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A magia na cinematografia de Doutor Estranho

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A magia na cinematografia de Doutor Estranho

Como a magia se expressa na cinematografia de Doutor Estranho? Mais um filme do Universo Cinematográfico Marvel chega as telonas, fechando esse prolífico ano com os filmes de super-herói. Resta saber, é bom?

Conseguiu se destacar nesse ano tão concorrido com diversas obras? Está contribuindo para o esgotamento da fórmula de filmes de origem de super heróis? Ou traz novos ares, oportunidades e parâmetros para a obra?

O filme sim, tem um ar novo com efeitos e visuais surpreendentes e de tirar o fôlego que definitivamente pagam o ingresso do 3D (onde talvez esse ano, apenas Mogli fez valer essa diferença) e aproveitou de tudo que já está bem estabelecido numa narrativa de super-herói. Vamos então aos pontos destacados.

Narrativa

Pra mim o ponto mais fraco do filme. É a narrativa comum em todos filmes de origem de super herói. Uma versão corrida da jornada do herói que sinceramente não tem muito mais a oferecer. Eu tive a mesma relação com a história como a que tive em Deadpool. Ao ver um filme fiel com a essência do personagem e inovador em sua fórmula, mas com uma narrativa central de três atos com uma fórmula um tanto batida que às vezes parece segurar o potencial do filme.

Justamente por isso não entendo daqueles que reclamam que a narrativa foi “muito corrida”. Ora, foi justamente o que mais agradeci. Ter corrido logo com a história de origem para termos enfim o nosso querido mago em tela, conjurando feitiços e pulando entre as dimensões. Uma vez o universo mágico estando estabelecido em tela, tudo flui maravilhosamente.

Isso enquanto se desviava das minas narrativas e das polêmicas de apropriação cultural.

Apropriação cultural?

Okay, é um pouco difícil fingir que não existe. Mas todo o contexto da narrativa de Doutor Estranho está baseado numa apropriação um tanto chata. Strange é “o predestinado”, que cai de bunda num universo místico milenar e, em não muito tempo, torna-se o grande chefão do lugar tomando o lugar do Ancião, com direito a um fiel servo tibetano.

Nesse caso a Marvel como editora enfrenta duas questões preocupantes. A primeira é não ofender o mercado de cinema chinês, que é o maior consumidor do mundo e não vê com bons olhos a emancipação da cultura tibetana. Por isso as referências da história ao Tibet foram apagadas quando possível.

A segunda problemática é sua grande fã base mais progressista, (talvez pelo grande histórico de protagonismo feminino em suas histórias, leia aqui) que não é muito afeita a uma narrativa eurocentrista como essa. E devo dizer que as soluções encaradas pela editora foram bem satisfatórias.

A troca da imagem do Ancião como um velho monge tibetano por Tilda Swinton se mostrou acertada pelo ar místico e andrógino que a atriz facilmente adapta. Barão Mordo, que é nas HQs o aprendiz invejoso com o novato, tem aqui sua etnia trocada e uma motivação mais sincera. E Wong tem um arco muito mais interessante, com uma piada em fore-shadowing na trama que poucas vezes vi num filme comercial, como é spoiler, ele está marcado no parágrafo abaixo.

[Spoiler] Wong é apresentado como um sério bibliotecário que não ri das piadas cafonas de Strange, quando Strange diz que todos riam de suas piadas, Wong pergunta se eles trabalhavam para ele, causando um mal estar imediato. Quando Strange, no final da trama, já tem seu arco concluído, ele solta outra dessas piadas infames a qual Wong gargalha, mostrando que agora, reconhece sua autoridade como Mago Supremo da Terra.[/Spoiler]

Efeitos visuais

De longe o melhor do filme! A reação dos fãs ao assistirem os primeiros trailers (a minha inclusive) era que o Doutor Estranho tomaria emprestado muitos conceitos cinematográficos de Inception (A Origem), o que sinceramente parecia um pouco preguiçoso. Mas rapaz… se estávamos enganados…

As distorções de realidade estão lá, mas tomam uma proporção muito maior, com ambientes realmente vertiginosos que em momentos lembram as pinturas de M. C Escher. Os quadrinhos de Doutor Estranho tem alguns conceitos visuais muito mais psicodélicos que seriam de alguma dificuldade de adaptação para o cinema. Não seriam impossíveis, mas exigiriam uma dedicação única do diretor, e felizmente esse foi o caso do longa.

Somos apresentado ao multiverso marvel numa grande montanha russa de sensações que traduzem perfeitamente a sensação de folhear as histórias mais bizarras do personagem. A Dimensão Negra tem um aspecto colorido com tons de roxo e azul que diferenciam do aspecto infernal dos quadrinhos.

Dormammu, que mais parece um demônio nas HQs é representado muito parecido com um Eternal, talvez porque a Marvel esteja reservando o aspecto infernal para mostrar Hela e Surtur, no filme vindouro do Thor: Ragnarok.

Doutor estranho e a Magia

Mesmo nos quadrinhos, a Marvel não é muito afeita a magia. Seus maiores heróis são grandes cientistas que resolvem todos seus problemas com tecnologia. Afinal, seu grande nascimento como editora (vindo das cinzas da Timely Comics, fundada nos anos 40) foi durante a grande explosão da Ficção Científica dos anos 60. Mas no universo cinematográfico, a situação era ainda mais crítica.

Mesmo os heróis com origens mágicas, como Thor e os asgardianos, possuem uma espécie de “ciência alienígena” que parece magia a nós e não há certeza se os poderes de Wanda são realmente magia ou provêm das experiências feitas por Von Strucker. Pois bem, em Doutor Estranho não há escapatória, é magia mesmo e de onde ela veio, há muito mais!

Há até uma explicação mequetrefe de como as conjurações são “linguagem no código fonte da realidade”, para sossegar os fãs mais chatos que pregam por algum tipo de realismo, mas logo somos presenteados com um grande panteão mágico de relíquias, livros proibidos e encantamentos perigosos. Abrindo possibilidades mágicas para todo o universo marvel, como Motorista Fantasma em Agents of Shield e Punho de Ferro e a ressurreição de Elektra, nos Defensores.

Conclusão

Um excelente filme com alguns defeitos como narrativa de origem batida e algumas piadas (não todas) fora de tempo, mas que facilmente se perdem em meio a tantas qualidades com efeitos e visuais incríveis e um conceito e filosofia com a morte que, pelo menos eu, fiquei encantado pois reflete bastante o meu pensamento sobre o assunto.

As cenas que Strange começa a “brincar” com o tempo também são um espetáculo a parte e corriam um risco de simplesmente destruir completamente a montagem de cenas (como por exemplo, o Esquadrão Suicida fez).

Doutor Estranho é um ótimo adicional a biblioteca de filmes Marvel e abre inúmeras possibilidades futuras para o universo marvel que deixa esse fã, completamente ansioso pelos resultados.

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