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O que é a quebra da quarta parede em Deadpool?

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Quebrando diversos recordes do cinema e sendo aclamado como o melhor filme de heróis da Fox Studios. Deadpool usa diversos elementos narrativos pós modernos para diferenciar sua narrativa dos demais filmes e inovar numa dose cavalar de humor, entre elas a quebra da quarta parede e a metalinguagem. Entenda o que são esses dois artifícios narrativos e de como ele pode ser usado numa mídia simples da cultura geek.

Deadpool, a salvação da Fox?

Eu devo dizer que pessoalmente tenho uma rixa com as produções da Fox por não considerar que eles respeitam o material fonte, no caso as hqs da Marvel, para fazer suas adaptações. Então foi uma grande surpresa de assistir esse filme e ver o personagem das HQs praticamente saltar na telona e representar exatamente sua personalidade em sua melhor fase (a atual). Não só ele, como a caracterização de Colossus, um personagem que já foi judiado duas vezes nos filmes dos mutantes, finalmente retratado como um russo tiozão, com um código moral sólido e uma personalidade carinhosa que beira a inocência.

colossus
Meu deus! Que diferença.

Porém, vale ressaltar que o enredo central, a história que foi distribuída em pequenas partes durante o filme, não apresenta nenhuma surpresa. É a velha história do rapaz que tinha uma vida boa, é acometido por uma desgraça, faz um processo de superação, tem sua namorada sequestrada e corre em busca de sua salvação. O último ato do filme tem até uma grande batalha numa arena com um vilão genérico em forma de “chefe final” onde a destruição é a norma da casa.

Como então uma história que vem se repetindo tanto nos filmes de ação pode cativar tantas pessoas? A resposta está sim, na boa caracterização do personagem e a dedicação da equipe criativa em fazer um trabalho apaixonado, mas também no uso desses dois artefatos narrativos: A quebra da quarta parede e do uso da metalinguagem. Vamos analisá-los em separado.

 

Quarta Parede

A quebra da quarta parede é um recurso narrativo vindo do teatro e representa a peça como passada em 4 paredes: A de fundo aonde fica o cenário, as duas laterais responsáveis pela entrada e saída dos personagem em cena e a quarta, onde ficam os espectadores. Não há um consenso exato, mas é defendido que a primeira tentativa de agregar o público como parte da peça vem do teatro medieval.

 

Ao contrário da institucionalidade do teatro na Grécia e Idade Moderna, onde temos um ambiente de espetáculos especialmente criado para apresentar peças, na Idade Média, Muito em parte pela fragilidade econômica das cidades e a esparsidade de vilarejos,  tínhamos uma caravana de artistas que viajam pelos vilarejos apresentando suas obras em comédia e sátira.

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A participação do público era usada justamente para aliviar um pouco a seriedade da narrativa, exatamente como usado por Deadpool no cinema. Ao conversar diretamente com o público e se auto referenciar ou fazer referências externas, transforma o público como parte da peça. Mesmo no cinema, uma expressão multimídia unidimensional, essa ideia é brilhantemente incorporada e todo o peso da violência do filme é aliviado em um alívio cômico bem colocado.

 

Infelizmente pouco se tem de registro escrito do que foi criado de teatro na Idade Média, muito de seus recursos foram esquecidos pelos dramaturgos de comédia do renascimento como Shakespeare (inglês) e Moliére (francês), que estavam mais interessados no resgate de técnicas gregas clássicas de história do que na preservação do modelo medieval. O que temos de mais tradicional ligado a isso é a “Commedia dell’arte”, de tradição italiana e posteriormente absorvido ao teatro francês.

 

A quebra da quarta parede no entanto, foi repopularizado no modernismo e amplamente usado como modelo crítico no teatro épico de Bertolt Brecht, onde a intenção era causar uma impressão na plateia para que a mesma tenha uma visão crítica sobre a obra de ficção apresentada. Porém o artefato é resgatado para o fim cômico em filmes como Noivo Neurótico, Noiva Nervosa e Rosa Púrpura do Cairo, de Woody Allen.

Então as pausas feitas na história não servem como elemento para mover a narrativa, mas sim como suspensão de descrença para aliviar a tensão do momento e fazer uma auto crítica ao filme e a produção.

 

Metalinguagem

Eu já abordei esse assunto no texto “Metaficção em Guerras Secretas Marvel e Smash Bros”, porém o uso em Deadpool é um pouco diferente das usadas nas duas obras citadas no texto. Ao invés de contar uma história dentro da história, como uma empresa que quer ver os personagens da Marvel se batendo numa história sobre… uma forma onipotente que quer ver os personagens da Marvel se batendo. Temos um personagem que sabe, exclusivamente, que faz parte de uma obra de ficção.

 

Um dos exemplos é quando Deadpool faz comentários sobre a carreira da pessoa que o interpreta, Ryan Reynolds, ora como alguém exterior “Como você acha que Ryan Reynolds conseguiu papel em hollywood, pela sua boa atuação?” ora como algo intrínsico ao personagem em si “não façam meu uniforme verde… ou animado” ou pelo action figure criticando sarcasticamente a antiga representação do personagem. Deadpool sabe que está sendo interpretado por ele, mas também o referencia como um ator fora do filme.

 

Outro exemplo é quando o mesmo faz referências ao estúdio que disponibilizou seu filme, Fox, ao comentar a falta de personagens da empresa em seu filme “mansão grande, estranho só achar vocês dois aqui… será que o estúdio não teve dinheiro para pagar outros personagens” ou quando comenta a dificuldade de um personagem do estúdio conseguir um filme próprio: “você deve estar se perguntando quem esse cara teve de chupar para garantir um filme solo, uma dica, ele rima com “polverine””.

Deadpool
A expressão de alguém que está se divertindo.

Deadpool até mesmo faz uma auto sátira a filmes de super heróis e ação em geral nos créditos de abertura e na cena que ele prevê que Angel irá fazer “o pouso de super heróis”. Deadpool sabe que está num filme clichê de heróis, sabe do passado desastroso da Fox, da carreira conturbada de Ryan Reynolds e ele está se divertindo a beça com tudo isso.

Conclusão

Apesar de não oferecer nenhuma novidade ou risco em sua narrativa central, Deadpool trabalha com excelência esses dois recursos pós modernos em trechos de sua narrativa sabiamente distribuídos durante o filme, divertindo e encantando até o mais rígido fã dos quadrinhos e atraindo um público leigo d o gênero por seu humor escrachado. Exatamente o que seu personagem faz nos quadrinhos trazendo, enfim, a melhor adaptação das HQs feita pela Fox até o momento.
E quer mais uma pequena dose de metaficção? Pois bem, a história de superação de Ryan Reynolds em sua desastrosa carreira de ator, ter separado de Scarlett Johansson e sua luta incessável para o lançamento desse filme que enfim, trouxe sua consagração no papel na obra atende a estrutura do monomito da “Jornada do Herói” definida por Joseph Campbell, um mito que se repete nas mais diversas narrativas e mitologias da humanidade.

Talvez nós mesmos sejamos personagens de uma obra de ficção, o que acham?

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O texto acabou… já podem ir… Mas leiam os outros artigos!
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