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Simpsons previu a exposição Queermuseu do Santander

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Simpsons previu a exposição Queermuseu do Santander

Todos sabem como o Simpsons pode prever o futuro, será que eles tem algo a dizer sobre a exposição Queermuseu do Santander?

Em tempos de crise institucional, política e econômica e um país cada vez mais dividido em ideologias rivais. Cada semana parece brotar um assunto novo que traz a tona esse clima de rivalidade política semelhante a discussão de futebol. Onde ambos os lados estão cobertos de certezas com nenhum espaço para dúvidas.

 

Dessa vez a discussão é sobre uma exposição Queermuseu financiada pelo Banco Santander por vias de um programa de isenção de impostos que foi boicotada e censurada até o seu cancelamento, levantando questões de moralidade e censura num país que parece nunca se cansar de tais temas.

Simpsons previu a exposição Queermuseu do Santander

 

Porém, é num simples e antigo episódio da segunda temporada, época de ouro da série Os Simpsons, que vemos um debate semelhante em discussão. Com uma mensagem importante que talvez nos ajude a refletir sobre essa situação que estamos vivendo.

 

Comichão, coçadinha e Marge, um breve resumo

Após um misterioso caso de violência familiar Maggie, a bebê da família, agride Homer com uma marretada na cabeça. Marge rapidamente atribui o estranho comportamento aos desenhos violentos que as crianças assistem, dedicando então numa caçada contra o desenho “Comichão e Coçadinha” e sua má influência para as crianças de Springfield.

 

Inicialmente desacreditada, seus esforços acabam vencendo e o desenho muda não por pressão governamental, mas por decisão dos próprios executivos temendo a rejeição popular ao desenho, afetando o ibope e a venda de merchandising da marca, eliminando assim toda a violência do desenho.

 

Ao se depararem com um desenho inofensivo e sem conflitos, as crianças naturalmente se desinteressam pela obra e buscam diversão em outro lugar, saindo nas ruas para brincar novamente, socializando e exercitando-se com outras crianças.

 

A história parece ter um desfecho positivo, as crianças tornam-se mais respeitosas e carinhosas e tudo parece bem, até o momento da chegada na cidade da obra Davi do escultor Michelangelo. Uma estátua completamente nua que choca as mesmas pessoas que se juntaram a Marge na luta pela censura do desenho, usando também os mesmos argumentos.

 

Marge porém diz não acreditar que a obra seja perigosa para a juventude, pois é uma obra de arte mundialmente famosa e defende até que é necessário que as crianças tenham contato com esse tipo de arte. O episódio ainda termina com Homer comemorando a obrigatoriedade imposta pela escola para as crianças visitarem o museu e a estátua.

 

Tá, e qual é a mensagem?

Esse é exatamente o ponto desse episódio, não há uma mensagem clara contra ou a favor da censura, seja estatal ou privada. Sendo um desenho relativamente polêmico e voltado a um público adulto décadas antes de casos como Rick and Morty, seria previsível se os autores tomassem uma postura radical contra a censura, o que não é o caso.

 

Em primeira vista, a censura ao desenho parece até benéfica as crianças, tornando as não só mais dóceis como também produtivas (e diminuindo as agressões de Maggie com o pai) o problema é justamente onde colocar o limite. Em qual ponto podemos dizer que algo deve ser censurado, e quando o nocivo é algo que valorizamos?

 

A troca de lados na discussão

Não é por falta de ironia que as pessoas que hoje clamam por uma rigorosa censura às obras da exposição Queermuseu são justamente as que reclamam da atuação de um “politicamente correto” que, na visão deles, atuam na base do policiamento ideológico e censuram “tudo aquilo que discordam”. Também as pessoas que antes não hesitavam em usar o boicote como arma política, hoje pregam a irrestrita liberdade de expressão para obras de arte.

 

Talvez o erro seja justamente não levar o debate para as nuances sérias que ele necessita e tornar esse assunto como mais uma peça no grande tabuleiro virtual que vem se tornando o debate político, onde um lado enxerga o outro como um vil oponente que deve ser destruído em sua totalidade, sem misericórdia. Onde qualquer sinal de diálogo em ambas as partes é um sinal de fraqueza que deve ser desprezado.

 

Talvez tenhamos que aprender como a Marge, nunca estaremos certos o tempo todo, não importando o quão benevolente sejam nossas intenções, e que a censura de ideias pode ser um problema usado contra nossos próprios gostos num futuro mais próximo que o imaginado. Pelos mesmos mecanismos que usamos hoje.

 

Qual sua opinião sobre o debate? A exposição é de fato um claro sinal da decadência da cultura ocidental? A censura privada e o boicote representam o cerne autoritário tão comum na história social desse país? O programa de isenção de impostos para financiamento de atividades culturais é um problema? O dinheiro seria melhor administrado se fosse captado e distribuído pela máquina estatal? Deixe seu comentário abaixo.

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