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Rogue One e a Nova Space Opera

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Com um recebimento ainda mais positivo que “O Despertar da Força”, Rogue One: Uma aventura Star Wars estreia a nova fórmula de spin offs da série, focando numa narrativa mais pessoal e se afastando um pouco das raízes de space opera da série Star Wars.

Entenda melhor como que Rogue One mescla elementos de filmes de guerra e cyberpunk nesse novo gênero chamado de “nova space opera” e entenda um pouco a história desses gêneros.

Rogue One, um episódio de Star Wars

Apesar de uma mudança clara de tom e uma pequena atualização de gênero, é impossível negar que o filme se encaixa perfeitamente no universo Star Wars. Os diferentes planetas, personagens e diversas referências e homenagens distribuídas no filme não nos deixam esquecer. Até a trilha sonora que de certa forma parece com a original da série feita por John Willians é quase simbólica ao representar essa homenagem com mudança de tom.

 

A ideia do filme é iniciar uma série de spin offs dentro do universo Star Wars para contar pequenas histórias paralelas aos grandes eventos e, a melhor forma de execução para esse plano, é uma leve experiência de mudança de gênero, o que imagino que acontecerá também no filme de Han Solo em 2018. Nesse caso, temos uma aproximação do Novo Space Opera e dos filmes de guerra.

 

Space Opera e a Ficção Científica Hard

Space Opera é subgênero da ficção científica que adiciona elementos de fantasia e romance a obra, deixando um pouco de lado (mas não esquecendo totalmente) o plano tecnológico e científico da narrativa. Originalmente conhecido por termos pejorativos, o space opera era associado a elementos de narrativas de romance e fantasia, com personagens unidimensionais, aventuras e ambientes excêntricos e uma trama bem definida.

 

O gênero se distanciou muito do que era conhecido como Ficção Científica Hard (ou hard sci-fi), que dava maior atenção aos elementos técnicos e científicos e geralmente traziam enredos complicados e densos. Esse distanciamento faz com que alguns fãs de hard sci-fi argumentem que Star Wars sequer é uma série de ficção científica.

 

Ainda que a série Star Trek flerte com o hard scifi (por utilizar ambientes e personagens excêntricos) pode ser considerado um moderado exemplo narrativo de hard sci-fi , onde apesar da tecnologia ser fictícia e altamente especulativa, há um grande esforço em provar a plausibilidade dos elementos usado em cena. A tecnologia nesse tipo de gênero é levada com naturalidade pelos seus usuários, como um elemento comum que não é rodeado em mistério.

 

Já em Star Wars a tecnologia tem muito mais elementos de magia e espanto do que uma explicação racional. A explicação dos usuários da força (até ser estragada pela trilogia mais nova) era muito mais relacionada a uma questão de fé e magia, do que um elemento orgânico que poderia ser medido. Os exemplos mais claros são os diálogos céticos de Han Solo com Obi Wan Kenobi, e um dos oficiais da Estrela da Morte com Darth Vader que é sufocado após questionar sobre sua “magia antiga”.

 

Uma breve história do Space Opera em Star Wars

Quando George Lucas concebeu a ideia de lançar o seu filme, ele originalmente pretendia fazer uma adaptação do herói das tiras de quadrinhos Flash Gordon, porém sem a possibilidade de licenciamento do material, George Lucas tomou caminho próprio e compôs sua própria obra, mas ainda sim referenciando e homenageando diversos elementos de Flash Gordon.

 

Não é difícil olhar “Uma Nova Esperança” (lançado originalmente como apenas “Star Wars”) e não reconhecer elementos clássicos de fantasia como “o escolhido” como protagonista; a “princesa guerreira”, o “ladrão de moral ambígua” e o “sábio recluso” como personagens secundários e o “bruxo maligno e misterioso” como vilão. Lucas inclusive disse ter se inspirado em elementos samurais para caracterizar a armadura de Vader, dando um aspecto ainda mais místico.

