Como as guerras influenciaram as HQs de heróis? Descubra como esses conflitos da realidade refletiram diretamente nos quadrinhos.
Como as guerras influenciaram as HQs de heróis
Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria e Guerra contra as Drogas. Essas guerras tiveram grandes influências na criação de personagens e enredo das histórias de quadrinhos de super heróis, vamos discorrer um pouco sobre a história paralela dessa mídia com esses conflitos.
A História em Quadrinho é uma mídia antiga quase impossível de definir quando nasceu, mas definitivamente teve uma grande explosão de popularidade durante o século XX. Emprestando a fama das pulp novels e naturalmente alguns dos seus elementos narrativos, as HQs de super heróis tiveram um grande despertar durante os anos 30 com personagens criados em tiras de jornal como Mandrake, Flash Gordon, Fantasma e, já no final da década e no formato que estamos mais acostumados hoje em dia, Batman, Superman, Capitão América e Mulher Maravilha.
As HQs como qualquer mídia, sofre claras influências do mundo real em suas histórias e as criações dos super-heróis vieram com uma grande influência do clima militar que estava vindo com o começo da segunda guerra. O grande mestre dos quadrinhos, Will Eisner, pode definir melhor: “Se não fosse a depressão, teríamos tido menos livros miserabilistas à la Charles Dickens; nas histórias em quadrinhos, se não fosse Hitler, talvez não tivéssemos tido os super-heróis”.
Até mesmo Batman, que é uma evolução da ideia do Sherlock Holmes e alguns personagens pulp e radio como O Sombra, teve seus momentos de luta contra nazistas, Capitão Marvel (atualmente Shazam e na época não pertencente a DC) tinha um vilão chamado “Captain Nazi” e bem, a primeiríssima edição do Capitão América mostrava na capa o nosso herói travestido de bandeira dando um soco na mandíbula de Hitler.
Claro que a guerra não duraria para sempre e quando a guerra acabou em 1945, houve também uma grande queda na produção dos quadrinhos. A indústria só se recuperaria em 1955 na chamada era de prata dando um enfoque novo de ficção científica e reinvenção de personagens clássicos em novos, como o Flash (antigo Jay Garrick) e Lanterna Verde (antigo Allan Scot).
Guerra Fria
Mas claro que a humanidade e principalmente os EUA não iriam se segurar muito para não se meter em outra guerra. Durante o período chamado Guerra Fria, não houve de fato um conflito direto entre as duas potências, EUA e União Soviética, mas houve uma série de conquistas territoriais e conflitos internos em vários países. Países foram divididos em dois eixos favoráveis a cada potência como: Alemanha, Coréia e Vietnam e parcerias comerciais estratégicas foram firmadas com vizinhos territoriais inimigos, como Cuba pela União Soviética e China pelos EUA (que apesar de comunista, era contra a política soviética).
Existia também o controle ideológico dentro das próprias fronteiras e em países aliados. No lado americano, a perseguição de intelectuais e artistas de esquerda pelo senador republicano Joseph McCarthy ficou conhecido como “guerra as bruxas” e perseguiu e extraditou pessoas como Charles Chaplin. Obviamente todo esse controle cultural do macartismo influenciaria nas mais diversas mídias durante décadas por vir.
Mesmo logo após o fim da segunda guerra, as revistas do Capitão América já pipocavam com alguns inimigos comunistas, valendo até um retcon do Caveira Vermelha como criação soviética, mas foi durante os anos 60, com a criação da Marvel como editora nova e endurecimento da guerra fria que veríamos a guerra ideológica mais a fundo.
O herói que talvez mais evidenciou isso foi Homem de Ferro, industrial responsável pela venda de armas para o governo americano e capturado em visita de campo no Vietnam, colecionou inimigos como Viúva Negra (na época uma espiã soviética), Dinamo Escarlate e Homem de Titânio. Muitos eventos científicos que criaram heróis da Marvel foram também inspirados na disputa científica com a União Soviética. A viagem antecipada do Quarteto Fantástico é uma alusão à corrida espacial dos anos 60 que começou com a emissão de um satélite russo em 1957 e terminaria com o pouso na lua pelos EUA em 1969. A época, toda literatura de ficção científica teorizava sobre os efeitos das viagens espaciais em seres vivos.
Guerra contra as Drogas
As duas análises anteriores são bem conhecidas, mas essa última vejo poucas pessoas comentando. Desde a declaração de Nixon em 1971 nomeando as drogas como o inimigo público numero um e as políticas repressivas dos governos Bush pai e Reagan nos anos 80, uma grande onda de criminalidade varreu os Estados Unidos, principalmente Nova York (cidade que inspira Gothan, na DC e é palco principal das histórias Marvel). Tal endurecimento e criminalização das drogas foi condenado pelo economista americano Milton Friedman, que previu um aumento geral da criminalidade no mundo.
Nesse período que foi chamado por Grant Morrison de “era sombria dos quadrinhos”, diversos heróis que foram criados com temas mais leves ou que passavam por uma fase tranquila foram reinventados como vigilantes sombrios, como: Batman, Demolidor, Arqueiro Verde, Questão e toda a minissérie dos Caçadores, que tem exatamente essa proposta. Além de criar personagens novos como o Justiceiro, Punho de Ferro e Luke Cage. Os roteiristas mais famosos por trabalharem assuntos como drogas e violência seriam talvez Dennis O’Nel e Frank Miller.
Era Atual
Apesar de ainda existir diversos conflitos armados no mundo, a influencia das guerras nas histórias parecem ter diminuído um pouco, sendo “Capitão América: A escolha” um dos poucos exemplos. Porém o contexto político ainda existe. Guerra Civil nos mostrou a divisão de dois grandes grupos do universo Marvel, incluindo nos mesmos times heróis e vilões, em nome de apenas uma questão. O registro obrigatório de super-seres e a obrigação de prestação de serviços a um serviço centralizado, no caso a Shield. Essa série explorou questões como segurança, vigilância e controle estatal, bem como o limite do vigilantismo e da justiça punitiva.
Injustice criado pela DC coloca em evidência a criação de um governo autoritário pelo Superman onde ele assume uma moral social acima de qualquer questionamento humanos e a resistência guerrilheira do time de Batman. Essa saga se passa numa terra alternativa e por isso conta com diversas mortes de personagens principais da editora. A cada fatalidade, não importa que lado defenda, somos frequentemente questionados sobre até que ponto iriamos por um ideal e de qual lados ficamos nessa disputa, uma liberdade caótica ou uma paz ditatorial?
Consegue lembrar-se de outras vezes que as guerras influenciaram as HQs? Deixe seu comentário logo abaixo!