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Conflito do campo e a cidade em O Menino e o Mundo

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Nomeado ao Oscar de 2016 para melhor animação, a produção nacional “O Menino e o Mundo” ganhou uma enorme visibilidade e conquistou um espaço valioso no cinema mundial. Tratando de temas como industrialização e a troca do campo pela fábrica, o filme se expressa de um jeito único, entenda um pouco dessa relação problemática apresentada na obra.

 

Visto pelos olhos da imaginação de uma criança, tudo no filme é bem expressivo e simbólico. Lidando com a ideia que ele não tem diálogos (a não ser poucas conversas feitas num idioma inteligível) o filme conta com o som e principalmente a imagem para se expressar, e o faz com qualidade e inovação.

 

Se expressando pela arte

Na primeira metade do filme onde é mostrado quase que exclusivamente o campo, vemos técnicas de desenhos mais orgânicos, como giz de cera, carvão e aquarela. Dando toques suaves e quase aconchegantes a representação do campo, um lugar que serve como ambiente comum e familiar para o protagonista.  

 

Em contraparte quando avançamos para a cidade, ou quando elementos dela são representados em tela como carros e fábricas, temos uma arte muito mais “dura”, rígida e até poluída. Prevalecendo estilos de colagem e em uma parte até um exemplo de vector art, fazendo uso do estilo e expressão artística para simbolizar uma sociedade mais mecanizada.

 

O filme trás muitas influências da pintura modernista nacional, principalmente em Tarsila do Amaral, para dar uma base familiar para os desenhos e representação. Enquanto usa uma arte mais pós-moderna para a representação da cidade.

 

O conflito simbólico do Carnaval

Um dos conflitos que me chamaram muita atenção no filme foi as representações do Carnaval de Bloco, muito comum em cidades do interior do Brasil e do Carnaval de de Avenida, popularizado principalmente no Rio de Janeiro e São Paulo. Ao retratar o carnaval de bloco, vemos pessoas tocando e se expressando livremente de forma orgânica e dinâmica, enquanto a expressão do carnaval de rua é muito mais mecanizada.

 

O carnaval é protegido por um cordão de isolamento policial e suas músicas soam como canhões disparando. A leitura remete diretamente a criação do carnaval de avenida durante o regime autoritário de Getúlio Vargas que, para sufocar a expressão natural das escolas de samba, fez com que todos os desfiles seguissem rigorosas regras de disciplina, com tempo de apresentação e notas oficiais de apresentação, se assimilando a marchas militares do que uma expressão cultural.

 

A própria figura do militar como agente do poder no filme deixa ambíguo se o filme se passa durante a ditadura Vargas ou sob o regime militar, onde ambos períodos passaram por uma rápida industrialização e repressão popular.

 

Conclusão

Visando se expressar em pé de igualdade para todo o mundo, O Menino e o Mundo é um filme com uma assinatura impecável brasileira, por retratar conflitos sociais e históricos nacionais com tanta precisão, que não depende de esteriótipos e clichês para se expressar. Criando um filme automaticamente reconhecível para o público nacional mas que também dialoga com os demais países latinos e… porque não? Com o mundo.

 

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