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Games e Arte – Parte 4: Art Games

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Discutindo sobre games e arte, hoje analiso os Art Games. Será que videogames podem ser considerados arte?

Esse artigo faz parte de uma sequência de artigos sobre o tema. Não é completamente necessário os ler na ordem, mas se o tema te for interessante, esses são os links para os outros artigos.

Parte 1: Narratologia
Parte 2: Ludologia
Parte 3: Desenvolvedoras Indies
Parte 4: Art Games

 

Depois de muito tempo fazendo essa lista, acho que finalmente chegamos ao fim. A discussão se os jogos digitais podem alcançar o status de mídia artística é muito extensa e nessa série de quatro artigos fiz o possível para enumerar as possibilidades e potencialidades dos jogos digitais como mídia artística, hoje falaremos da última e provavelmente menos conhecida forma de lidar os jogos como arte, os art games.

Assim como disse no artigo sobre industria indie, esse segmento é também bastante isolado e averso da grande mídia e busca um caráter mais próprio e individualista de expressão, se contrapondo aos games de indústria AAA que é um massivo trabalho em conjunto. Apesar do nome deixar a entender que ele isola a possibilidade dos outros jogos de alcançarem a potencialidade de obra de arte, ele apenas enumera uma potencialidade única de expressão como mídia.

 

Diferente do campo narratológico, esse segmento não se insere no campo das artes narrativas e diferente da ludologia, ele não se afirma inteiramente pela jogabilidade e interação. Os art games tentam se entrosar no grande campo das artes visuais, com a adição da interação direta entre espectador e obra como seu único diferencial.

 

Se encaixando temporalmente no grande âmbito da arte visual, os jogos digitais, com suas origens entre os anos 60 e 70, presenciaram uma grande explosão de estilos e gêneros da arte contemporânea, pós-moderna que rescindiam com a arte moderna e migravam para outras mídias e manifestações que não fossem a pintura. (Apesar de críticas como Tiffany Holmes traçar as influencias do art game desde o dadaismo, nos anos 30). Irei discorrer brevemente sobre alguns desses movimentos separados e o que eles contribuíram para os art games.

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Surrealismo

Apesar de anteceder, e muito, os jogos digitais como mídia, esse movimento artístico é uma grande influencia estética nos jogos mais abstratos. A arte surrealista foi uma ruptura com a padronização e perfeição do realismo e uma escalada na abstração do movimento expressionista. No surrealismo as formas não fazem sentido ou seguem padrões. Os desenhos são feitos de forma a dar expressão a irracionalidade e ao inconsciente.

 

Um jogo que dá bastante fôlego a essa ideia dentro dos art games é o Scrape Scraperteeth de Jason Nelson. Todas as imagens do jogo não seguem uma estética linear e são em grande partes grandes rabiscos e trechos de textos, funcionando quase como um “anti-jogo”. Nelson tem diversos outros jogos e trabalhos artísticos que são facilmente encontrados on-line.

Scrape Scraperteeth

http://www.secrettechnology.com/scrape/scrape1.html

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Fluxus e Happening

Uma outra abordagem “anti-arte”, fluxus foi um movimento inter-midiático entre artistas no mundo todo que valorizava a espontaneidade e a junção de mídias e manifestações numa mesma obra. O happening é uma manifestação artística que prega também a espontaneidade e improvisação, de modo que a obra nunca se repita e cada vez seja experienciada de uma forma diferente, sendo uma manifestação exclusivamente performática.

 

Interatividade entre obra e espectador é meio que o grande diferencial dos jogos digitais, então não são poucos os jogos que permitem ao jogador se manifestar livremente na obra. Alguns art games clássicos como Moondust e Alien Garden são bons exemplos de interatividade e abstração em jogos digitais. Sobre performatividade, os jogos de realidade aumentada e jogos de realidade alternativa são um grande campo de estudo sobre esse caso.

 

Pop Art

Como já disse no artigo sobre Desenvolvedoras Indie, a crítica feita pela escola de Frankfurt a cultura de massa causou um grande impacto no mundo da arte e alguns artistas optaram por abraçar a arte mais popular ao mesmo tempo que ironizam a grande indústria. Imagens simples e minimalistas são comuns nessa área inclusive algumas fazem homenagens a estética clássica de quadrinhos de heróis e capas de livros pulp de ficção científica.

