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Acertos e erros de Punho de Ferro

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Em meio a problemas de orçamento e até a acusação de “apropriação cultural” a série Punho de Ferro estreou em baixa e foi caçada pelos críticos com notas tão baixas que eram até então inéditas para a Marvel Studios deixando apenas uma pergunta no ar “é assim tão ruim?”

 

Longe de ser um desastre completo, a série sofre sim de alguns problemas óbvios, mas com alguns pontos positivos que valem a pena assistir, principalmente em alguns episódios em especial. É exatamente esses pontos que pretendo balancear neste artigo.

 

Acertos

Como já é tradição nesse tipo de artigo por aqui, irei começar pelos lados positivos, que fazem a série valer a pena e amaciar o coraçãozinho das pessoas que a odiaram por completo.

 

Lutas emocionantes

A série certamente peca em alguns elementos mais místicos das lutas que irei citar mais a frente, e certamente está um pouco longe da coreografia de Demolidor. Mas quando é pra ter uma boa porradaria, a série cumpre seu papel. Pena que são tão poucas.

Daria pra nomear três, a cena do corredor que termina no elevador (lutas em corredores já é uma espécie de tradição nas séries) a prova das três lutas com direito a uma femme fatale envenenando o herói e a luta contra um bêbado praticante de Zui quan no melhor estilo “Drunken Master”, além de uns spares e lutas cooperativas com Colleen Wing o que me leva a…

Colleen Wing
Uma das melhores personagens desenvolvidas na série. Uma professora de artes marciais no subúrbio preocupada em resgatar jovens em situação de risco e recuperá-los com disciplina e educação para uma reinserção social, que lentamente se envolve amorosamente com o protagonista de forma natural, colocando-a em uma situação complicada com seu passado.

 

Em meio a uma série que parece não saber o que fazer com os arcos individuais de seus personagens, Wing tem uma reviravolta em sua história bem como uma decisão de caráter que a constrói como personagem. Não há ações simples que são apenas empurradas para ela, mas sim decisões complicadas que questionam seu passado e sua crença.

 

Expandindo o universo Marvel/Netflix

Personagens que vem sendo cozidos desde a primeira temporada de Demolidor como a Madame Gao e o Tentáculo finalmente ganham um desenvolvimento sério em Punho de Ferro, além de termos a participação de Claire Temple consagrando-se cada vez mais como o “Nick Fury dos Defensores”. As citações e referências a Demolidor, Jessica Jones e Luke Cage também são óbvias.

 

Punho de Ferro também consegue contribuir com sua própria safra de personagens como Davos ao que, tudo indica, irá tornar-se o Serpente de Aço, Lei Kung que nos gibis é o Trovejante, Bakuto, o líder do Tentáculo sul-americano e até mesmo vilões criados especialmente pela série, como a gangue da machadinha.
Erros

Como nem tudo é açúcar, vamos agora falar dos defeitos claros da série, que seguraram todo potencial para manter o alto nível das séries Marvel/Netflix

 

Primeiros episódios

Todo trabalho seriado tem de ser vendido em seus primeiros minutos. É necessário que o autor consiga vender seu produto, construir seu universo e apresentar seus personagens o quanto antes, para que o espectador consiga investir seu emocional na série e deseja acompanhá-la, para ver como tudo irá se desenvolver. E esse é um dos maiores pecados da série.

 

Os primeiros três episódios são arrastados onde tudo parece sério demais ao mesmo tempo que não há nenhum peso emocional.Todos os personagens parecem menos interessantes do que serão no decorrer da história e tudo é focado na já batidíssima história consagrada por Batman do drama do “filho rico que perde os pais quando jovem, mas vira um herói”. Porém esse sequer é o maior problema do começo da série.

 

O thriller psicológico no hospício

Thrillers psicológicos são narrativas que colocam a sanidade do protagonista e, geralmente, narrador da história em questão. Eventos que parecem místicos num ambiente completamente realista. Antagonistas sádicos que, no grande contexto das coisas, parecem ser apenas um ser comum fazendo seu trabalho. O conceito é trabalhado maravilhosamente bem em obras como “Um estranho no ninho”, mas é completamente desperdiçado aqui.

 

O maior problema óbvio é que qualquer pessoa que passou meio segundo de pesquisa, sabe que ele É o punho de ferro, e que o mundo mágico de Kun-Lun como seus poderes são reais, então todo esse esforço da narrativa de colocar sua sanidade a prova é um esforço desnecessário que apenas segura a história de mostrar coisas mais interessantes.

 

Inconsistência na direção

Séries televisivas geralmente tem cada um dos seus episódios dirigida por um diretor diferente, cabe ao showrunner organizar para que se dê uma uniformidade a narrativa. Isso definitivamente está longe de acontecer aqui. Como já foi dito, os primeiros episódios são simplesmente descartáveis. E não é por falta de experiência de seus diretores.

 

Os dois primeiros episódios são dirigidos por John Dahl, que dirigiu episódios de Dexter, um de Arrow e Breaking Bad, entre outros. Já o episódio seis, notavelmente melhor, é feito pelo pouco experiente rapper RZA, ex-membro do Wu-Tang Clan, tendo dirigido apenas o “Homem do Punho de Fero” ironicamente, sem relação com a série.

 

Sem misticismo

Imagina se o Doutor Estranho, por restrições de orçamento, não pudesse mostrar quase nenhum elemento mágico em todo seu longa, seria horrível não é mesmo? É por essa exata situação que Punho de Ferro passa em sua série. Considerado para ser lançado como um filme justamente pelo orçamento apertado, os produtores decidiram fazer o mais difícil. Manter os planos originais da série e “apertar o cinto” nos efeitos essenciais a série.

 

As séries netflix até então estavam famosas por fazer uma abordagem bem realista ao mundo dos super-heróis, mas porque isso condizia com o universo de seus heróis. Demolidor é apenas um cego muito bom de briga com ótimos sentidos. Jessica Jones e Luke Cage são super fortes com algum nível de invulnerabilidade mas sem projetar raios cósmicos ou transformações. Punho de Ferro, porém, é um lutador místico vindo de uma terra fantasiosa QUE SOCOU UM DRAGÃO NO CORAÇÃO para ter seus poderes.

 

Fizessem a série metade dos episódios (todos sabemos que há muito a ser cortado ali) e mostrasse a droga do dragão, o punho sendo usado mais vezes, ninjas que evaporam quando morrem e todo o misticismo que circula em volta do herói. Teria sido a decisão certa para a série.

 

Conclusão

Punho de Ferro é uma série de altos e baixos que no final até se justifica como parte do universo sombrio da Marvel/Netflix, mas que fica abaixo da média consideravelmente alta das séries atuais, justificando sua medida “rotten” do rotten tomatoes por não atender as expectativas.

São as várias chances desperdiçadas que arruinam o que era pra ser uma ótima experiência, mas que ainda sim, é algo divertido a ser assistido para quem é fã do personagem (todos os cinco) ou se interessam pelo universo mais “rueiro” da Marvel.

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