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Protagonismo Feminino na Sega

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Considerado uma mídia que não traz muito respeito ao protagonismo feminino. Jogos de videogames geralmente trazem protagonistas masculinos idealizados e super protetores e relegam papéis femininos a meros prêmios para os jogadores, funcionando num esquema de “donzela em perigo”. Felizmente existem algumas exceções e como toda mídia artista, temos hoje alguns bons exemplos de personagens femininas fortes. E nos primeiros anos de mídia, houve uma empresa que se destacou em fornecer personagens femininas, e essa empresa foi a Sega.

Desde o lançamento de Gun Fight, em 1975 (o primeiro jogo a ter personagens humanos jogáveis), não existiu até 1984 um jogo com uma protagonista humana e mulher (com exceção talvez das protagonistas dos jogos pornôs do Atari e atletas de jogos de esporte). Apenas tendo Lady Bug, Ms Pac-man (ambos jogos clones de pac-man)e Kangoroo com protagonistas femininas. Nascia então em 1984 Papri, a protagonista de Girl’s Garden.

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Girl’s Garden (1984)

Criado como parte um projeto para trabalhar na Sega por Yuji Naka (produtor de jogos como Sonic, Phantasy Star e Nights into Dreams) e outra pessoa não creditada. Girls Garden agradou tanto os chefes que acabaram publicando o jogo. O game retrata a busca de Papri por flores para dar ao seu namorado para que ele não a traia enquanto tem de fugir de URSOS usando mel para distrai-los (lógica dos games, cara…)

Apesar do primeiro caso de protagonismo feminino nos games não mostrar exatamente uma boa personalidade feminina, ou um relacionamento saudável ou sequer como ursos funcionam, o jogo já quebra um paradigma de que os homens têm toda a ação enquanto as mulheres são os personagens passivos. A jogabilidade é bem interessante com uma dificuldade considerável, os gráficos são bons considerando a plataforma para qual foi lançado, o SG-1000, primeiro console da Sega.

Ninja Princess (1985)

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Se a primeira humana em jogos não se saiu tão bem em mostrar independência, não podemos dizer o mesmo da próxima. Em 1985 é lançado para os fliperamas pela Sega o jogo “Ninja Princess” produzido pela designer Rieko Kodama, trazendo a história da Princesa Kurumi, que é raptada a mando de Zaemon Gyokuro, pretendendo tomar o poder da província Ohkami (situada no período Edo). O que sobra para a nossa princesa fazer? Rezar para um guerreiro anônimo resgatá-la? Talvez para uma princesa de outros jogos sim, mas não para a nossa princesa ninja!

Conseguindo escapar do seu rapto, Kurumi começa um treinamento ninjutsu e se torna uma kunoichi (uma mulher ninja). A princesa então volta ao seu reino enfrentando os soldados de Ohkami com seus próprios punhos (além das kunais e shurikens, é claro) e assim retomar o poder. A jogabilidade consiste em um “run n gun” (estilo predominantemente composto por personagens masculinos bombados e armados) bem eficiente e que ANTECEDE os clássicos Ikari Warriors e Comando. Basicamente correr pela tela, acertar todos os inimigos, colecionar power ups e derrotar chefões em cada tela.

Infelizmente ao ser portado nos fliperamas americanos ou mesmo na adaptação lançada internacionalmente para Master System foi trocado a personagem por um homem e mudando as paletas de cores mais vívidas por tons mais pastéis e sendo chamado de “The Ninja”. Um jeito patético de transformar um jogo inovador do estilo em um run n gun genérico.

Flash Gal (1985)

Também no ano de 1985 foi lançado um jogo para os fliperamas chamado “Flash Gal”, esse eu não consegui pesquisar o nome dos produtores e nenhuma informação adicional. Tudo que sei é que é um jogo de plataforma com uma personagem que, bem… é a cara da Mulher Maravilha, parece inclusive que ia ser um jogo da mesma mas a Sega não obteve os direitos autorais com a DC. O jogo parece ser bem feito, ao menos.

Depois do lançamento de Ninja Princess, Rieko trabalhou em jogos e franquias de peso da Sega, como Sonic, Alex Kidd, Altered Beast, Skies of Arcadia. Sendo notoriamente uma mulher num até então clube de meninos que era a programação, Rieko uma vez disse em uma entrevista: “Sega sempre foi uma companhia que te julgava mais por sua habilidade individual do que pelo gênero” e sobre mulheres na produção de games: “Está mudando, gradualmente e devagar, mas está mudando.” Ela foi programadora chefe do jogo que gostaria de detalhar mais, Phantasy Star.

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Phantasy Star (1986)

Desenvolvido em conjunto com Yuji Naka como produtor (do Girl’s Garden, lembra?) Phantasy Star é um clássico J-RPG lançado em 1986 para Master System. A história é centrada em Alis Landale, uma garota de 15 anos que testemunha a morte de seu irmão mais velho pela tropa do antagonista do jogo, o Rei Lassic. Jurando vingança contra o rei, nossa pequena justiceira empunha sua espada embarca em uma luta contra o patriarcado o poder do rei num futuro distópico e de temática ciberpunk, o que era razoavelmente inovador para o estilo.