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Digital Art

De modo abrangente, os art games estão inseridos nessa grande classificação que é chamada a “digital art”, que é basicamente a criação de arte. Seja visual, textual, musical ou performativa, com a ajuda de computadores e outros eletrônicos.

 

Multimídia por excelência, a digital art procura se expressar pelas inúmeras variações que a tecnologia tem a oferecer. Seu desenvolvimento acompanha o passo da tecnologia de criação de sons e imagens e encontra no jogo digital, o encontro perfeito entre performance, som e imagem.

 

Análises de art games

Bem, entender sobre esses diversos estilos e movimentos artísticos é bem interessante. Mas de nada adianta sem conhecer o objeto de estudo desse artigo. Então separei aqui três art games indiscutíveis, com temáticas variadas para fazer uma breve review com link direto para o jogo.

 

Eu recomendo imensamente que vocês joguem a obra antes de ler a minha resenha, como uma obra de arte por excelência, é preciso experienciar com calma e tranquilidade o jogo antes de qualquer informação exterior possa estragar a experiência. São jogos que mais valem a pena sentir o ritmo e refletir seus próprios sentimentos do que se preocupar em “ganhar” o jogo. A potência estética de uma obra de arte não é sobre o que ela é, mas como ela faz você sentir.

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Samorost

http://amanita-design.net/samorost-1/

 

Samorost seria um típico adventure point n click de puzzles com um enredo básico, até chulo se for pensar a sério, se não fosse por sua estética absurda e surrealista. Desenvolvido por Jakub Dvorský e publicado pela Amanita Design, Samorost mistura uma série de imagens distorcidas e monstros impossíveis aliados a uma sonoplastia perturbante.

 

O enredo central do jogo? Resgatar o planeta de um duende de colidir com um asteroide. Se você demorou para “entrar” no ritmo do jogo e quer uma nova experiência, esse é o primeiro de uma grande franquia, e a própria Amanita Design publica outros jogos de igual perturbação.

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Passage

http://hcsoftware.sourceforge.net/passage/

Okay, não teria muito problema em jogar Samorost depois de ler o meu review. Mas esse jogo é realmente importante você jogar até o final e extrair o que sua mente produzir sobre a história. Vamos lá… ele só tem 5 minutos? Fechado? fechado!

 

Como o nome já deixa escapar, Passage trata de um simbolismo para a nossa passagem pela vida… Você é um personagem perdido num mundo que não conhece e cada passo que você dá te aproxima da morte. Você pode escolher uma parceira, mas isso irá te atrasar e não será possível entrar em alguns lugares. Você poderá caminhar longe, porém sem se aprofundar na vida, assim como pode mergulhar em diversos caminhos e mistérios e ainda sim, não sair do lugar. Há diversos itens para pegar que na verdade… não significam nada. Apenas o valor que você dá para eles.

 

É ou não é, o melhor simulador de existência possível?

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Grey
http://www.kongregate.com/games/kevindoesart/grey

Criado por Kevin Does Art, confiram o site dele!
http://www.kevindoesart.com/#!games/c15xz

Se você bancou o espertão(ona), leu o review de Passage antes de jogar e se arrependeu, saiba que nesse caso a coisa é ainda pior. Fica aqui o último aviso para você ir jogar esse incrível jogo que carrega sozinho no navegador antes de ler minhas frias linhas analíticas, confio em você!

 

Bem, antes de mais nada adianto que a sensação que o jogo transmite e o que você interpreta dele é completamente pessoal, aqui fica em registro apenas o que eu absorvi dele. É aquele tipo de situação que a análise da pessoa diz mais sobre ela mesma do que sobre o game em si, pois bem, vamos lá.

 

Grey trata de solidão e depressão. Todo o mundo cinzento (por isso o nome) passa uma terrível sensação de isolamento e tristeza, mesmo com sua simples estética pixelada. Conforme você vai coletando os itens e entregando pra mocinha no começo da tela, as cores vão aparecendo e o ambiente fica mais agradável, porém você vai se perdendo pouco a pouco a cada busca.
O jogo também trata de se doar, fazer algo por outro que não faz exatamente bem a você. No final você vai desaparecendo aos poucos enquanto a outra personagem vai melhorando e ficando mais feliz. No último esforço que você faz para a agradar, você some completamente na névoa…

Outros textos da série

Parte 1: Narratologia
Parte 2: Ludologia
Parte 3: Desenvolvedoras Indies
Parte 4: Art Games

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