Início Reviews e Guias Metalinguagem multimídia em Zoom (2016)

Metalinguagem multimídia em Zoom (2016)

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Cinema, HQs e Literatura. Três histórias, três mídias e três personagens quebram a linha entre criador e obra e constroem uma narrativa conflituosa que reflete um só sentimento, a insegurança.

Em parceria entre Brasil e Canadá e dirigido pelo brasileiro Pedro Morelli, Zoom usa da metalinguagem para ligar suas narrativas em diferentes mídias de seus personagens principais e interagem entre si como força criadora da história do outro.

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Na primeira narrativa conhecemos Emma, interpretada por Allison Pill (que fez o papel de Kim Pine em Scott Pilgrim vs the World), uma funcionária de uma fábrica de bonecas sexuais de silicone que pratica por hobby o desenho de uma história em quadrinhos.

 

Emma mantém um relacionamento de sexo casual com um funcionário da empresa e em uma das suas conversas com o rapaz revela sua frustração de ter seios pequenos e como ela reflete essa sensação em seus personagens, desenhando a si mesma com seios enormes e criando um personagem com grande sex appeal chamado Edward Deacon.

 

Somos então empurrados do live action para uma animação estilizada que faz homenagem ao pop-art em que retrata o personagem Deacon, dublado por Gael García Bernal (Diários de uma motocicleta). Ele é um famoso diretor de cinema que está tentando criar um filme autoral e poético porém, sem muita ajuda do estúdio que espera que ele crie um de suas famosas sequências explosivas de ação dignas de Michael Bay.

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O enredo de seu filme (e aqui voltamos para as cenas de live action) trata da personagem Michelle, dublada e interpretada por Luciana Ximenes (vocês sabem quem é ela, parem de ser bestas), uma modelo brasileira que quer lançar sua carreira como escritora, mas é descreditada por ser “apenas um rosto bonito” e não transparecer intelectualidade, confrontada inclusive por seu namorado ciumento que é contra a ideia da carreira literária.

 

Qual o enredo que Michelle quer desenvolver em seu livro? A história da jovem Emma, trabalhadora de uma fábrica de bonecas sexuais, que é insegura com seu próprio corpo. Estão entendendo aonde eu quero chegar?

 

Zoom é exatamente isso, três histórias que estão constantemente se atravessando onde o protagonista de uma é o deus criador da vida do outro. Todos os conflitos das histórias são reflexos da insegurança do personagem que a está construindo. Toda a projeção do personagem criada pelo criador, reflete um novo conflito que por sua vez é projetado no outro protagonista. E durante todo o filme esse circulo roda cada vez mais rápido.

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As vezes o foco do filme parece se perder um pouco e as linhas narrativas ficam um pouco bagunçadas. Zoom cria um conceito muito complicado para se expressar e é refém da própria obsessão parecendo que até o diretor sofrer um pouco do mal que é acometido aos protagonistas.

 

Para cada vez que uma história toma tempo de tela, um estilo cinematográfico é usado. A vida de Michelle (que na narrativa é filmada por Deacon) é cheio de ângulos pretensiosos e uma edição típica de um diretor inexperiente se esforçando para parecer autoral. A vida de Emma tem enquadramentos mais típicos mas por vezes, letras se sobrepões a tela (afinal esta é uma personagem de um romance). Tudo o que se passa no mundo de Deacon como já dito, é em uma animação com cores fortes estilizadas para dar vida a uma HQ.
Zoom é uma comédia leve e  interessante que, apesar de parecer dispersa e confusa as vezes, nos entrega uma série de conflitos interessantes de uma forma diferente. A metalinguagem dos personagens reflete até em sua trilha sonora que fala diretamente do que está acontecendo em tela.
Seu final aberto traz uma gama de interpretações que extrapola de vez a linha entre as histórias e inclusive a linha entre protagonista e espectador.

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