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Religiosidade em Demolidor: Diabo da Guarda

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Religiosidade em Demolidor: Diabo da Guarda

Famoso arco de histórias de Demolidor, Diabo da Guarda faz diversas homenagens a arcos clássicos da Marvel, faz o possível para resgatar a editora de uma quase falência e sim, dá ênfase na religiosidade católica de Matt Murdock e sua descendência irlandesa.

Os terríveis anos 90 para Marvel

Os anos 90 não foram muito generosos com as HQs. Passando por algo semelhante a bolha econômica dos videogames caseiros de 1984, as revistas em quadrinhos estavam passando por uma crise especulativa e de confiança.

Diversos números diferentes chegavam as lojas com qualidade questionável e nenhuma programação das editoras. Historias cada vez mais rasas e imagens sexualizadas obtinham maior destaque ao invés de enredos detalhados e bem construídos. A beira da falência, a Marvel chegou a um ultimato. Precisava mudar, ou fechava as portas.

Dentre as mudanças editoriais que então ocorreram, dois nomes se destacam. Kevin Smith e Joe Quesada, respectivamente o roteirista e o desenhista desse arco que vos falo.

De Mallrats e Clerks para as HQs

Smith era um diretor de cinema promissor, havia feito fama com os clássicos da cultura nerd Clerks (O Balconista) e Mallrats (Barrados no Shopping).

Portanto, ele trouxe consigo novas visões para a história sequencial, contrariando o meio cineasta que via as HQs como uma mídia menos nobre.

Kevin Smith Religiosidade em Demolidor: Diabo da Guarda
Kevin Smith

Com o intuito de inovar na mitologia do personagem, Smith decidiu dar mais atenção ao lado religioso da personalidade do Demolidor, frequentemente esquecido.

Como descendente irlandês, um país tradicionalmente católico, Murdock herdou essa religiosidade de seu pai. Dessa forma, parte do sofrimento do herói e sua vontade de auto punição é refletida na religião.

O cristianismo na narrativa de Demônio da Guarda

Essa amargura e ressentimento é apresentada logo no começo do arco, iniciando com a declaração em forma de carta de Karen Page, então ex-namorada de Murdock.

A história prossegue em longo prólogo com quadros em off que lembra um pouco o começo de Silent Hill 2, que foi lançado 4 anos depois.

Analogamente acompanhamos uma mulher fugindo da maternidade após um misterioso atentado no hospital. Conforme a história desenvolve, descobrimos que todos os bebês foram mortos e apenas o dela sobreviveu.

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Descobrimos mais tarde que a moça era virgem, e que seu filho não foi concebido sexualmente, e seu nascimento foi anunciado por um anjo. Reconhece a semelhança?

Dessa forma, tudo parece levar a acreditar que o bebê é o salvador e a moça pede que Matt faça o possível para protegê-lo, revelando que sabe de sua identidade. E é ai que as coisas ficam complicadas.

A história se complica

Uma outra figura entra em jogo e diz a Matt que sabe de sua identidade como Demolidor, depois afirma pertencer a uma organização religiosa secreta.

Também diz que o bebê que Murdock ficou responsável é na verdade o anticristo, e deixa a responsabilidade dele para que mate a criança, afim de evitar a vinda do apocalipse.

Antes de sair ainda deixa uma pequena cruz celta e um aviso, tudo a partir de agora na sua vida será um inferno enquanto estiver com o bebê. Por conseguinte, a vida de Matt é flagelada por diversas desgraças, empurrando o advogado cada vez mais para uma decisão drástica sobre o bebê. Murdock se vê questionando entre o real, o fantasioso e sua própria fé.

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De forma a lidar com a culpa e o ressentimento, algo venerado no catolicismo, o arco também trabalha com o passado mulherengo e seus relacionamentos nem um pouco saudáveis com personagens como Elektra, Viúva Negra e Mary Tyfoid.

Nesse ínterim, parte desse passado vem assombrar Matt, fazendo com que o personagem tenha pensamentos misóginos no decorrer da história.

Demolidor Diabo da Guarda Viúva Negra

Fantasmas do passado

Quando as coisas se resolvem no final da saga porém bate o arrependimento, outra grande joia católica. Buscando redenção, Matt vai atrás de Natasha para se desculpar e tem uma conversa franca e sincera com a personagem.

Vemos um lado bastante humano da personagem na face de uma mulher que se afirma sexualmente e é ao mesmo tempo dura e carinhosa.

Outra volta triunfal de uma personagem chave da vida de Murdock é a participação de sua mãe, hoje freira, na recuperação do herói e servindo como base de sua fé.

Diabo da Guarda é uma jornada intima ao sofrimento e questionamento interior do herói. Fazendo suspeitar de tudo aquilo que lhe serviu de apoio durante sua vida, sua fé.

Como resultado, esse arco merece destaque entre as inúmeras histórias memoráveis do Demolidor, por nos mostrar o melhor que esse personagem tem a oferecer. Em conclusão, a história de um herói trágico em constante superação e afirmação existencial.

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