É incrível que, mesmo após o fantástico trailer de Thor: Ragnarok, há aqueles que reclamam pelo filme aparentemente não seguir a história das HQs, não ter o mesmo tom e ter diversos elementos de Planeta Hulk (que para estes, deveria ter um filme só dele).
O problema é o mesmo enfrentado pelo Guerra Civil não poder contar com o Quarteto Fantástico (que tem papel decisivo nas HQs) e Logan (vagamente baseado em Old Man Logan) não ter todos os elementos que envolvam o restante do universo Marvel, como o Gavião Arqueiro cego e a família Hulk. Entenda por que o problema é um pouco maior do que apenas falta de vontade de roteiristas e diretores.
Propriedade intelectual e os estúdios
O problema é óbvio, impasses legais entre os estúdios cinematográficos sobre propriedade intelectual. Fox e Disney se negam a negociar um universo compartilhado ou empréstimo de personagens (como por exemplo a Sony, que detém os direitos do Homem Aranha e personagens próximos) e recentemente foi descoberto que a Disney não pode lançar um filme solo do Hulk sem que divida parte da arrecadação com a Universal por motivos legais nebulosos.
Quem já leu meu texto sobre pirataria ou me conhece pessoalmente sabe que sou o primeiro a levantar bandeiras contra a propriedade intelectual, porém a curto prazo a mudança é impossível então, até o momento, é sob esses termos que temos de julgar os acontecimentos.
A questão que fica no caso não é “os filmes não estão próximos do material fonte” mas sim, se os estúdios cinematográficos estão fazendo um trabalho satisfatório com o que tem em mãos, e em primeira instância, eu digo que a resposta é sim!
A versão realista e pé no chão de Old Man Logan
Ao perceber que não poderia contar com um Tiranossauro da Terra Selvagem tomado pela simbionte, ou o corpo estendido do Hank Pym, morto enquanto estava em forma gigantesca, o filme optou em manter a essência de Road Movie da história, mas adicionar elementos mais “pé no chão” para a história e caçando outras referências do personagem.
Sobre as referências western e de road movies eu já fiz um texto exclusivo sobre. Com o sucesso de público e crítica do longa, imagino que não preciso discorrer muito sobre o caso. Vamos então ao caso mais espinhoso.
Desavença civil?
Inicialmente recebido com clamor, mas lentamente perdendo o fôlego onde hoje, apenas a cena do aeroporto é lembrada com carinho, Capitão América: Guerra Civil fez o que pode para juntar o maior número de personagens em tela com algum arco para ser desenvolvido, abalar as estruturas do universo Marvel no cinema, mas ainda sim não agradou uma boa parcela dos fãs pelo número reduzido de envolvidos (cinco para cada lado).
Porém a essência do conflito, o registro ou não de heróis e a responsabilização destes por um órgão governamental centralizado, ainda existe e é abordada muito bem. Inclusive os arcos individuais dos heróis que chefiam ambos os lados.
Capitão América cresce da imagem deum soldado que não questiona o governo para um rebelde em nome da liberdade. Homem de Ferro, antes egocêntrico e irresponsável, agora é alguém disposto a zelar pelo bem comum. Uma discussão que abordei melhor no meu texto exclusivo sobre o caso.
Thor: Ragnarok X Planeta Hulk e Torneio dos Campeões
Como o filme ainda não saiu, não há muito que eu possa especular sobre o caso sem correr o risco de queimar minha língua no futuro (coisa comum até demais em análises de historiadores) então falarei sobre o que foi mostrado no primeiro trailer de abril de 2017. A primeira reclamação é que a história do apocalipse asgardiano perdeu espaço para uma trama que mistura elementos de Planeta Hulk (o planeta Sakaar e a carreira gladiadora do Hulk) e Torneio dos Campeões (participação do Grão Mestre, possível disputa/jogo entre personagens).
Como já explicado antes, a Marvel/Disney não irá fazer um filme solo do Hulk por problemas com a Paramount, então aproveitar esse enredo de um Thor banido, sem os poderes de um deus e exilado pela galáxia para fazer ponte a essa história maravilhosa do Hulk gladiador, parece uma conexão perfeita. Não temos o Hulk inteligente e comunicativo dos quadrinhos no cinema, então uma história unicamente focada num Hulk que apenas grunhe seria um tanto tedioso.
Um apocalipse de todas as cores
Outra reclamação é sobre o tom do filme mais colorido e leve demais para tratar de um assunto tão sério como a queda de Asgard. E aqui é importante reconhecer a vontade editorial. Obviamente essa mudança de tom ocorreu para se adequar ao modelo estabelecido com o sucesso de Guardiões da Galáxia.
Porém ainda que reconhecemos isso, é difícil dizer que esse tom destoa das aventuras espaciais geralmente retratadas na Marvel dos quadrinhos. Diversos fãs mais fervorosos já notaram semelhanças e homenagens ao desenhista Jack Kirby, responsável não só pelo visual clássico dos primeiros heróis do universo Marvel, mas pela ambientação de grandes aventuras espaciais.
Thor, uma comédia espacial
Apenas o tom mais cômico pode destoar das histórias que geralmente retratam Thor, é notável que sua personalidade no cinema (e isso vem desde o primeiro longa, na primeira fase) é mais parecido com o caráter bufônico do Hércules da Marvel, do que a pose nobre e arrogante de Thor nos quadrinhos.
Porém esse é exatamente o caso, Thor já nos foi apresentado no cinema com algumas linhas cômicas, e o ator Chris Hemsworth vem se destacando em papéis de comédia como em Caça Fantasmas e até mesmo nos curtas cômicos sobre suas aventuras dividindo apartamento em midgard com um humano.
Pois é da opinião deste crítico que essas mudanças e adaptações são sempre bem vindas, pois a alternativas a elas é não ter adaptação nenhuma. No final do dia, o mais importante sempre será a habilidade de contar boas histórias, e é o que acontece nestes casos.