Veja 3 adaptações animadas da literatura anglo-americana muito boas para serem usadas em atividades na sala de aula abordando diversos temas.
3 Adaptações animadas da literatura anglo-americana para a sala de aula
Recentemente fiz uma atividade na pós graduação que deveria escolher uma obra cinematográfica que adaptasse uma obra da literatura anglo-americana e, como um dos propósitos do site é dar validação pra minha vida acadêmica, vou transportar o trabalho que fiz pra cá. Fui também além do pedido e escolhi logo três obras que gosto muito e que podem ser passadas em aula em diferentes momentos.
Alice no País das Maravilhas (1951) para o ensino fundamental II
Grande clássico Disney, o filme é uma amálgama das duas obras de Lewies Carrol sobre a menina Alice, sendo elas o que deu o título da obra, Alice no país das maravilhas e sua sequência não tão famosa, Alice através do espelho.
A história trata da jornada mística de Alice que, ao perseguir o coelho branco, acaba caindo no mundo mágico do País das Maravilhas onde lógica não faz sentido. O motivo dessa junção na adaptação das obras é tão natural é porque a mensagem de ambas é uma só, sobre a puberdade e autoconhecimento.
Carrol usava as histórias para lecionar e entreter a pequena Alice Liddell, na época com 7 anos, sobre as dificuldades de crescer e mudança de corpo. Justamente as dificuldades das crianças que crescem durante o ensino fundamental II (média de 11 e 15 anos). Uma parte do filme que é adaptado diretamente do livro trata sobre a transformação de seu tamanho por ingestão de cogumelo e o quanto ela fica desconfortável por tais mudanças. Esse elemento pode ser discutido em classe.
A grande jornada mística da personagem também pode ser explorada se a turma demonstrar interesse em aprofundar o debate. O conto da morsa e do carpinteiro é um grande exemplo do choque trágico onde confronta a ideia da morte de personagens inocentes e simboliza a perda da inocência na infância. O filme/livro contém até uma crítica política que pode ser abordada.
O Coração Delator (1953) e o Ensino Médio
Dessa vez uma obra curta para uma faixa etária (média de 15 a 18) que não é famosa por ter um tempo de concentração muito grande. Uma adaptação fiel do conto do mestre do terror, Edgar Alan Poe. O coração Delator traça um fino relato sobre a insanidade do ponto de vista do protagonista e nos prende pela sua grande tensão narrativa.
O enredo trata de um homem louco que calmamente planeja o assassinato de seu patrão. Não por nenhuma desavença pelo seu trabalho ou causa pessoal, mas pelo incômodo de seu olho branco que causa desconforto no protagonista.
Nessa adaptação animada feita pela Columbia Pictures, retrata de maneira simples toda a narrativa do conto. Para um público que é mais difícil de se chocar e se prender, um conto de horror é a medida certa para captar a imaginação e interesse da sala. Dá para se fazer alegorias e análises sobre toda a literatura de horror do século XIX. E como seu conteúdo é curto e simples, pode servir como matéria de tradução.
O Velho e o Mar para ensino especializado (curso livre ou universitário)
A trama conta da vida de Santiago, um pescador cubano que está a 84 dias sem conseguir pegar um peixe. Em um último grande esforço Santiago se aventura para além mar e luta para capturar um marlim maior que seu barco e trazê-lo para casa em um mar cheio de tubarões. A história é uma luta íntima de Santiago contra a força da natureza e suas próprias limitações da velhice, tentando se provar mais uma vez capaz de grandes feitos.
A grande premissa no livro é de difícil tradução para a tela. A maior interação do personagem principal é consigo mesmo e com o peixe e por isso torna-se um pouco monótona no cinema. Ainda que o filme de 1958 tenha adaptado fidedignamente os diálogo e conseguido um bom desempenho nas críticas, não é a melhor obra para se passar em sala de aula.
No entanto, há uma animação feita por Aleksandr Petrov que contornou essa questão e soube balancear a narração e os monólogos com belos arranjos visuais que servem não só como representação, mas como elemento narrativo. A animação é feita em pintura pastel e óleo sobre o vidro, uma técnica demorada e artesanal que dá um visual belo e único para o filme se assemelhando a uma galeria de arte expressionista que tomou vida.
Esse caso seria uma lição e tanto sobre adaptações cinematográficas da literatura, com acertos e erros importantes a serem analisados e pesados e o que pode se tirar de positivo da obra. Claro, tal trabalho reflexivo só é possível para pessoas verdadeiramente interessadas, por isso esse público específico para a apresentação.
Com uma estética sensível e diferenciada, a obra pode ser até transmitida para uma turma de artes visuais e gráficas, mostrando a relação de imagem e narrativa em uma obra.