (ainda que os atores estejam na faixa dos 20 anos). Aumentando assim a credibilidade e suspensão de descrença nas cenas na escola.

 

Porém, de qualquer forma, me senti completamente entediado nessas sequências escolares, mas sem nenhuma reclamação concreta. As tramas são bem representadas e todos os arcos do enredo escolar são resolvidos até o final do filme. Ainda sim, esse tipo de desconforto ascendeu algumas luzes de precaução, que foram se confirmando no decorrer do filme.

 

Multiculturalismo forçado?

Qualquer olhar desatento acusaria o filme de forçar uma agenda multicultural na narrativa do filme devido a escolha de seu elenco. O primeiro amorzinho do Peter não foi a ruiva Mary Jane, nem sequer a loira Gwen Stacy, tão pouco é a morena Betty Brant, primeira “ficante” de Peter nos quadrinhos (que é representada por uma repórter loira no filme).

 

Seu primeiro interesse amoroso é na verdade Liz Allen, originalmente loira nos quadrinhos mas mudada para negra na animação “Spectacular Spiderman”, mantendo a mudança para o filme. Também foi inventado um novo melhor amigo pro Peter chamado Ned, sendo o ator havaiano e Flash agora tem descendência do sudoeste asiático. Basicamente o “branco europeu” é minoria no elenco principal da escola.

 

A primeira vista isso confirmaria uma necessidade de “empurrar” uma agenda progressista no longa, porém uma rápida pesquisa sobre a atual região do Queens (onde mora Peter) nos mostra que o lugar é um grande caldeirão multicultural, onde os habitantes falam mais de 138 linguagens diferentes. Mostrando que o filme é na verdade bastante fiel com o atual estado da região onde a história se passa. O que é um ponto positivo.

 

O amigão da vizinhança

Tentando resgatar o aspecto explorado mais em Espetacular Homem Aranha do que na trilogia original, vemos ainda um herói moleque, que usa das brincadeiras e piadas para disfarçar a própria insegurança frente ao perigo e que, por estar aprendendo a lidar com seus poderes, vive cometendo erros e se atrapalhando contra o crime do jeito mais Buster Keaton possível.

 

Ainda que a presença do Homem de Ferro como possível mentor ao Homem Aranha atrapalhe um pouco (todos nós preferimos um cabeça de teia mais independente) a sua presença não chega a roubar o protagonismo do filme. Tony enxerga no garoto todo o potencial que ele mesmo já teve e sente a necessidade de protegê-lo. Peter por outro lado é apenas um adolescente se aventurando e cometendo erros para aprender com eles.

 

Toda essa jornada de amadurecimento do herói que lida com suas próprias responsabilidades enquanto é “apadrinhado”, ainda que acabe se rebelando contra o seu mentor, combina bem com o espírito rebelde do garoto e ajuda a construir uma ótima história de crescimento.

 

Marvel fazendo um vilão decente?

Como nascem os vilões? Essa é uma pergunta que qualquer roteirista deve se fazer ao criar um antagonista interessante. E ainda que a fórmula do operário de classe baixa oprimido pelo sistema econômico do qual não exerce nenhum poder finalmente se revoltando contra “os de cima” seja batida, é bem executa e conta com a ótima atuação de Michael Keaton.

 

Não é difícil se identificar com a situação dele ao ver que seu investimento de risco foi atropelado por um acordo entre uma multinacional e o governo, obrigando-o a entrar no mercado negro para recuperar seu dinheiro, enriquecendo futuramente por fugir da lei. Essa situação inclusive é muito comum com a constante crise econômica no Brasil que acaba jogando diversos trabalhadores no campo informal.

 

Não só as motivações do Abutre são convincentes, mas toda sua presença e estratégia são sentidas em cena, reservando a si um grande plot twist no final do filme que leva a um confronto épico do herói com um dos vilões de baixo calão da galeria do teioso nos quadrinhos, em grande parte graças a atuação de Keaton.

 

Tá bom… mas não sei se está certo

Com tantos pontos positivos e pouquíssimas falhas no filme, porque então não consigo sentir a mesma empolgação com o primeiro grande filme do Aranha dentro do MCU? Por que ainda sinto meu coração apertar por Logan, até então melhor filme do ano, lembro com carinho de Guardiões da Galáxia vol. 2 e seu dilema de pai e filho explorado na narrativa, e não tenho o mesmo carinho pelo filme que acabei de assistir?

 

Logan é um filme que lida com o medo de envelhecer e da morte por si só, conta a história de quem foi algum grande herói um dia e hoje é só uma sombra do ser poderoso, convivendo com um Professor X já ancião e caquético que pode morrer a qualquer minuto. Esse tipo de pensamento, a forma de lidar com o inevitável fim, é algo que ressoa muito forte em meus sentimentos.

 

Já Homem Aranha tem o foco exclusivamente em dramas adolescentes, não menos angustiantes, mas que para mim já está configurado no fundo da minha memória e hoje só me representa algumas lembranças esparsas. É um filme para quem é adolescente agora, e só eles podem saber exatamente quais sentimentos de ansiedade estão relacionados com o que estão passando.

 

Estou ficando velho e cedo aqui minha opinião para leitores mais jovens opinarem sobre o que sentiram com esse filme. Já que vocês, desta vez, são o verdadeiro foco dessa história. É um novo começo para o Homem Aranha?

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