 

Com o sucesso absoluto do filme, toda uma franquia foi desenvolvida ao redor da obra original, sempre mantendo o elemento fantasioso e extravagante na narrativa, mantendo-se relativamente o mesmo até mesmo na trilogia mais nova, décadas depois do original. Num período que space operas já estavam mais do que esquecidas no passado.

 

A História de grandes personalidades x História dos pequenos elementos

É fundamental para o space opera que os protagonistas sejam grandes personalidades que movem toda a narrativa e tenham todo o controle do mundo ao seu redor. Pessoas importantes e poderosas que tem poder para mudar o destino de toda a galáxia. Mesmo Luke, que começa a história como simples camponês, torna-se o “herói escolhido” capaz de destruir a estrela da morte e salvar a galáxia.

 

É essa a grande diferença dos outros filmes Star Wars com o Rogue One, nenhum dos personagens centrais são personalidades de poder na estrutura social do universo fictício. Seus personagens são pessoas desempoderadas que lutam como podem para sobreviver num universo extremamente hostil e agressivo, tornando a própria sobrevivência um ato de resistência frente a uma força muito superior.

 

Esse tipo de narrativa na ficção científica está longe do space opera e muito mais próxima de outro subgênero, o cyberpunk.

 

Caso você não saiba o que é cyberpunk, eu dei uma ótima resumida no meu texto sobre a invenção do “cyberhipster” pelo Her, que pode ser acessado aqui. Para os que precisam apenas de uma definição simples, o cyberpunk se define pelo “high tech, low life” (alta tecnologia, baixo padrão de vida), basicamente a história de pessoas normais e pobres numa sociedade futurista.

 

As várias faces de Rogue One

O primeiro sinal de que o filme flerta com essa linha narrativa é quando observamos a personagem Jyn passeando por apertados corredores espremida entre uma enorme variedade étnica (no caso de Star Wars, envolvendo também raças alienígenas) com alguns relances de comidas exóticas de outras culturas. Esse tipo de retrato de uma sociedade cyberpunk foi imortalizado pelo clássico cult Blade Runner.

 

Porém a narrativa do filme vai lentamente se transformando conforme os personagens centrais vão se desenvolvendo e ganhando importância. O que antes era apenas um esquadrão suicida (que vale) numa missão sem futuro, vai se tornando um ponto fundamental para a conquista rebelde frente ao império. Nesse meio termo narrativo, a obra vai tomando proporções de filmes de guerra.

 

Nunca antes foi mostrado um conflito tão sério com consequências tão pesadas num contexto de guerra em Star Wars (que ironicamente tem “war/guerra” no nome). As câmeras são posicionadas no terreno, dentro da batalha, e acompanhamos de perto o peso da destruição.

 

As consequências desse conflito movem a narrativa ainda de volta às raízes space opera da série, que eu descrevo melhor no parágrafo seguinte, porém como tratam do final do filme, eu deixei em uma sessão de spoilers:

 

[spoiler] Conforme todos os personagens centrais vão morrendo, desde a equipe de resgate a até mesmo o vilão central da trama (que não é o Tarkin). O filme vai tornando-se mais épico, mais espalhafatoso, mais cafona… ou seja, mais space opera!

 

E é na cena final, quando Darth Vader emerge das sombras e dizima a frota de rebeldes que no entanto, consegue fugir com os planos e entregar a uma rejuvenescida Princesa Leia, fazendo uma menção direta ao Episódio IV: Uma Nova Esperança, que temos a volta completa no arco e estamos entregue perfeitamente as raízes da franquia.

 

Poxa… deu até vontade de assistir Uma Nova Esperança de novo…[/spoiler]

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2 COMENTÁRIOS

  1. Ótima análise. De fato, o roteiro de Rogue One (principalmente do começo à metade) flerta muito com o cyberpunk, algo que vários filmes da saga fizeram em apenas algumas cenas aqui e ali.
    Não tinha reparado nessa gradual, e genial, transformação da história de um cyberpunk (com um grupo de párias lutando contra um sistema opressor) para um space opera épico, com Darth Vader e a princesa Leia fugindo com os planos.
    Adoraria mais matérias sobre cyberpunk, o gênero é rico e extremamente interessante.
    Abraços!

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