Como diversos outros J-RPGs a jogabilidade é baseada em percorrer dungeons, matar inimigos para ganhar experiência e juntar um grupo de heróis. Ao contrário de diversos outros jogos do gênero, Alis, a única mulher do grupo (porém a principal), tem bastante equilíbrio nas habilidades de luta e magia e não é reservada como uma personagem exclusivamente de suporte.

phantasy_star_sms_screenshot1A equipe final conta com Myau, um animal pertencente a uma raça inteligente semelhante a um gato que voa e pode curar os aliados. Odin, o típico herói fortão que não usa magia, mas usa as armas mais pesadas e Lutz, o estereotipo de mago arrogante. O jogo escapa do clichê de algum dos personagens masculinos entrarem na história para ser um par romântico de Alis. Sendo a vontade de derrotar o Rei Lassic que mantém o grupo unido.

Protagonismo feminino na criação de jogos

Sobre a equipe criativa da Sega, é importante notar o protagonismo feminino nas equipes criativas da empresa. A Ancient, que trabalhava em conjunto com a Sega na produção de games, também é um exemplo disso. A empresa conta com Yuzo Koshiro como produtor musical de games (um deus na área, diga-se de passagem) e foi fundada por sua mãe (eu to falando sério, gente) e conta também com sua irmã designer Ayano Koshiro, a empresa portou Sonic para Master System (criando praticamente um jogo diferente e inovador ao invés de um mero port de pior qualidade) e participou do desenvolvimento de Streets of Rage 2 (o melhor da série), Beyond Oasis e Shenmue.

Estes são para mim os principais exemplos de jogos de quando os consoles caseiros ainda estavam engatinhando e contém personagens principais femininos e que, talvez não por coincidência, foram produzidos por quase o mesmo grupo de programadores. Em ordem cronológica, temos Girls Garden, Ninja Princess, Flash Gal e Phantasy Star lançados respectivamente em 1984, 1985, 1985 de novo e 1987. Em termos de comparação, a primeira aparição de Samus Aran em Metroid foi em 1986, e somente no final do jogo que descobríamos sua identidade. (algo usado um ano antes no jogo Baraduke da Nanco). Lara Croft em Tomb Raider só seria lançada em 1996.

Links para jogos com protagonistas femininas online

Existem outros diversos jogos com personagens femininas nos consoles da Sega, para não alongar muito o texto, vou apenas citar brevemente. Talvez um dia faça uma continuação desse texto e explore melhor a temática desses jogos. Se desejarem experimentar os jogos, basta clicar no link que serão direcionados para sites de emuladores online.

Jogos em 8 bits

Girls Garden (1984) – Lançado para SG 1000. Primeiro console caseiro da Sega.
https://archive.org/stream/Girls_Garden_1984_Sega_JP_en/Girls_Garden_1984_Sega_JP_en.bin?module=sg1000&scale=2

Ninja Princess (1986) – Port para SG-1000 do jogo de fliperama lançado em 1985. Run and Gun com temática ninja.
https://archive.org/stream/Ninja_Princess_1986_Sega_JP_en-ja/Ninja_Princess_1986_Sega_JP_en-ja.bin?module=sg1000&scale=2

Phantasy Star (1987) – J-RPG lançado para Master System.
https://archive.org/stream/segasms_Phantasy_Star_1987_Sega_JP/Phantasy_Star_1987_Sega_JP.bin?module=sms&scale=2

Jogos em 16 bits

UFO Senshi Youko-chan (1988) – Action Adventure lançado para fliperamas. Jogue com uma soldada extraterreste para defender cidades de invasões de monstros. Infelizmente não achei um link para esse jogo.

Arrow Flash (1990) – Mecha scrolling shooter lançado para Mega Drive. A comandante Zana Keene deve usar seu robô mecha (uma nave que se transforma em robô) deixado por seu avô e lutar contra uma invasão alienígena.
https://archive.org/details/sg_Arrow_Flash_1990_Sega_JP_en

Psychic World (1991) – Port de Psycho World do MSX de 1988 lançado para o Master System.
http://www.retrosega.com/action/psychic-world/

Valis – The Fantasm Soldier (1991) – Plataforma de side scrolling, port de Mega Drive do original lançado para computadores pessoais em 1986. A heroína, portanto o poder da espada Valis, deve destruir demônios e monstros. O game possui cutscenes interessantes para a época.
https://archive.org/details/sg_Valis_The_Fantasm_Soldier_1991_Telenet_Japan_US

Trouble Shooter (1991) – Jogo de tiro lançado para Mega Drive. Madison e Crystal são agentes especiais encarregadas de resgatar um príncipe que foi sequestrado (irônico, não?).
http://www.ssega.com/trouble-shooter

El Viento (1991) – Plataforma lançado para Mega Drive. Parte da trilogia Earnest Evans, Annet precisa usar suas magias para impedir o culto de Hatsur de despertar seu antigo Deus ao mesmo tempo que enfrenta a máfia.
http://www.ssega.com/game.php?id=582

Devil Hunter Yohko (1991) – Plataforma semelhante ao El Viento. Baseado no anime de mesmo nome.
https://archive.org/stream/sg_Mamono_Hunter_Yohko_Makai_Kara_no_Tenkosei_1991_NCS_JP/Mamono_Hunter_Yohko_Makai_Kara_no_Tenkosei_1991_NCS_JP.bin?module=genesis&scale=2

Alisia Dragoon (1991) – Plataforma lançado para Mega Drive. Alisia é acompanhada de companheiros dragões. Além dos golpes de espada, também conta com magia
https://archive.org/stream/sg_Alisia_Dragoon_1992_Game_Arts_EU_en/Alisia_Dragoon_1992_Game_Arts_EU_en.bin?module=genesis&scale=2

Leia também meu artigo sobre protagonismo feminino em jogos de Survival Horror:
https://historiadorgeek.com.br/index.php/2016/02/25/protagonistas-femininas-em-jogos-de-horror/

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