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Literatura e Interconectividade em Sunless Sea e Fallen London

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Há uma lei não escrita nas regras sagradas do desenvolvimento de games que diz que nunca é uma boa ideia usar muito texto para entregar o enredo ao jogador e por ele tentar mantê-lo preso ao jogo. Porém tanto o jogo Sunless Sea como Fallen London não só aproveitam bastante recursos literários nos seus jogos, como o usam como fator central de seu gameplay.

 

Tudo mergulhado nos universos literários da ficção científica de final do século XIX e começo do XXI, fortemente inspirados por escritores como Lovecraft e H. G. Wells, venham conhecer ambos os jogos, a jogabilidade e mitologia que os une e as inspirações literárias de ambos.

 

Fallen London

Antes conhecido como Echo Bazaar, Fallen London é um premiado jogo gratuito para navegadores que mistura diversos elementos de RPG com uma jogabilidade onde a aventura é basicamente uma grande história que o personagem cria por suas ações.

 

Ao invés de atributos clássicos do RPG como “Força”, “Destreza”, “Agilidade” e “Magia”. Fallen London usa os atributos:

Watchful ou observador: Que delimita o quanto o personagem está atento ao que ocorre ao seu redor.
Shadowy, ou sombrio: O quanto o jogador consegue passar sem percebido.
Dangerous, ou perigoso: Se o jogar é violento e pode assim amedrontar seus inimigos na base da força bruta.
Persuasive, ou persuasivo: O jogador que é bom de papo, aquele que com um vasto poder de convicção consegue contornar seus problemas na base da conversa.
Cada ação do personagem custa  “actions”, que o jogador sempre acumula 20, e que se repõe em uma ação a cada 5 minutos. A recompensa do jogador é o desenrolar de sua trama e do que ele pode descobrir no mundo de Fallen London. O jogo também trás um novo sentido ao “social game” ao atribuir recompensas únicas para o jogador que se aventurar por Fallen London na companhia de amigos.

 

Sunless Sea

Pode se dizer que Sunless Sea é uma expansão do universo de Fallen London. Misturando elementos de jogos de sobrevivência com exploração naval (que muito se assemelha com Sid Meier’s Pirates!), assumimos o controle de um comandante de navio encarregado de estabelecer rotas comerciais, desbravar o oceano, recrutar uma competente tripulação e… sinceramente… se preocupar principalmente em apenas sobreviver.

 

O jogo tem uma curva de aprendizado difícil e sem misericórdia, o jogo deixa claro que é normal a ideia de que você irá deixar diversos capitães morrerem antes de pegar o jeito de como o jogo funciona. Para mostrar um único pingo de misericórdia o jogo permite que você colha algum dos frutos do capitão anterior para benefício próprio.

 

Assim como Fallen London, Sunless Sea também usa um sistema de atributos de RPG de maneira mais “realista”. Nos atributos do jogo temos:

Hearts, ou corações: Determinação, habilidade de se curar melhor.
Pages, ou páginas: Conhecimento, usado para desafios de inteligencia
Iron, ou ferro: Força, aumenta o ataque dos canhões
Veils, ou velas: A habilidade de evasão e fuga de combate
Mirror, ou espelho: Percepção, ajuda a ver melhor no oceano.

 

As mecânicas do jogo constantemente empurram o jogador a desbravar o desconhecido, pelas recompensas ao acumular relatórios de portos ainda não visitados mas com o agravante de ser punido severamente por temíveis monstros marinhos e mistérios complexos que qualquer ilha pode abrigar.

 

Inspirações literárias

Todo o ambiente de ambos os jogos é construído sobre uma versão steampunk do horror da era vitoriana, então é bastante comum termos claras referências de escritores anglo-americanos do período. O próprio nome, Sunless Sea, vem de um trecho do poema “Kubla Kahn” do poeta inglês Samuel Taylor Coleridge. O poema fala de um sonho psicodélico que o poeta teve após uma leitura sobre os relatos das viagens de Marco Polo.

 

In Xanadu did Kubla Khan
A stately pleasure-dome decree:
Where Alph, the sacred river, ran
Through caverns measureless to man
Down to a sunless sea.

 

Outra influência da literatura de horror do período temos Edgar Allan Poe, em especial sobre seu livro “As Narrativas de Arthur Gordon Pym”, a única novela (gênero literário mais extenso que o conto, porém mais curto que um romance) do autor, que fala justamente sobre uma expedição de navio cercada de aventura e horror, com histórias de piratas e canibalismo.

 

Alguns monstros do jogo também são releituras de monstros clássicos da literatura como os “Clayman” seres reanimados da lama e usados para trabalho escravo que se assemelham com o folclore checo do Golem, monstro advindo da mitologia judaica.

 

Também há diversas referências a literatura inglesa e americana de ficção científica de final do século XIX para XX. Da mais óbvia e direta, principalmente em Sunless Sea, temos uma clara homenagem a H. P. Lovecraft, onde o ser humano, insignificante a vastidão do oceano, se depara com diversos monstros marinhos bizarros e estranhos.

 

Iron Republic, uma cidade fictícia do universo de ambos os games onde as leis, humanas e naturais, foram abolidas após uma revolta trabalhista apoiada literalmente pelo inferno, tem várias inspirações nos escritos socialistas de Bernand Shaw e nas utopias e distopias criadas por H. G. Wells, ambos famosos membros da sociedade fabiana inglesa, um agremiado de escritores socialistas.

 

Conclusão

Ambos os jogos sabem lidar bem com o texto e a literatura para entregar sua narrativa sendo no caso do Fallen London, saber fazer uma mecânica completa do jogo sem envolver combate, apenas lidando com escolhas, probabilidades e desenvolvendo sua própria história e no caso de Sunless Sea, adicionando e expandindo a mecânica do jogo num imersivo jogo de exploração marítima.

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